Sexto maior banco espanhol contagiado pela queda do Popular

Em 2012, a CGD equacionou a venda da sua sucursal espanhola ao Liberbank, que está agora sob pressão dos investidores, no dia seguinte ao resgate do banco Popular pelo Santander.

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Santander comprou Popular por um euro. Reuters/ALBERT GEA

Depois de as autoridades europeias terem decretado um resgate ao Banco Popular (o sexto maior banco de Espanha), com a entrega da instituição, na madrugada de quarta-feira, ao líder Banco Santander, a desconfiança dos investidores parece ter-se voltado para o Liberbank, o sétimo maior grupo.

Esta quinta-feira, as acções da holding bancária acentuaram a tendência de queda livre e desvalorizaram 14% mas, em termos acumulados, o tombo já vai em 27,1% nas últimas oito sessões. Criada no quadro da reestruturação do sector espanhol, a empresa junta a Cajastur, a Caja de Extremadura e a Caja Cantabria, com controlo da Caja Castilla-La Mancha, e valia por estes dias 800 milhões de euros em mercado.

A instituição é bem conhecida do grupo estatal português, Caixa Geral de Depósitos que, em 2012, chegou a equacionar consolidar o seu banco em Espanha com o Liberbank. O que justificou a abertura de conversas entre o governo de Madrid, o presidente da CGD, José Matos, e o gestor Rodolfo Lavrador, o responsável pelo Banco Caixa Geral (BCG).

A filial em Espanha da CGD recebeu, em dois anos, uma injecção de fundos equivalente a 45% do défice público português de 2011. A proposta de concentração chegou à CGD via Cajastur, a instituição de aforro ligada à Igreja Católica em Espanha, alvo de intervenção em 2010.

Para a comunicação social internacional, a derrapagem em bolsa do Liberbank é o resultado do contágio da queda do Popular, que abriu desconfianças sobre a natureza da fiscalização dos supervisores espanhóis e europeus ao sistema.

Durante as últimas décadas, o Popular foi considerado o banco mais rentável do mundo e um exemplo de boa gestão. E de acordo com o BCE, o Popular, em 2015 apresentava um rácio de capital de 13,1%, acima do imputado ao Santander, de 12,7%

Nos primeiros meses de 2016, o Popular foi submetido pelo Banco Central Europeu e pela Autoridade Bancária Europeia, a testes de stress que concluíram que em 2018, no cenário base (sem pressão), estaria a operar com rácios de capital de 13,45%. Já em contexto adverso o Popular ficava mal na fotografia: com rácios de capital de 7,1%.

Na mesma altura, e falhada a tentativa de fusão com o Sabadel, o Banco Popular avançou, em Maio de 2016, para um aumento de capital de 2,5 mil milhões de euros, com as acções a serem vendidas com forte desconto (46%). O BCE e o Banco de Espanha consideraram a situação normalizada, com os rácios a subirem para 16,78% (em cenário normal) e 10,34% (em cenário adverso).

Mas as dúvidas sobre a qualidade (ou falta dela) dos activos imobiliários em carteira do Banco Popular mantiveram-se (os cinco maiores espanhóis têm uma exposição ao imobiliário de mais de 100 mil milhões de euros). E nos últimos meses gerou-se uma onda de dúvidas sobre a sua solidez, o que precipitou o colapso: a imprensa espanhola refere que nas últimas semanas os clientes levantaram fundos na ordem dos 18 mil milhões de euros. O banco caiu por falta de liquidez, não de capital.

Antes de se esgotarem os colaterais para continuar a aceder aos fundos disponibilizados pelo BCE, Frankfurt acelerou o regaste e, tal como em 2015 acontecera com o Banif, a escolha recaiu sobre o suspeito do costume: o Santander, que o adquiriu por um euro. Uma solução que não surpreendeu, dado que o BCE quer restringir a concorrência no mercado europeu a trinta bancos. E o Santander é um deles.

Ao contrário do que se passou com a entrega do Banif ao Santander, no final de 2015, em que o BCE, Bruxelas e o Governo de António Costa imputaram prejuízos aos contribuintes portugueses de pelo menos 2,2 mil milhões, os espanhóis, aparentemente, ficaram livres de custos. 

Com o mercado a estimar que os investidores (dos quais cerca de 300 mil são accionistas) do Popular venham a incorrer em perdas superiores a 3,3 mil milhões, a imprensa já menciona que estão a ser preparados mega processos judiciais contra as autoridades.

E entre eles estão os que vão ser accionados pelos subscritores do aumento de capital do Popular, de Maio de 2016. Alguns já vieram alegar terem sido alvo misselling, ou seja, o produto ter-lhes-á sido vendido sem avaliar se tinham o perfil para o adquirir. E outros lembram que no prospecto da emissão, o banco garantia que o encaixe se destinava a reforçar o nível de solvência e a permitir normalizar a distribuição de dividendos em 2018.

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