Lanidor regressa às origens com investimento de 1,8 milhões

Depois de ter estado “no olho do furacão da crise” e de ter encerrado 38 lojas, a marca portuguesa vai aumentar em 40% a produção da fábrica de malhas em Valongo do Vouga e retomou a internacionalização.

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Em 2012, a Lanidor estava em sete países e o número cresceu agora para os 16 DR

A Lanidor prepara-se para investir 1,8 milhões de euros na expansão da sua fábrica de malhas em Valongo do Vouga e conseguir, assim, aumentar em 40% a capacidade de produção. Depois de uma profunda reestruturação, a empresa portuguesa fundada há 50 anos pela família Xavier, retomou a aposta na internacionalização, estreou-se pela primeira vez em lojas multimarca e prepara novas aberturas no Médio Oriente e América do Sul.

A crise financeira levou a uma travagem a fundo na estratégia da marca, obrigou ao encerramento de 38 lojas e ao despedimento de 200 trabalhadores. Filipe Amaro, administrador do grupo Lanidor, recorda que o cliente típico da empresa foi afectado directamente pelas medidas de austeridade e o primeiro a retrair gastos com a chegada da troika. “O consumo esteve no olho do furacão da crise. Foi quase dramático. Baixou para níveis de 1973 e isso é parar de consumir. Só consumir o básico. Com uma rede de lojas que estava a correr bem e uma estratégia delineada, a partir de 2012 e 2013 foi um desastre”, conta.

As lojas ficaram sem clientes. Funcionárias públicas, professoras, juízas, a “base sólida” da marca deixou de comprar ou comprou muito menos. As vendas foram “caindo, caindo”. “Houve alturas em que nos questionávamos onde iríamos parar porque cada mês era pior do que o anterior”, recorda Filipe Amaro. Os números reflectem bem a dimensão das perdas. A Lanidor chegou a ter 189 lojas em 2012, hoje tem 151.A rede de outlets da marca passou de 22 estabelecimentos para oito.

“Nestes anos, o que fizemos foi adaptarmo-nos ao mercado. As coisas foram correndo bem mas há números que não vamos atingir mais. Chegámos a facturar 60 milhões de euros (só a Lanidor), hoje baixámos cerca de 40%”, revela Filipe Amaro. O administrador do grupo – que detém ainda a Globe, a Casa Batalha e a Pablo Fuster – acredita que, apesar da turbulência, a crise obrigou a uma contenção de custos e foco no que é mais importante: a rentabilidade. As lojas instaladas em centros comerciais que não funcionaram foram encerradas e as aberturas são concentradas em locais de verdadeira procura. Filipe Amaro adianta que há um “aspecto curioso em termos do movimento de consumo”, liderado pelas cidades mais pequenas.

“As pessoas antes moviam-se com mais facilidade, quem morava no interior do Norte ia comprar ao Porto mas isso hoje não é assim. Os grandes projectos de centros comerciais eram nos centros urbanos e muitos não vingaram. Além dos grandes, onde nos mantemos, estamos a abrir lojas em Mirandela, Pombal, Cantanhede, Elvas, onde a marca tem os seus clientes, que valorizam a proximidade. Isto também é importante para o mercado online, onde é possível encontrar tudo e facilita a entrega na loja mais próxima”, detalha. A plataforma de comércio electrónico arrancou em 2006 e já tem um peso de 10% no total das vendas.

A expansão internacional passou, também, a fazer-se de outra forma. Se antes a empresa tinha parceiros de franchising que ficavam com a roupa à consignação (entregue temporariamente até que fosse vendida), hoje a compra é firme. Além disso, os franchisados escolhidos têm experiência na área do retalho. A Lanidor também passou a estar presente em lojas multimarca, nomeadamente na Bélgica, Holanda e Rússia, onde o conceito é apreciado.

“Nós não queremos investidores, mas parceiros que saibam do negócio. O parceiro tem de estar no retalho e ter a capacidade de implementar a marca”, diz Filipe Amaro.

Em 2012, a Lanidor estava em sete países e o número cresceu agora para os 16. Em Dezembro, terá duas lojas na Arábia Saudita, este mês abrirá outras duas no Egipto. Nos planos estão ainda quatro lojas no Líbano, uma na Dinamarca e duas no Equador – com um franchisado com quem a marca também irá para a Colômbia, Chile e Brasil. “Temos duas lojas no Cazaquistão e estamos a desenvolver parcerias no Azerbaijão, Geórgia e Turquia”, detalha Filipe Amaro, explicando que as localizações têm a ver com o interesse demonstrado por franchisados.

“Para muitos, nestes países, não é acessível chegar a outras marcas e, por isso, procuram marcas mais acessíveis”, diz. Nos próximos três anos, a intenção é conseguir 40% de vendas online e nos mercados externos (hoje 10% das vendas são no estrangeiro).

É nesta estratégia de recuperação que encaixa o investimento previsto na fábrica de malhas que a Lanidor tem em Valongo do Vouga. A intenção é, no primeiro semestre de 2017, concluir a expansão da unidade industrial, que passará a usar “tecnologia de ponta” e a aumentar a capacidade de produção em 40%. O investimento estimado é de 1,8 milhões de euros, comparticipados por fundos comunitários do Portugal 2020. “Queremos desenvolver competências ainda maiores, ser mais flexíveis e com capacidade de abastecimento”, afirma Filipe Amaro. A empresa recupera, assim, a tradição familiar como produtora de malhas (a génese do negócio) mas garante que não avançou por “tradição ou nostalgia”.

“É por acharmos que é algo que sabemos fazer bem. Há todo um discurso de exportar mais. Mas também é um desígnio nacional importar menos”, defende Filipe Amaro.

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