Lagarde aconselha ao Deutsche Bank acordo "rápido" com os EUA

Banco liderado por John Cryan confirma corte de mil empregos, elevando para quatro mil o total de reduções de postos de trabalho na Alemanha este ano.

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Lagarde responde às questões da imprensa no encontro de Outono, nesta quinta-feira, em Washington Reuters/JAMES LAWLER DUGGAN

No dia em que o Deutsche Bank confirmou que vai cortar mais mil postos de trabalho – elevando para quatro mil o total de cortes anunciados este ano –, a directora-geral do FMI, Christine Lagarde, deixou um conselho ao banco liderado por John Cryan.

A propósito da incerteza quanto ao impacto para o banco, e para o sistema financeiro, das indemnizações de 14 mil milhões de dólares (mais de 12 mil milhões de euros) que as autoridades norte-americanas exigiram ao Deutsche Bank pelo seu papel na crise financeira de 2008, Lagarde sublinhou que “um acordo seria bem-vindo”. O acordo traria “alguma clareza quanto ao peso que o banco vai ter de suportar” e permitiria perceber se esse montante bate certo com as suas provisões. “Quanto mais cedo, melhor”, disse a directora-geral do FMI, em declarações à Bloomberg.

Já foi noticiado que as compensações a pagar pelo banco alemão pela sua conduta na crise do subprime poderiam vir a ser reduzidas para cerca de cinco mil milhões de dólares (perto de 4800 milhões de euros), mas até à data não há qualquer confirmação de que isso possa suceder. Por isso, nos mercados as acções do Deutsche Bank têm sido castigadas e as críticas à administração liderada por Cryan – que tem em marcha um severo processo de reestruturação – sucedem-se, vindas, inclusive do próprio Governo alemão.

“Um mau acordo é sempre melhor do que um bom julgamento”, afirmou Lagarde, que falava à margem dos encontros de Outono do FMI e do Banco Mundial, em Washington, que habitualmente reúnem vários responsáveis do sector financeiro a nível mundial.

Estas declarações ocorrem num momento em que, segundo a imprensa alemã, o próprio John Cryan se terá deslocado a Washington para participar nos encontros do FMI, mas também com a missão de concluir as negociações relativas ao valor final das indemnizações a pagar aos reguladores norte-americanos 

Questionada pela Bloomberg sobre o quão preocupada está com a situação do Deutsche Bank, a directora-geral do FMI lembrou que se trata de “um banco sistémico”, muito interrelacionado com outras instituições europeias.

O que se impõe é que o Deutsche Bank olhe para a questão da rentabilidade a longo prazo num momento inesperadamente longo de baixas taxas de juro e “decida que tamanho quer ter e de que forma pode fortalecer o seu balanço”, afirmou Christine Lagarde. Mas o líder financeiro alemão está longe de ser caso único, afirmou a responsável do FMI: outros bancos europeus vão ter de “fazer o mesmo trabalho” e rever os seus modelos de negócio.

Para já, o banco alemão prossege com o plano de reduções de emprego iniciado em Junho, quando cortou três mil empregos. Com o anúncio de mais mil cortes nesta quinta-feira, o Deutsche Bank reduziu em quatro mil pessoas a sua força de trabalho na Alemanha, e admite que não vai ficar por aqui: “Estas [reduções] são parte de um total de nove mil empregos que o banco vai cortar em todo o mundo para se tornar mais competitivo”, lê-se num comunicado assinado por Karl von Rohr, o administrador com o pelouro das relações laborais.

“Estamos conscientes de que a decisão de hoje é uma mudança difícil, com impacto significativo na vida de muitos colaboradores, mas prometemos implementá-la de uma forma socialmente responsável”, afirmou Karl von Rohr.

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