Juros da dívida nacional cada vez mais perto de sete por cento

Foto
Situação torna-se cada vez mais difícil para Teixeira dos Santos Daniel Rocha/ arquivo

Os investidores não parecem dispostos a dar tréguas a Portugal. Os juros da dívida pública nacional voltaram ontem a bater um novo recorde desde a criação do euro, abeirando-se perigosamente dos sete por cento, o limite acima do qual o ministro das Finanças disse justificar-se uma intervenção do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Amanhã, o Estado realiza a última emissão de obrigações do Tesouro deste ano.

As taxas de juro dos títulos de dívida a dez anos atingiram um novo máximo de 6,9 por cento. O spread - a diferença face às obrigações alemãs, que são a referência dos investidores - fixaram um novo recorde nos 441,6 pontos-base, aumentando o prémio de risco que os investidores exigem para comprar dívida portuguesa em detrimento da alemã.

Na passada quinta-feira, a dívida pública nacional tinha já batido um recorde histórico e, desde então, continua muito perto dos sete por cento. No mês passado, Teixeira dos Santos admitiu que, se as taxas de juro das obrigações nacionais se aproximassem desse valor, Portugal poderia ter de recorrer ao FMI e ao fundo europeu de estabilização, tal como fez a Grécia. Uma hipótese que foi excluída por José Sócrates na semana passada.

O presidente do Instituto de Gestão do Crédito e da Dívida Pública (IGCP) disse ontem à agência Bloomberg que Portugal já colocou no mercado 93 por cento da dívida prevista para este ano, que era de 20 a 22 mil milhões de euros. Amanhã, realizam-se as últimas emissões de obrigações do Tesouro de 2010, com maturidades de seis e dez anos, pelo montante de 750 milhões a 1250 milhões de euros. A julgar pela recente evolução dos juros, Portugal poderá endividar-se amanhã ao preço mais elevado desde a entrada na zona euro, embora as taxas dos leilões não correspondam necessariamente às que são praticadas nos mercados, pois aqui é onde são revendidos os títulos inicialmente emitidos pelo Estado.

A par da Irlanda

Segundo o Financial Times, que dedicava ontem uma extensa reportagem a Portugal, muitos investidores consideram provável que Portugal e a Irlanda (cujo défice disparou este ano para mais de 30 por cento à custa dos resgates à banca) tenham de se juntar à Grécia na "sala de urgências", ou seja, que tenham de recorrer à intervenção conjunta do fundo europeu de estabilização e do FMI.

Nos últimos meses, os juros da dívida de Portugal e da Irlanda têm andando a par e passo e, aparentemente, a tensão em Dublin está a dar a sua contribuição para a escalada dos custos a que o Estado português se financia. As taxas de juro das obrigações irlandesas a dez anos atingiram ontem um novo recorde, ao superar a fasquia dos oito por cento, mesmo depois de o Governo ter anunciado um novo plano de austeridade.

A situação das duas economias motivou mesmo a intervenção do Banco Central Europeu (BCE) que, na semana passada, voltou a comprar dívida portuguesa e irlandesa para travar a escalada dos juros.

Segundo o Financial Times, os investidores internacionais estão a reagir a toda a luta política que se gerou antes da aprovação do Orçamento do Estado para 2011 e também aos fracos resultados da execução orçamental nos primeiros nove meses do ano. O próprio ministro das Finanças admitiu recentemente que há uma derrapagem de 1700 a 1800 milhões nas contas deste ano.

A pesar sobre a confiança dos investidores estará também o facto de os líderes europeus terem chegado a acordo para criar um mecanismo de resolução de crises da dívida que penaliza os investidores, que poderão ver-se privados do direito de receberem parte dos créditos de que são titulares.

Sugerir correcção
Comentar