Impasse não trava a economia nem o dinamismo dos negócios com Portugal

Exportações para Espanha crescem mas menos do que em 2015. Bloqueio político parece não estar a criar ondas de choque nas empresas

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Portugal é o quinto país das exportações espanholas e o seu oitavo fornecedor de bens CARLA CARVALHO TOMAS / PUBLICO

Ainda não há novo Governo em Espanha, mas há mais vida para além disso na economia espanhola. A ausência prolongada de um entendimento entre os partidos representados no Congresso pode deixar os empresários de sobreaviso, mas nem por isso parece ressentir-se na actividade económica do país, nem estar a produzir ondas de choque nas relações com o tecido empresarial português, mesmo com as exportações a apresentarem um forte abrandamento.

A quarta economia da moeda única dá sinais de resiliência; está a crescer mais do que qualquer um dos três grandes (Alemanha, França e Espanha) e bem acima da média da zona euro, com o consumo das famílias a aumentar, exportações em alta e o desemprego em queda (ainda que se mantenha num nível historicamente elevado, abrangendo 19,6% da população, a segunda taxa mais alta da União Europeia).

No segundo trimestre, Espanha cresceu 3,2% em relação ao mesmo período do ano passado (e 0,7% em cadeia), o que é uma evolução determinante para a economia portuguesa, que tem ali o principal destino das suas exportações, sendo Espanha ao mesmo tempo o maior fornecedor de bens estrangeiros ao mercado português.

As relações comerciais entre Portugal e Espanha, com uma grande interdependência, continuam serenas e a resistir à indefinição política em Madrid, avalia o presidente da Câmara de Comércio Luso-Espanhola (CCILE), Enrique Santos, notando como o entrosamento das duas economias “propicia um comércio crescente e sereno sem grandes bloqueios”.

A trajectória das exportações de bens portugueses para Espanha continua em alta, mas, com o arrefecimento da economia global e da zona euro, a um ritmo de crescimento inferior a 2015. As vendas subiram 3,8% nos primeiros sete meses do ano, superando os 7700 milhões de euros, quando no mesmo período do ano passado avançavam 12%.

Portugal é, por sua vez, o quinto país das exportações espanholas e o seu oitavo fornecedor de bens, com a Galiza, a Catalunha, Madrid, a comunidade Valenciana e a Andaluzia no topo das comunidades que mais compram a Portugal.

Entraves estruturais

O presidente da Câmara do Comércio prevê que as vendas continuem a crescer, “até porque existe em Espanha uma dinâmica de crescimento do seu comércio externo com aumentos significativos nas importações em sectores nos quais a oferta directa portuguesa tem alguma presença”, seja equipamentos para automóveis, bens de consumo ou o comércio de produtos semi-elaborados.

“A dinâmica empresarial resiste bem à ineficácia dos nossos políticos em chegarem a um acordo”, nota o empresário e presidente da CCILE, com uma longa experiência no acompanhamento das empresas ibéricas. Para Enrique Santos, “não parece muito significativo” que o impasse político tenha provocado ondas de choque nas relações comerciais, como mostram os números, “até porque o comércio entre os dois países desenvolve-se num ambiente fluído sem bloqueios ou limitações de qualquer tipo”.

É natural que um Governo em plenas funções traria “um ambiente de maior definição e estabilidade, factores muito importantes para a tomada de decisões por parte dos empresários”, mas quando se colocam dificuldades de acesso ao mercado, vinca o presidente da CCILE, elas têm mais a ver com “questões estruturais e de competitividade das próprias empresas”.

Enrique Santos não deixa, porém, de notar as consequências de o Governo de gestão de Mariano Rajoy não assumir poderes plenos. Há impactos na afectação de recursos financeiros não só do Estado, comunidades autónomas e autarquias, mas também na gestão dos fundos comunitários. “Havendo em Espanha um Governo interino, este não está em condições, decorrentes da própria lei, de tomar decisões sobre grandes projectos estruturais ou a aprovação do Orçamento do Estado”, enfatiza.

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