Galp diz que aumento de impostos vai reflectir-se no consumo de combustíveis

Mercado português cresceu pela primeira vez em dez anos, com a ajuda da descida do petróleo.

Foto
Foto: Paulo Pimenta

O agravamento do imposto sobre os combustíveis (ISP) este ano é certo (está na proposta orçamental do Governo) e o seu efeito sobre o consumo também, diz o presidente da Galp. “É da teoria económica” que, quando os preços sobem, a procura se contrai, sublinhou Carlos Gomes da Silva na conferência de imprensa de apresentação das contas anuais da petrolífera.

Este comportamento “é mitigado num contexto de petróleo baixo”, mas, se houver “um retorno dos preços da gasolina e do gasóleo”, o consumo dos portugueses voltará a retrair-se, adiantou o gestor. Questionado sobre a possibilidade de a Galp poder acomodar, sem passar para o preço final, o aumento de seis cêntimos por litro de combustível, o presidente da empresa foi taxativo: "É um imposto e qualquer imposto é repercutido nos produtos que transaccionamos."

Menor consumo implicará também menores receitas em sede de IVA. O presidente executivo da Galp mostra, assim, reservas quanto aos proveitos que o país retirará deste agravamento de preços. “Espero que quem fez as contas esteja confortável com os benefícios que vai tirar da decisão que tomou”, afirmou. "O país como um todo, tendo a achar que vai perder", acrescentou.

A acrescer à menor folga orçamental das famílias estará também o efeito habitual de deslocalização do consumo para o lado de lá das fronteiras, onde a carga fiscal é menor. “É nos grandes transportadores [que procuram abastecer-se em Espanha] que temos de apostar”, sublinhou o presidente da Galp. “A beleza de podermos estar com uma presença ibérica é que tanto os podemos abastecer em Portugal como em Espanha”, disse ainda.

Um ano de recuperação
No ano passado, o mercado português de combustíveis conseguiu acumular quatro trimestres consecutivos de crescimento (resultando num aumento do consumo de 3,5%), mas as gasolinas “continuam a ter sinais frágeis” e muito do crescimento deveu-se ao jet fuel (combustível para aviação), notou o presidente da Galp.

Porém, em 2015 houve uma combinação entre a recuperação económica e a descida de preços dos combustíveis que melhorou o orçamento das famílias e empresas, permitindo-lhes consumir mais “com os mesmos euros”, salientou Gomes da Silva. Essa combinação poderá ser irrepetível este ano.

O aumento do ISP é apenas uma parcela do agravamento dos impostos que recai sobre o sector automóvel — há ainda que juntar-lhe o ISV e o IUC —, com o qual o Governo espera obter este ano uma receita adicional de 578 milhões de euros, para um total de 3675 milhões de euros.

O agravamento do ISP — cujo encaixe estimado é de 360 milhões de euros — vai levar a um aumento de seis cêntimos no preço da gasolina e do gasóleo, mais um e dois cêntimos, respectivamente, face ao que estava no esboço orçamental inicialmente apresentado por António Costa. A este imposto haverá ainda que somar o IVA.

De acordo com a proposta orçamental que foi entregue na semana passada na Assembleia da República, este ano o Governo estima que a receita líquida de ISP atinja os 2703 milhões de euros, graças ao “reforço do crescimento da actividade económica e do agravamento da tributação”.

Recordes na produção e na refinação
O resultado líquido da Galp subiu 71,5% para em 639 milhões de euros (um valor que exclui os efeitos da oscilação dos preços do petróleo sobre as reservas da empresa), com recordes quer do lado da produção de petróleo e gás (a produção duplicou graças aos projectos em águas ultra-profundas no Brasil), quer do lado da refinação de combustíveis, com um aumento de 23% da matéria-prima processada em Sines e Matosinhos (quase 115 milhões de barris).

Assim, o lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (EBITDA) melhorou para 1564 milhões de euros (mais de metade desta resultado já é gerado fora do mercado ibérico).

Apesar da “queda drástica” do preço do petróleo, “o mercado cresceu e nós fomos acompanhando quer por via da actividade internacional, mas também tendo o aparelho refinador disponível e em funcionamento para aproveitar a melhoria das margens de refinação”, sublinhou o presidente da Galp na conferência de imprensa.

Neste período em que conseguiu produzir mais a custos menores (graças à descida do preço da matéria-prima), a Galp teve uma margem média de refinação de seis dólares por barril e conseguiu incrementar as quantidades exportadas em 37%, ainda que a queda dos preços tenha impedido um maior aumento em valor, que se manteve estável em torno dos 3,2 mil milhões de euros (7% do total nacional). A contribuir também para a melhoria do EBITDA esteve igualmente “o crescimento da comercialização de gás natural nos mercados europeus”.

Gomes da Silva voltou a frisar que os principais projectos da Galp continuam entre os “mais rentáveis e competitivos” do sector, inclusive alguns com preços do crude “abaixo dos 30, 35 dólares”. O presidente da Galp lembrou que os avanços tecnológicos têm ajudado a reduzir custos de produção, assim como “a deflação” dos custos associados a prestadores de serviços e equipamentos.

No final de 2015, a Galp (que se prepara para divulgar na quarta-feira a primeira mudança de imagem da marca desde 2002) já estava a produzir 59 mil barris/dia; mantendo-se o calendário dos projectos no Brasil, o patamar dos 80 mil barris será alcançado já em 2017.

Sugerir correcção
Ler 4 comentários