Família Mota reforça participação no capital e na gestão da construtora

Compra recente de acções próprias e de accionistas de referência envolvem investimento de 4,7 milhões de euros em pouco mais de dois meses.

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António Mota, presidente do grupo de construção, esclarece funções de Paulo Portas

Em pouco mais de dois meses, período em que as acções da construtora sofreram fortes desvalorizações, a Mota-Engil fez mais de duas dezenas de comunicações ao mercado a dar conta de compras de acções por parte de dirigentes, num investimento superior a 2,7 milhões de euros, que sobe para mais de 4,7 milhões se for considerada a aquisição de acções próprias.

Este investimento acontece numa altura em que a família também reforça a sua influência na gestão, com a entrega da presidência da Mota-Engil-África, uma das geografias estratégicas do grupo, a Manuel António Mota, filho do actual chairman da construtora, António Mota.

As recentes aquisições de acções por parte da Mota Gestão e Participações SGPS (MGP), e directamente por membros do conselho de administração reforçam ainda mais a participação da família, que controla agora 63,11% (imputáveis à FM – Sociedade de Controlo SGPS), mais seis pontos percentuais que os 57,16% que representavam em finais de Novembro. Neste período, foi realizado um aumento de capital, ainda na sequência da retirada da Mota-Engil África de bolsa, de que resultou boa parte do reforço da participação da MGP e consequentemente da FM – Sociedade de Controlo.

A MGP, de que é accionista António Manuel Queirós Vasconcelos da Mota (chairman da Construtora), e as irmãs Maria Manuela Queirós Vasconcelos Mota dos Santos, Maria Teresa Queirós Vasconcelos Mota Neves da Costa e Maria Paula Queirós Vasconcelos Mota de Meireles, realizou o maior investimento em Dezembro, no valor aproximado de 1,4 milhões de euros, de acordo com um cálculo realizado pelo PÚBLICO a partir do valor médio dos maiores negócios.

Em Janeiro, as compras, terão ascendido a perto de um milhão de euros, o que eleva o investimento total desta holding a 2,4 milhões de euros. Especialmente nas operações realizadas pela MGP verificou-se um número muito elevado de negócios em bolsa, envolvendo um pequeno número de acções, às vezes na ordem das dezenas, ou até mesmo uma acção, o que elevou os custos de aquisição.

Já em Fevereiro adquiriu mais 120 mil acções, a 1,420 euros cada, o que representou um investimento de 160 mil euros.

Nas compras realizadas por membros da família, o mais activo foi o presidente do grupo, que em Dezembro adquiriu 40 mil títulos, e em Janeiro mais 38 mil, por um valor próximo dos 128 mil euros. No final destas compras, o gestor passou a deter 5,471 milhões de acções, correspondentes a 2,3% da construtora.

Em menor quantidade, mas também no lado das compras estiveram outros membros da administração, designadamente Maria Paula Queirós Mota de Meireles (10 mil acções, sendo titular de uma participação de 1,89% do capital da construtora), e Carlos Mota dos Santos (30 mil acções) e Maria Sílvia Vasconcelos Mota (30 mil acções). O conjunto destes investimentos aproximou-se dos 100 mil euros.

A comprar muitas acções tem estado a Mota-Engil, em número que superou os 700 mil títulos em Janeiro, num investimento superior a um milhão de euros. Já no corrente mês, a Mota-Engil anunciou a compra de mais 782 mil acções, por um valor que deverá ter ficado próximo de um milhão de euros. Com estas aquisições, a empresa passou a deter cerca de 3,1 milhões de acções próprias, correspondente a 1,32% do capital.

Estas compras, numa altura de forte desvalorização do título, pretendem dar um sinal de confiança ao mercado. Aliás, a 18 de Janeiro, dia em que a negociação das acções foi suspensa, por perdas superiores a 20%, António Mota, presidente da empresa e um dos membros da família que mais acções tem comprado individualmente, disse ao Diário Económico lamentar “não ter liquidez para comprar as acções todas”.

Mas se, por um lado, a compra das acções é um sinal de confiança, por outro lado, também contribui para reduzir o capital disperso (free-float), o que prejudica o título e deixando-o ainda mais vulnerável a movimentos especulativos.

A forte desvalorização acumulada pelo título, que só este ano perde 26%, é atribuída à exposição a Angola, ao elevado endividamento e a movimentos especulativos. Actualmente há duas posições relevantes a descoberto, num total de 2,03% do capital, dos fundos Blackrock Investement Management (1,2%) e FIL Fund Limited (0,83%). Ou seja, estes fundos pediram acções emprestadas da Mota-Engil, a apostar na sua descida. Assim, a venda destes títulos e a posterior recompra a um valor inferior potencia uma mais-valia (através do short selling) ao fundo.

Para travar a desvalorização das acções, o grupo tem em curso a venda de alguns activos, com vista a reduzir o endividamento, e tem estado a diminuir o peso de África, através da aposta noutras geografias.

Ainda em relação a África, a empresa tem está a proceder a alterações orgânicas e de gestão, de que resultou a substituição de Gilberto Silveira Rodrigues da presidência executiva da Mota-Engil África e a nomeação de Manuel António da Fonseca Vasconcelos da Mota. Manuel António da Mota foi Administrador da Mota-Engil Angola, o maior mercado da região, e o mais penalizado pela crise do petróleo, tendo sido presidente executivo da Mota-Engil Central Europa.

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