Espírito empreendedor, start-ups e riqueza

Nos países amigos de empreender, uma experiência falhada é uma ‘condecoração’, porque fez ‘suar’ e ganhar experiência e sabedoria para novas aventuras.

Pode-se estimular a sensibilidade para empreender. Com qualidades adequadas, não é difícil aprender, entrar em acção e melhorar. Tem havido, entre nós, iniciativas de variadas origens e natureza, com bons resultados, ainda que pouco chamativos. Importa não desistir e continuar a dar notoriedade às ideias e pessoas que se sacrificam para criar riqueza e trabalho, depois de superarem muitas dificuldades.

Cada vez que aterro na Índia, fico entusiasmado e com vontade de transmitir o culto que lá se presta ao emprendedor. Um relatório intitulado Start-up India –  Momentous Rise of the Indian Start-up Ecosystem assegura que:

- No ano 2015, as start-up terão recolhido na Índia fundos da ordem de 5.000 milhões de dólares, para iniciativas tecnológicas, de alimentação, de e-commerce, de táxis, de logística local, da área financeira, de cuidados de saúde, etc.

- Só o SoftBank-India aplicou 1.000 milhões de dólares em menos de um ano, nas start ups da Índia. É impressionante, até porque o banco é japonês!

- A Índia é uma das cinco comunidades mundiais de start-ups mais amplas, com mais de 4200, das quais 1200 tecnológicas.

- No último ano, houve um aumento de mais de 100% de investidores activos e mais de 125% de capital aplicado.

- É a nação de promotores de start-ups mais jovens, com 72% com menos de 35 anos.

- O número de incubadoras e aceleradores aumentou em 40% no ano 2014.

- As start-up recentes criaram 80.000 postos de trabalho; parece um valor irrisório ao comparar com os 60.000 licenciados que a TCS vai recrutar este ano; no entanto, é o começo e há esperanças de que as novas start-up criem 10 milhões de postos de trabalho, bem remunerados, num curto espaço de tempo.

- O e-commerce viu surgirem empresas que cresceram com muita rapidez. Duas, muito valorizadas na bolsa: a Flipkart, fundada em 2007, e a Snapdeal, de 2010; estão a revolucionar o comércio, com alto índice de vendas; uma delas criou uma plataforma digital onde inúmeros produtores de artigos os vendem, sendo cada venda avaliada e pontuada pelo cliente; também o cliente o é. Isto eleva a qualidade do produto e da operação, pois ninguém quer ficar mal na foto, e todos querem vender cada vez mais.

- Além da Uber, existe a Olá, totalmente Indiana, já a operar em países vizinhos, para serviço de táxis. Esta recebeu o prémio da start-up de êxito. Os preços das corridas são calculados com regras claras e pagos com meios electrónicos. Muitos aperfeiçoamentos do Uber vieram das ideias da Índia e expandiram-se pelo mundo.

- Em Sillicon Valley, ainda hoje 50% das start-ups são de jovens de origem indiana; os aperfeiçoamentos de base tecnológica, as Apps, são frequentes e cobiçadas pelas empresas norte-americanas famosas. Talvez mais fáceis, por serem um avanço na linha de desenvolvimento anterior, que trazem vantagens ao utilizador. Há grande esforço para pôr a India na vanguarda da liga de países empreendedores. Quer-se replicar as condições ‘mais amigas’, como: criar muitas mais incubadoras, com base nas experiências bem sucedidas; facilidade na criação de novas empresas; isenção fiscal no período inicial; facilidade de registo da propriedade intelectual; pouca burocracia para o aumento do capital; facilidade na obtenção de crédito da banca: etc. Ajudaria que os business angels e os venture capitalists pudessem ser mais ousados, com horizontes mais amplos. A revitalização dos laços academia/investigação, com partilha de lucros, são outros elementos importantes.

Em países menos amigos de empreender, a legislação tende a crucificar o fracassado sobre a sua ideia falhada: encerrar o negócio leva uma eternidade. Nos países amigos de empreender, uma experiência falhada é uma ‘condecoração’, porque fez ‘suar’ e ganhar experiência e sabedoria para novas aventuras.

Quer-se impulsionar start-ups no sector manufactureiro, alinhado com o make in India, na indústria têxtil, de artigos de pele, joalharia e pedras preciosas; na saúde e fármacos... É interessante também, como acontece entre nós, ver start-ups e inovações na agro-indústria, novas variedades mais produtivas e resistentes; agregadores de produtores de um certo tipo, que remuneram bem e vendem/exportam produtos de alta qualidade.

Professor da AESE e Dirigente da AAPI

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