Espanha vai cumprir acordo ferroviário com Portugal 14 anos depois

Electrificação da linha que liga Vilar Formoso a Salamanca vai permitir comboios a 200 Km/hora. CP diz que isso vai mudar o paradigma do serviço internacional que hoje existe entre Lisboa e Madrid e Lisboa-Hendaye.

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A cimeira ibérica de 2003, com Durão Barroso como primeiro-ministro, deixou vários acordos por cumprir. NFS Nuno Ferreira Santo

Sete de Novembro de 2003. Durão Barroso e José Maria Aznar reúnem-se na Figueira da Foz. A cimeira ibérica é realizada num clima de euforia com projectos de obras públicas anunciados com pompa e circunstância. Entre eles destaca-se o da alta velocidade ferroviária que iria ligar Portugal com Espanha através de uma linha Aveiro-Salamanca, outra de Lisboa a Badajoz e ainda outra de Beja a Faro e Huelva.

Pelo meio, mais discreto, um compromisso espanhol de electrificar os cerca de 100 quilómetros de via férrea entre Salamanca e Vilar Formoso. Oito anos antes, Portugal já electrificara a linha da Beira Alta até à fronteira e esperava agora que nuestros hermanos fizessem a sua parte dando continuidade a esse investimento.

Nada sobrou dos riscos coloridos nos mapas que assinalavam linhas do TGV. A alta velocidade não avançou. Mas não se esperava que um investimento modesto na linha convencional, que potenciava a principal linha férrea que liga Portugal à Europa, ficasse igualmente esquecido.

Catorze anos depois, a poucos dias da cimeira ibérica de Vila Real, o Adif (Administrador de Infraestruturas Ferroviárias) anunciou que vai lançar um concurso público para electrificar a linha entre Salamanca e a fronteira de Fuentes de Oñoro (ao lado de Vilar Formoso).

O investimento total é de 95 milhões de euros e inclui uma empreitada de colocação de postes e catenária no valor de 45 milhões, a que acresce a construção de subestações (de distribuição de energia eléctrica) e reformulação das estações ferroviárias. Ainda é só o concurso público, que deverá demorar até ao fim do ano. Depois haverá 18 meses de obras, pelo que, na melhor das hipóteses, só em 2019 estará cumprido o acordo de 2003.

Este investimento vai contribuir para reduzir os tempos de viagem dos comboios entre Portugal e Espanha e favorecer o incremento do tráfego internacional de mercadorias. E melhora a interoperabilidade entre os dois lados da fronteira: hoje os comboios da CP e da Medway (antiga CP Carga) que chegam a Vilar Formoso têm de mudar de locomotiva, substituindo-se a máquina eléctrica portuguesa por outra espanhola, a diesel, que rebocará a composição em Espanha.

A electrificação vai acabar com estas operações, eliminando, na prática, a própria fronteira ferroviária.

Contactada pelo PÚBLICO, a CP diz que este investimento “contribuirá naturalmente para o aumento da eficiência dos actuais modelos de exploração e criará condições para alterar o actual paradigma do serviço internacional realizado entre Lisboa e Madrid e Lisboa-Hendaye”. A mesma fonte oficial diz que “as ligações a Salamanca poderão vir a ocorrer de forma frequente e inseridas na oferta regular da CP”.

Ressalva, no entanto, que essa situação está dependente da evolução do plano de aquisição de material circulante e por isso a empresa não se compromete, para já, com datas para essa oferta.

Douro e Algarve são as novidades da cimeira

Se as conclusões do Fórum Parlamentar Luso-Espanhol são um prenúncio das conclusões da própria cimeira, então Costa e Rajoy deverão vir a público anunciar o interesse dos dois Estados em estudar a viabilidade da reabertura da linha do Douro para ligar o Norte de Portugal a Espanha e de construírem uma linha Faro – Huelva.

Estas serão as duas novidades ferroviárias da cimeira, já acordadas entre os deputados dos dois países no Fórum Parlamentar.

O documento conjunto refere ainda o óbvio: a modernização da linha do Minho, já em curso até Viana do Castelo, deverá prosseguir até Valença e Vigo. E também deverá dar-se um impulso à ligação Lisboa – Madrid, que, no entanto, continua ainda no papel entre Évora e Badajoz.

Menos óbvia é a construção de uma “conexão ferroviária Aveiro – Salamanca”, que em 2003 era para ser um TGV, mas que agora é apresentada como uma linha fundamental para escoar mercadorias dos portos de Leixões e de Aveiro. Uma primeira versão deste projecto, estimado em 675 milhões de euros, apresentada já por este governo, foi chumbada por Bruxelas.

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