Empresário angolano Jaime Freitas entra na banca em Portugal

Dono da Cosal adquiriu 3,25% do BNI Europa, com sede em Lisboa. Accionista do banco da CGD em Angola passou também a deter 50% do grupo de retalho automóvel MCoutinho.

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Carla Rosado

O empresário Jaime Freitas, dono de um dos principais grupos privados angolanos, a Cosal, adquiriu uma fatia de 3,25% do Banco de Negócios Internacional Europa (BNI Europa). Este banco, de capitais angolanos, abriu as portas em Lisboa em 2014 e, até agora, replicava a estrutura accionista da instituição angolana.

No final do ano passado, o BNI, que detinha 99,9% do banco que opera no mercado português, abriu o capital a novos investidores e baixou a sua posição para 92,9%, com a entrada directa de Jaime Freitas. Além deste empresário, o banco tem um outro novo accionista, Elizabeth da Graça Isidoro (referenciada como uma investidora angolana, com ligações a Jaime Freitas).

Meses antes de receber novos accionistas, em Abril do ano passado, o BNI Europa fez um aumento de capital de 9,25 milhões de euros para cobrir prejuízos (a operação ainda não é lucrativa, tendo em 2015 o resultado líquido sido negativo em 1,5 milhões). Este foi totalmente subscrito pela casa-mãe. Actualmente, o capital social do BNI Europa é de 34,25 milhões de euros.

Para este ano, um dos objectivos da instituição financeira é alargar a base de clientes e operações. O mercado-alvo são clientes residentes e não residentes, apostando nos segmentos de particulares e das pequenas e médias empresas (PME).

Mário Palhares, ex-presidente do Banco Africano de Investimentos (BAI) e antigo vice-presidente do Banco Nacional de Angola é o principal accionista do BNI, com 28,3%, e é também o seu presidente.  Além de ser parceiro do Montepio no mercado angolano, por via do Finibanco Angola, pertence também ao grupo de investidores que adquiriu o Efisa ao Estado português (entre outros nomes está também o de Miguel Relvas). 

Quanto a Jaime Freitas, este já estava presente no sector financeiro em Angola, onde é parceiro da Caixa Geral de Depósitos. O banco público detém 51% do Banco Caixa Geral de Angola, cabendo depois 25% à Sonangol, 12% a Jaime Freitas e outros 12% a António Mosquito (dono da Soares da Costa e accionista do grupo que detém o Diário de Notícias, Jornal de Notícias e TSF).

Expansão automóvel
A aquisição de uma fatia do BNI Europa surge em paralelo com outros investimentos de Jaime Freitas em Portugal. Este mês de Março, o empresário assegurou 50% do capital da MCoutinho, empresa de retalho automóvel. A notícia, adiantada pelo Expresso, foi confirmada ao PÚBLICO por fonte oficial da MCoutinho, que opera em diversos distritos do país, com destaque para as zonas norte e centro. Em 2013, o grupo representava 16 marcas automóveis, tinha 46 pontos de venda, 64 oficinas e 664 trabalhadores.

A entrada do dono da Cosal, líder do mercado automóvel em Angola (entre as marcas que representa incluem-se a Hyundai e a Mercedes), ocorreu “em simultâneo” com um aumento de capital do grupo (de 17 milhões de euros para 30 milhões). De acordo com a MCoutinho, presidida por António Coutinho, a entrada de Jaime Freitas no grupo “é a evolução de uma parceria já com três anos entre os dois grupos empresariais”. Em Angola, a MCoutinho estava presente através da Multiauto (da qual detém 50%).

Segundo o grupo português, a Cosal entrou também na Multiauto, ficando com os outros 50%, o que, diz, “é uma enorme mais-valia” por via do “relevante conhecimento do mercado angolano, na expressiva implantação regional e na forte capacidade logística como elementos”. “Ao fim de dez anos de arranque deste projecto, estes factores são determinantes no desenvolvimento que projectamos para este negócio que se pretende afirmar como uma empresa de referência no mercado angolano”, refere a MCoutinho.

Em 2013 e 2014, o grupo português, que opera num sector que tem sido bastante afectado pela crise económica, registou um prejuízo anual da ordem dos dois milhões de euros. De acordo com a MCoutinho, foi essa realidade que, por sua vez, acabou por motivar o aumento de capital agora concretizado, “suportando o grupo no reforço dos seus capitais próprios e na melhoria da sua autonomia financeira”. “Após quatro anos de condições muito difíceis do mercado automóvel nacional”, a MCoutinho diz estar agora “em condições de criar um novo ciclo de sustentação e crescimento do seu negócio”. 

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