Turismo pesa mais na economia do mar do que a pesca

Mais de 35% do Valor Acrescentado Bruto das actividades ligadas ao mar são garantidos pelo turismo e recreio. Portugal é o primeiro país europeu a ter uma Conta Satélite do Mar, um projecto do INE

Foto
Actividades de recreio e turismo são as mais representativas entre as empresas do sector do mar Nelson Garrido

As actividades de recreio e turismo são as que mais contribuem para a riqueza produzida pela chamada economia do mar, pesando mais do que a pesca, os serviços marítimos, os portos ou os transportes. Estes são alguns dos dados revelados nesta sexta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística, naquela que é a primeira Conta Satélite do Mar (CSM) a ser publicada, não só em Portugal, como na União Europeia.

As actividades de recreio e turismo, não só congregam 73,8% das 60 mil entidades que operam na economia do mar, como representam 35,5% do Valor Acrescentado Bruto (VAB) do sector, superando largamente a pesca e aquicultura (com 25,7% do VAB), os serviços marítimos (com 15,8%) ou os Portos, transportes e Logística (com 14,5% do VAB).

As actividades económicas relacionadas com o mar significaram 3,1% de toda a riqueza nacional produzida no ano de 2013. E 60 mil empresas deste sector representavam 3,6% do emprego gerado na economia portuguesa no período de 2010-2013.

A Conta Satélite do Mar (CSM) é um instrumento estatístico que dá mais detalhes e informações do que os que estão normalmente disponíveis nas contas nacionais, e que permite perceber, por exemplo, que a chamada economia azul já pesa mais na produção de riqueza nacional do que sectores de actividade como as telecomunicações (que pesa 1,9%), a agricultura (1,5%), ou as indústrias de madeira e cortiça (0,6%). E que em termos de emprego tem uma dimensão superior à da industria do vestuário (2,3%) e o fabrico de automóveis e seus componentes (0,8%).

A CSM foi elaborada ao abrigo de um protocolo de cooperação assinado com a Direcção-Geral de Política do Mar, e, confirmou o PÚBLICO junto de fonte autorizada do INE, tornou-se no primeiro instrumento do género na Europa. “Embora existam estudos noutros países sobre a relevância económica do mar, não foram elaborados no contexto de uma Conta Satélite (conta completa de produção e quadro de equilíbrio de recursos e utilizações) como a presente conta para Portugal”, refere a mesma fonte do INE. Este projecto visa reorganizar a informação estatística para melhor avaliar a dimensão e a importância da economia do mar e servir de apoio às decisões de política pública para o sector

Para a chamada economia do mar no âmbito da CSM contribuem oito grandes agrupamentos de actividades já consolidadas (pesca e aquicultura; recursos marinhos não vivos; portos, transportes e logística; recreio, desporto cultura e turismo; construção e reparação naval; equipamento marítimo; infra-estruturas e obras marítimas; e serviços marítimos) e outras emergentes como os novos usos e recursos do mar.

Duplicar o peso da economia do mar no PIB nacional “no curto a médio prazo” foi um dos objectivos assumidos pela ministra do Mar, Ana Paula Vitorino. A governante apontou a meta dos 5% como um valor justo e consentâneo com o potencial que a chamada economia azul pode ter no desenvolvimento económico do país. E as margens de crescimento nas chamadas actividades emergentes da economia do mar são as mais promissoras, como frisou no Encontro Internacional dos Oceanos Oceans Meeting 2016, um evento que terminou esta sexta-feira em Lisboa, promovido pelo Ministério do Mar.  

"As actividades emergentes da economia do mar são geradores de alto valor acrescentado, que por si só podem formar uma nova fileira tecnológica inovadora da robótica e automação submarinas, alavancando outras indústrias", disse, citada pela Lusa, depois de referir que as novas tecnologias poderão criar uma nova fileira de negócio, o que poderá originar novas empresas ou a reconversão de existentes.

Onde estaremos em 2030?

A divulgação da primeira Conta satélite do Mar aconteceu, também, no mesmo dia em que, no âmbito do Encontro Internacional dos Oceanos, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) apresentou pela primeira vez  na Europa, o relatório sobre a Economia dos Oceanos, onde se faz uma análise prospectiva sobre o peso que ela terá na riqueza mundial em 2030.

“O oceano é a nova fronteira da economia. Encerra em si a promessa de uma riqueza imensa em recursos e de um enorme potencial para impulsionar o crescimento económico, o emprego a inovação”, lê-se no relatório, que tem como um dos autores Barrie Stevens, um dos oradores convidados do Oceans Meeting.

O relatório da OCDE aponta para números muitos aproximados da análise portuguesa: em 2010 a produção global da economia dos oceanos terá rondado os 1,5 biliões de dólares (1,34 biliões de euros), significando cerca de 2,5% de toda a riqueza produzida no globo e garantindo 31 milhões de postos de trabalho em 2010. E as projecções apontam para que a economia dos oceanos possa mais do que duplicar o seu contributo para o valor acrescentado mundial, ultrapassando os três biliões de dólares e empregar 40 milhões de trabalhadores.

O INE usou este mesmo relatório para mostrar que o peso do VAB do “Mar” no Produto Interno Bruto português está acima daquele que é registado em França (2,8%) e até na Irlanda (0,7%). E abaixo do registado na Holanda (3,3%) e no Reino Unido (4,2%). As cautelas pedidas pelo INE reportam-se ao facto de não ter existir harmonização nas metodologias e nos períodos temporais analisados. Esse é um dos problemas apontados pela OCDE: a necessidade de melhorar a base estatística a nível nacional e internacional.

Sugerir correcção
Ler 1 comentários