E agora Zé Maria?

Está a fazer 10 anos que o perdi o meu melhor amigo. Foi meu professor e mentor. Foi ele que me encaminhou, foi ele que me ensinou. Tudo! Ou pelo menos quase tudo, para não parecer tão injusto.

Foi com ele que me desenvolvi. Foi com que ele que aprendi a ser professor, a ser designer, a ter sentido crítico.

Muitos se lembrarão do bom gigante de cabelo branco, meio longo e desgrenhado que circulava lá pela universidade, outros nem por isso.

Ao longo destes 10 anos, principalmente no último par, não houve dia que eu não reclamasse pelo seu conselho, pela sua sabedoria.

Este meu amigo, que tinha o apelido igual ao meu, um sábio com sentido de humor dizia tanta vez em tom de brincadeira, “devíamos ser nós a tomar conta disto, a tomar conta do ensino, a tomar conta do design.”

E se acontecer? E quando acontecer?

"Mais vale morrer de pé, do que viver toda a vida de joelhos!" dizia ele, copiando Zapata. O problema reside nas profissões e nas posições que as pessoas ocupam nas profissões. E as profissões têm o dom de determinar em que tipo de pessoas nos transformamos.

Olhando para o presente e em especial para (o meu) futuro, o mote deverá ser, sempre, sobrepor a intenção à profissão. Sobrepor a pessoa à posição.

"Isto das profissões tem muito que se lhe diga. Mais do que tipos de profissões ele há as posições das profissões e as posições dentro delas. E há ainda as profissões de posição.

'Eu queria ter uma boa posição!' Eis a grande aspiração nacional. Todos partem com a ideia fixa da posição. Depois, com o correr da vida e após umas quantas desilusões, arranja-se a posição oferecida. A que nos dão. E fica-se muito obrigado como se o emprego não fosse uma troca - toma lá, dá cá ou deposita lá uns trocos. Dentro dela vamos tentando ganhar posição. Há os que são mais rápidos e as que dormem com o chefe em contraste com os que apesar de horizontais não tomam posição nem dormem com o chefe. Há também os que são incómodos para o chefe porque questionam a posição e ainda por cima não dormem com ele. ?Mais vale ficar por aqui, sem a posição muito definida do que ficar de pé ou ter que dormir com o chefe. Por fim mais vale não morrer e se possível não ter que dormir com o chefe. Também a cena de ficar de joelhos não está com nada. Quanto ao resto a posição não interessa. São apenas variações de um mesmo processo com um mesmo objectivo." (escrito por Zé Maria Tavares da Rosa em Junho de 2005)

O autor escreve em desacordo ortográfico.

carlos.rosa@universidadeeuropeia.pt

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