A Sibs avançou com uma proposta para comprar a Redunicre, empresa detida pela Unicre e dona da maior rede de aceitação de cartões bancários do país, com 80 mil terminais de pagamento em 51 mil estabelecimentos comerciais (dados de 2015).

As duas empresas já partilham accionistas: a Unicre é detida por doze bancos que também são proprietários da Sibs, que tem no total 25 instituições bancárias na sua estrutura accionista.

A operação de concentração já chegou à Autoridade da Concorrência. Questionada pelo PÚBLICO, a Sibs não adiantou o valor do negócio. Sobre o prazo previsto para a conclusão da aquisição, fonte da empresa liderada por Madalena Cascais Tomé diz apenas que não é possível adiantar datas já que, "atendendo à natureza das actividades em causa", a operação "está sujeita a negociações e às autorizações que são obrigatórias".

Ao pagar com cartão bancário, o cliente desencadeia uma vasta e invisível operação, onde entram vários intervenientes. Para ter pagamentos com cartão o comerciante tem de contratar um serviço de aceitação (acquiring). É esta instituição financeira (denominada de acquirer, como é o caso da Redunicre) que garante ao comerciante que vai receber o dinheiro da compra num determinado prazo.

Em seguida, o banco emissor do cartão (por exemplo, a Caixa Geral de Depósitos ou o BCP) faz a transferência do dinheiro, assegurando que o consumidor tem saldo ou crédito disponível para poder pagar a compra. Há, ainda, mais dois intervenientes: os donos das marcas dos cartões (as chamadas schemes) – Visa, Mastercard ou Multibanco, por exemplo – e os processadores, como a Sibs, que garantem que o cartão usado corresponde ao utilizador.

Além de processar estas transacções, a Sibs gere o Multibanco e faz a gestão de todas as caixas automáticas e terminais de pagamento. Agora, ao comprar a Redunicre passa a poder vender aos comerciantes serviços de aceitação de cartões bancário da sua própria marca Multibanco e de outros sistemas de pagamentos internacionais, área que a Sibs considera ser complementar às “suas actividades na cadeia de valor do mercado de soluções de pagamento”.

Apreensão entre os comerciantes

Caso o regulador autorize a fusão, a Sibs passá a liderar este negócio e a disputar o mercado com outras três empresas: a netcaixa (da Caixa Geral de Depósitos), a Netpay (Banco BIC) e a CA & Companhia (Crédito Agrícola).

Em 2015, as compras com cartões na rede Redunicre totalizaram 16,6 mil milhões de euros. A facturação global cresceu quase 10% face a 2014 – uma evolução influenciada pelo aumento das compras de turistas estrangeiros, do consumo privado e de “novos volumes de negócio captados”, indica a empresa no seu relatório e contas. 

É com as comissões cobradas aos comerciantes pelo serviço prestado que a Redunicre faz dinheiro. E o valor das taxas cobradas pelas empresas que operam neste mercado chegou mesmo a motivar uma queixa na Autoridade da Concorrência por parte das associações que representam o comércio, a hotelaria ou a restauração – problema entretanto resolvido no ano passado com a imposição de limites ao valor das comissões por parte de Bruxelas.

Instado a comentar a fusão, João Vieira Lopes, presidente da Confederação do Comércio e Serviços de Portugal, disse ao PÚBLICO que “uma concentração num só operador de todos estes poderes nunca é positiva”. “Na prática temos um mercado em que os centros decisão estão concentrados”, alerta. 

Para a Sibs, o negócio surge “no contexto das evoluções regulatórias, tecnológicas e de mercado que se manifestam a nível europeu, onde os principais operadores já operam na área de acquiring”. Em comunicado, Madalena Cascais Tomé  refere que "este movimento visa alargar a oferta da Sibs e potenciar uma maior capacidade de expansão, para que a Sibs possa continuar a afirmar a sua presença no mercado europeu e restantes mercados onde está presente “.

A concretizar-se esta será a segunda aquisição feita pela empresa no espaço de dois meses. No início de Agosto comprou a Cartosis, que produz e personaliza cartões de plástico (desde cartões refeições a cartões de fidelização), passando a gerir "um volume anual de personalização de mais de 15 milhões de cartões de empresas públicas e privadas" da banca, aos transportes.

Sem a Redunicre, a Unicre fica apenas com o negócio de emissão de cartões e de crédito, onde está com a marca Unibanco. Fundada em 1974, reportou no ano passado resultados antes de impostos de 54,8 milhões de euros.