Domínio espanhol terá impacto nos clientes do BPI?

No imediato não, mas, no futuro, podem verificar-se mudanças importantes, umas boas e outras eventualmente más.

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Presença portuguesa esbate-se e espanhola ganha destaque Miguel manso

O Caixabank garante que “o BPI continuará a ser um banco português”, mas isso não impede alguma apreensão de clientes e funcionários sentem após a confirmação do domínio espanhol  (84,51%) da instituição. Com uma forte presença junto dos clientes particulares e das pequenas e médias empresas, algumas das dúvidas, como segurança dos depósitos e das condições dos empréstimos, são exageradas, mas outras, como o aumento de comissões ou o “aperto” de critérios de avaliação do risco dos empréstimos podem ou não confirmar-se.

Uma das maiores preocupações dos clientes sempre que se registam mudanças na estrutura accionista dos bancos, o da segurança dos depósitos, é infundada. Os depósitos continuam a estar protegidos pelo Fundo de Garantia dos Depósitos nacional, e mesmo que o banco passasse a ser uma sucursal da instituição espanhola, as regras são idênticas nos dois países.

No domínio das poupanças, a integração do BPI num banco de maior dimensão, até pode trazer alguma surpresa positiva. Actualmente o BPI não paga juros nos depósitos a prazo até 12 meses e, tradicionalmente, não tem apostado numa política agressiva (taxas mais elevadas) de captação de poupanças.

Uma primeira melhoria do rating foi decidida pela agência Fitch, um dia depois do anúncio do resultado da oferta pública de aquisição (OPA) que garantiu um contro de 84,51% ao Caixabank e outras decisões semelhantes deverão seguir-se. A nova avaliação da Fitch, em dois níveis, para BBB-, o que retira o BPI do nível especulativo ou de “lixo” e deixando-o apenas a um nível do Caixabank.

Para além dos depósitos, a segunda maior preocupação dos particulares e das empresas é em relação aos empréstimos, nomeadamente em relação à alteração de condições contratadas.

Nos particulares, e no crédito à habitação em particular, as condições não podem ser alteradas sem o consentimento dos clientes. Neste domínio, os clientes não estão protegidos ao nível da política de comissões, que apesar de alguma uniformização face aos seus mais directos concorrente, ainda não é das mais agressivas.

No domínio do crédito ao consumo, com prazos mais curtos, e muitos sujeitos a renovação ou não pelo banco, será preciso esperar alguns meses para ver se há uma alteração em termos de taxas de juro exigidas e outros custos. O mesmo se aplica a novos empréstimos à habitação.

Nos empréstimos às empresas, os potenciais riscos prendem-se com a maior ou menor abertura para renovação de empréstimos ou concessão de novos, e ainda a maior ou menor aperto das condições de avaliação, determinantes para a decisão dos pedidos, mas também das taxas de juro exigidas.

PÚBLICO -
Aumentar

A forte redução de trabalhadores, assumidas no prospecto da OPA, é uma das situações receadas, porque se quebra uma relação de conhecimento, de proximidade entre banco e clientes. Neste domínio não há dúvidas de que algo está a mudar, desde logo pelas alterações na administração, mas outras mudanças se poderão seguir. O prospecto destacava que, nos primeiros nove meses de 2016, a rentabilidade “ficou em 4,0%, contra a média dos bancos domésticos espanhóis, que ficou em 7,5%”. E apesar de garantir que não haverá despedimentos colectivos e que o número avançado nos prospecto ser apenas indicativo, o certo é que a redução de trabalhadores assumida no prospecto ascende a 900.

Acções do BPI afundam

Como se esperava, o desempenho das poucas acções do BPI que ficaram dispersas em bolsa não é positivo. Afastada a possibilidade de OPA potestativa, porque não foi atingido a percentagem de 90%, os títulos do banco, que acabou de ser expulso do principal índice bolsista nacional, chegou esta quinta-feira a perder 25%. A queda final acabou por ser mais suave, em 12%, para 0,92 euros, abaixo de 1,132 euros pagos pelo Caixabank.

Com cerca de 8% do capital nas mãos da Allianz, o que se justificará pelos acordos de distribuição dos seguros, o capital disperso em bolsa fica reduzido a 7%, uma percentagem demasiado baixa, que não é benéfica para os pequenos accionistas.

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