Discussão sobre fim dos estímulos no BCE só no Outono

Draghi fez tudo para retirar dos mercados a ideia de que o fim do crédito fácil está iminente, garantindo que a última coisa que o BCE quer é colocar a retoma em risco.

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Vítor Constâncio e Mario Draghi em mais uma conferência de imprensa em Frankfurt Reuters/RALPH ORLOWSKI

Esqueçam o que foi dito em Sintra. A inflação na zona euro ainda “não está onde deveria estar” e, por isso, o início da discussão dentro do Banco Central Europeu (BCE) sobre quando é que se irá começar a retirar as medidas de estímulo à economia apenas deverá acontecer lá para o Outono, em data ainda por determinar.

No final de Junho, na sua intervenção inicial no Fórum do BCE realizado em Sintra, Mario Draghi tinha colocado os mercados em polvorosa com declarações que, então, foram lidas por vários investidores e analistas como o início do fim da política expansionista do BCE, registando-se uma apreciação do euro e uma subida das taxas de juro da dívida soberana na periferia.

Desde esse momento, os responsáveis do banco central têm-se esforçado para acalmar os ânimos, assegurando que a interpretação dos mercados foi exagerada. E esta quinta-feira, na primeira conferência de imprensa a seguir às suas declarações de Sintra, o presidente do BCE optou pelo discurso mais cauteloso que lhe seria possível para passar uma mensagem: o recuo nas medidas expansionistas não é para já, ainda nada está programado pelos responsáveis do banco central e a grande preocupação continua a ser garantir que existem condições para a taxa de inflação subir para os níveis que são o objectivo do BCE.

“A inflação não está onde queremos que esteja e onde deve estar. Temos confiança que gradualmente se vá aproximando, mas ainda não está lá”, afirmou Mario Draghi na conferência de imprensa que se seguiu a mais uma reunião do conselho de governadores.

Para tentar colocar a inflação a um nível “abaixo mas próximo de 2%”, como exige o seu mandato de estabilidade de preços, o BCE tem não só mantido as sua taxa de juro de refinanciamento dos bancos a zero, como tem realizado compras mensais de activos (principalmente dívida pública) de 60 mil milhões de euros.

Mario Draghi deixou claro esta quinta-feira que ainda tem grandes hesitações em começar a voltar atrás nestas medidas, nomeadamente pelo efeito imediato que, em caso de reacção negativa dos mercados, tal poderia ter nas condições de acesso ao crédito na economia. “Finalmente estamos a registar uma recuperação robusta, em que apenas temos de esperar que os salários e os preços sigam o seu rumo até ao seu objectivo. A última coisa que o conselho de governadores deseja é um aperto indesejado nas condições financeiras, que possa ameaçar este processo de retoma”, afirmou.

Para reduzir ainda mais quaisquer especulações em relação ao início do recuo, Mario Draghi garantiu que os membros do conselho de governadores ainda nem começaram a discutir a forma e a data como uma retirada de estímulos poderia ser feita. Essa discussão, disse o presidente do banco, acontecerá apenas “no Outono”. Isso parece excluir a hipótese de tal acontecer na próxima reunião, que está agendada para 7 de Setembro (ainda no Verão), mas para não gerar expectativas nos mercados, Draghi não deu, “de forma deliberada”, mais detalhes sobre a data.

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