De visita a Lisboa, Krugman conclui que a economia europeia está “diabética”

Economista norte-americano diz que a economia portuguesa está melhor do que há dois anos, mas defende que a situação ainda é "terrível".

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Economista norte-americano está pessimista em relação à evolução da economia europeia Miguel Manso

Visitar a Europa e ver o estado da sua economia é a melhor forma de um americano voltar a sentir-se bem em relação ao seu próprio país, afirma Paul Krugman, num artigo de opinião escrito em Lisboa para o The New York Times, em que é muito crítico sobre a forma como os líderes políticos europeus estão a reagir à “doença crónica” que têm na sua economia.

De visita a Lisboa para participar numa conferência, o economista norte-americano usa o exemplo de Portugal para explicar aquilo que pensa sobre a economia europeia. Primeiro fala daquilo que tem sido visto como as boas notícias: “As coisas estão terríveis aqui em Portugal, mas não tão terríveis como estavam há um par de anos. E a mesma coisa pode ser dita em relação à economia europeia como um todo”.

Depois, num artigo publicado esta segunda-feira e intitulado “A economia diabética”, assinala aquilo que vê como más notícias: “Oito anos depois daquilo que era suposto ser uma crise financeira temporária, a fraqueza económica continua sem um fim à vista. E isso é algo que deveria preocupar toda a gente, na Europa e noutros locais”.

O prémio Nobel destaca o facto de, ao contrário dos Estados Unidos cujo PIB já é 10% superior ao pré-crise e onde o desemprego está na casa dos 5%, na Europa só agora se regressou ao nível anterior à crise e a taxa de desemprego continua muito elevada. Algo que Krugman faz questão de salientar acontece de forma clara na sua “actual localização”, isto é, Portugal.

Esta dificuldade revelada pela Europa em recuperar mais rapidamente deve-se “à doença crónica que é a persistente fraqueza do consumo, o que dá à economia deste continente uma tendência deflacionária persistente, mesmo quando, como agora, se passa por meses relativamente bons”.

Neste cenário, Paul Krugman elogia a política de taxas de juro muito baixas (e mesmo negativas) do Banco Central Europeu e refuta os argumentos dos principais críticos de Mario Draghi, comparando a política monetária seguida às injecções de insulina que são necessárias para controlar as diabetes. “Essas injecções não são parte de uma vida normal e podem ter alguns efeitos negativos, mas são necessárias para gerir os sintomas de um doença crónica”, que no caso da Europa é o nível de consumo persistentemente baixo.

O economista centra assim as suas críticas nos governos do centro da Europa por não aumentarem as suas despesas públicas, algo que poderia ter efeitos positivos também na periferia. “Os argumentos para mais despesa pública, especialmente na Alemanha – mas também em França, que está em muito melhor forma orçamental do que os seus próprios líderes parecem reconhecer – são avassaladores”, afirma.

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