De Portugal e da Índia para “o ano académico mais intensivo” da vida deles

Diana Caimoto e Sumanth Nagaraj são colegas de turma. Ela é portuguesa, ele indiano. Ambos engenheiros, colocaram a carreira em pausa e embarcaram num ano intensivo de formação pós-executiva em gestão e liderança. Descobrem, por exemplo, que o candidato a líder por vezes tem de aceitar ser liderado

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Diana Caimoto e Sumanth Nagaraj, diferentes nacionalidades, diferentes perspectivas Nelson Garrido

Algumas semanas depois de terem viajado para os Estados Unidos da América, Diana Caimoto e Sumanth Nagarak vieram com o ânimo reforçado e com novas perspectivas do que se faz lá fora. “A escala lá é muito maior, não poderia existir algo semelhante em Portugal”, discutem. “Estamos a falar de biliões de números”, argumentam. Ela é engenheira civil de 35 anos e portuguesa. Ele é engenheiro electrónico de 27 anos e indiano. Frequentam uma das duas turmas da formação executiva do Magellan MBA da Porto Business School (PBS), que tem uma parceria com a Universidade Carnegie Mellon na Pensilvânia.

O que levou Diana Caimoto a candidatar-se ao MBA não foi exactamente o mesmo que fez Sumanth Nagaraj rumar, de malas e bagagens, até ao Porto. O percurso académico da engenheira civil começou na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP). Terminada a licenciatura, a experiência profissional levou-a até a uma empresa de Vila Nova de Gaia e depois a um ano de trabalho em Angola. A pausa na carreira tornou-se propícia: juntou o feedback que obteve de outros colegas relativamente ao MBA à proximidade geográfica da escola de negócios do Porto da sua área de residência.

“No meu caso, é muito mais complexo do que isso”, contrapõe Sumanth, entre risos. Uns valentes quilómetros e países separam a Índia, mais propriamente a cidade de Bangalore, do Porto. Depois de licenciar-se em 2011 em engenharia electrónica, o actual aluno da PBS adquiriu a maioria da sua experiência profissional no Japão, a trabalhar para marcas de automóveis como a Nissan ou a Mitsubishi. Terminados alguns projectos nesta área decidiu fazer um intervalo. “Preferi tirar um tempo e ter mais conhecimentos em gestão e saber como liderar projectos”, afirma.

Foi entre folhas de jornais como o Financial Times que o indiano de 27 anos foi reduzindo as opções de escolha entre a variedade de cursos de formação executiva. Queria entrar no mercado europeu e o Porto, a dada altura, pareceu encaixar nos objectivos. “Eu senti-me bem ao investir financeiramente em mim e na minha vida. O retorno que o programa oferecia foi o factor decisivo”, explica. Após viver numa cidade agitada como Tóquio, a Invicta permitia-lhe viver “de forma relaxada” e ao seu próprio ritmo.

Após algumas edições do Magellan MBA, o perfil encaixa-se num protótipo onde os homens continuam a ser a maioria - cerca de 70% são alunos do sexo masculino e os restantes 30% do sexo feminino. Ainda de acordo com dados divulgados no website oficial da Porto Business School, a média de idade dos estudantes está nos 29,5 anos, com uma experiência profissional de seis a sete anos.

Durante 15 meses, o programa é descrito como “um ano intensivo”, em que entre trabalhos de grupo, seminários e outras actividades, os alunos são desafiados a explorar áreas que não dominam e a forçar os seus limites. “Eu tenho duas filhas pequenas, com dois e quatro anos. Portanto, este ano, elas também estão a fazer um MBA”, diz Diana. Os horários das aulas preenchem os sete dias da semana - o Magellan MBA tem o regime a tempo inteiro - deixando pouca hipótese para os alunos combinarem a vida académica com a profissão. A maioria faz uma pausa temporária nas carreiras a favor da formação.

“Uma das coisas que estava à espera no curso, é que sendo de curta duração e tendo uma grande quantidade de temas, tinha de ser exigente”, admite Sumanth. O período inicial da formação foi decisivo para colocar o ritmo de cada aluno a par da entrega dos trabalhos. “Depois de um ou dois meses, já aprendemos a gerir melhor o tempo e o stress”, reforça o aluno. O ideal é não pensar no MBA como “uma missão impossível”. “Nós podemos fazer tudo, mas não podemos ver-nos como super-heróis”, conclui Diana Caimoto.

A oportunidade de falhar uma, duas, três vezes

A percepção dos erros e das fragilidades é uma das aprendizagens que os alunos podem retirar do Magellan MBA. Quem o diz é Diana e Sumanth. “Estamos num ambiente de escola, o sítio ideal para trabalharmos as nossas competências. Olho para esta formação como um laboratório e uma oportunidade para me desenvolver pessoal e profissionalmente”, aponta a aluna. É neste intervalo de carreira que se pressupõe a hipótese de cometer lapsos, muitas vezes pouco recomendáveis ou aceites no mundo dos negócios, no mundo real. “Aqui pode-se cometer erros e não ter consequências. Caso alguma coisa corresse mal ‘lá fora’, a probabilidade de perder o emprego era grande”, diz Sumanth.

Nas profissões, dos fracassos não rezam as histórias, ou pelo menos, não imediatamente. Na viagem dos alunos do MBA aos Estados Unidos da América, foram confrontados com o percurso de algumas pessoas que falharam muitas vezes nos seus projectos. “Têm a oportunidade de continuar e falhar novamente”, lembra Sumanth. “Na Índia, isto não seria possível”, acrescenta. Diana concorda: “Em Portugal, seria vergonhoso, mas lá não. Mostram confiança e seguem caminho”. O que seria uma “história feia” para contar em Portugal ou na Índia revelou-se afinal um percalço no “sonho americano”, tão natural e compreensível aos olhos de todos.

Foi da relativização dos erros que os dois alunos aprenderam a assumir o que tinham de menos bom no seu desempenho pessoal e profissional. Para Diana, as competências pessoais (soft skills) foram uma das grandes surpresas que obteve durante o programa. “É como uma jornada interna, percebe-se o que se tem de fazer para trabalhar melhor com os outros”. Desde a chamada de atenção do colega de grupo, “porque se está a fazer alguma coisa mal”, até às opiniões dadas, a compreensão entre todos tornou-se o elemento essencial em cada actividade do MBA.

A liderança nunca foi uma tarefa fácil e para Sumanth, as actividades de grupo foram imprescindíveis para perceber “onde era mais fraco”. A combinação de várias pessoas com backgrounds diferentes, profissionais e culturais, revelou-se um desafio acrescido para trabalhos que tinham de ter resultados práticos e concretos. “Todos nos sentimos o Cristiano Ronaldo na nossa área”, diz o aluno indiano. “Mas às vezes, somos líderes, outras vezes, temos de ser liderados”. O ser ensinado por outros, que tal como ele estão no mesmo local para aprenderem, foi uma das maiores lições que retira da formação executiva. 

Ser de Portugal ou da Índia nunca foi impeditivo de chegar a consensos entre colegas de turma. O carácter internacional que o Magellan MBA ganha a cada edição tem permitido a convivência entre alunos e professores de diferentes nacionalidades.

Diferentes nacionalidades, diferentes perspectivas

“Já tivemos aulas com o outro MBA, que é maioritariamente composto por alunos portugueses, e acho que o ambiente é completamente diferente”, clarifica Diana. Para a aluna, nunca houve “problemas em gerir as diferenças” entre colegas de diferentes países. Mas acredita que há competências distintas em cada grupo.

“Nós temos quatro rapazes e uma rapariga da Índia e a maneira como eles estruturam a linha de pensamento é completamente diferente da minha. Absorvem tudo, captam toda a informação e são capazes de falar durante vários minutos sem interrupções e de uma forma incrível”, elogia a aluna portuguesa.

Já Sumanth Nagaraj concorda e admite: “Somos treinados para ser assim”. Quando olha para os colegas portugueses, vê neles uma característica de propriedade face aos trabalhos e às competências que devem ter. “Quando fazem um trabalho, fazem-no do ponto A ao ponto B, e tentam fazer da melhor maneira possível”, explica.

Acredita que a segmentação das tarefas e dos talentos seja um factor cultural em Portugal, enquanto na Índia a tendência é a dispersão por várias áreas. “Eu venho de um país com mil milhões de pessoas e parece que temos de potenciar as nossas competências em tudo”, reconhece. Em Portugal, “focas-te numa coisa e és muito bom nisso”.

Para já, o MBA tem permitido abrir novos horizontes aos dois alunos. Diana Caimoto acredita que sairá mais flexível para fazer tarefas diferentes daquelas a que estava inicialmente habituada. “Quando se trabalha numa empresa, não se tem a opção ou a oportunidade para mudar muito facilmente. Somos segmentados e rotulados. Hoje, olho para o mercado de trabalho e penso que posso trabalhar em vários sectores”, afirma.

Já Sumanth acredita que, no final do programa, estará “consciente daquilo em que é verdadeiramente bom”. E já se deixou surpreender algumas vezes: “Eu que pensava que o marketing era uma coisa para passear e afinal há muitos números nisto”, ri-se. De acordo com a Porto Business School, cerca de 90% dos alunos empregaram-se após seis meses de terem concluído o programa. E com números relativos ao ano lectivo de 2014/15, 50% dos estudantes mudaram de profissão.

Como todos os estudantes, não sabem exactamente o que o futuro lhes reserva na vida profissional. No entanto, já podem confirmar o sentimento de desafio cumprido a cada entrega de trabalho ou apresentação. “Eu devia estar lá neste momento”, diz Diana, enquanto pensa nos colegas reunidos para terminar mais uma actividade. Já Sumanth ainda não sabe responder à questão se ficará pelo Porto ou não. “Os meus pais também gostariam de saber. Mas não há nada que me faça querer sair daqui”, conclui.

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