Consórcio angolano pode vir a reforçar capital na Coba

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Miguel Manso/ arquivo

Criado em 1962, o grupo Coba (Consultores para Obras, Barragens e Planeamento) começou desde logo a sua internacionalização, estando hoje em 30 países, alguns dos quais através de empresas locais.

Referência no mercado nacional, a empresa, diz o seu presidente e accionista, Ricardo Oliveira, teve várias ofertas de aquisições, mas nunca pensaram em vender. Agora, no entanto, a Coba optou por alienar metade do capital a um consórcio angolano, Primagest, liderado pela Sonangol. Para o empresário, este passo justifica-se, entre outros aspectos, pela possibilidade de crescer no futuro e manter os postos de trabalho, ao mesmo tempo que assegura a cultura da empresa. Do consórcio faz também parte Lopo do Nascimento, ex-primeiro-ministro de Angola e que já era parceiro do grupo neste país. Foi, aliás, a partir dele que nasceu o negócio. Lopo do Nascimento mostrou interesse em ficar com parte da Coba, e a Coba propôs que este se unisse a mais investidores para ficarem com um montante relevante da empresa. "[Lopo do Nascimento] tem um influência regional muito grande, em Angola, Moçambique e África do Sul, e perguntámos se não conseguia juntar um grupo que potenciasse as capacidades da Coba nesta região", conta Ricardo Oliveira. Entre os novos accionistas há também um banco local que Ricardo Oliveira diz desconhecer qual é, tal como quem são os restantes participantes do novo grupo de accionistas. Sobre Portugal, mercado onde o negócio está em abrandamento e onde está ligado a grandes projectos como as auto-estradas e a alta velocidade (troço Poceirão-Caia), diz que é "indispensável" fazer um novo aeroporto. Com um volume de negócios de 31 milhões de euros em 2010, dos quais 40 por cento vieram do estrangeiro, a empresa abre agora um novo ciclo de vida.

Qual é afinal a composição da nova estrutura accionista?

Este é um negócio evolutivo. Neste momento, [os parceiros angolanos] ficam com uma posição que corresponde a 50 por cento do valor da empresa. Os colaboradores e os quadros da empresa ficam com a restante parcela.


E qual a posição do conselho de administração?

Dos 70 colaboradores e quadros da Coba, sete administradores, que integram o conselho de administração, tinham dois terços do capital. A operação visa reforçar a presença da Coba em três regiões estratégicas: Portugal, África Austral e Brasil, e isto para, entre outras coisas, garantir a sua sustentabilidade e a estabilidade do emprego dos colaboradores. E também para garantir o desenvolvimento no mercado angolano. Apesar de estarmos em Angola há muitos anos, esta situação vai criar condições mais interessantes, mais solicitações.


É fundamental para crescer em Angola?

Não sei se é fundamental. Sei é que, existindo, vai necessariamente proporcionar um crescimento. A Coba, com estes novos sócios, vai ter um parceiro que é uma ferramenta adicional para atingir as metas estabelecidas.


Prevêem a entrada de brasileiros no capital?

Não. Cedemos há uns anos uma posição na Coba Brasil a um accionista brasileiro, que nada tem a ver com este negócio. Agora, pode acontecer que com o desenvolvimento da nossa actividade daqui a um, dois, três anos, cheguemos à conclusão que a nossa estrutura de lá não tem dimensão suficiente para certas matérias. O mercado brasileiro é muito específico e com o desenvolvimento desta década ficará até mais difícil desenvolver a actividade. Se calhar a solução será comprarmos uma grande empresa, local, que nos pode custar uns milhões de euros, e que nós não temos. E aí entra a tal diferença do que se tem passado até agora. Até aqui, com os nossos euros de bolso, fomos capazes de fazer pequenos passos. Mas para uma operação desta dimensão não teríamos capacidade de o fazer, algo que muda a partir de agora.


Mas isso terá implicações?

Sim, terá consequências. Terá de haver um aumento de capital muito grande que nós não poderemos acompanhar. Mas isso são coisas de futuro...


Então admite que os vossos parceiros angolanos possam vir a controlar a Coba?

Claro.


Isso depende de quê?

Depende das negociações que vamos tendo. Até agora têm sido fluidas e agradáveis e, portanto, essa situação não está neste momento tipificada, mas é perfeitamente normal que venha a acontecer. O que nós pretendemos preservar é que se garanta continuidade à gestão da Coba. Quem vai continuar a gerir a empresa, nos próximos anos, são os seus actuais administradores.


Tem a ver com o know-how?

Não, tem a ver com os acordos que demonstram que as partes estão, em conjunto e calmamente, a fazer crescer a Coba sem descaracterizar a empresa. Nós temos uma grande preocupação em relação à imagem da Coba no mercado português. E temos estado a fazer diligências pessoais para explicar a um conjunto de empresas e entidades, com quem temos relacionamento, toda a operação.


Como é que consegue fazê-lo, se não consegue explicar quem são individualmente os accionistas que vão entrar?

Já referi que o líder do consórcio é a Sonangol, e o líder da Sonangol é o engenheiro Manuel Vicente. Ao ser o líder tem a maioria do capital. Outra pessoa fundamental para nós é o doutor Lopo do Nascimento, que é parte desse consórcio e que já é nosso parceiro em Angola. Há também um banco angolano, e não preciso saber mais. Se houver mais alguém, será alguém que tem uma posição minoritária.


Qual é o valor do negócio?

Isso não direi. O negócio correspondeu sensivelmente a 50 por cento do valor da empresa.


Mas passa pela entrada de dinheiro fresco para os accionistas?

Sim. Cada um de nós receberá um determinado valor correspondente às acções que tem. E as mais-valias serão grandes. Como nunca pensámos numa evolução que resultasse neste cenário, mantivemos as acções da Coba por um valor irrisório, fixado desde 1988 em cinco euros. O capital social é, desde então, de três milhões de euros.


Com a perspectiva de expansão, haverá maiores necessidades de pessoal?

Temos na Coba mãe 250 funcionários há vários anos e pretendemos mantê-los. E temos no total do grupo cerca de 400 pessoas. Na Coba Angola há actualmente cerca de 12 pessoas, mas pode de um momento para o outro passar para 20. E podemos tomar posições noutras empresas portuguesas, com o mesmo formato, e que em virtude de dificuldades internas progressivas estejam disponíveis para tomarmos uma posição.


Mas já acordaram que o novo parceiro vai reforçar o capital da Coba?

O acordo, as conversas podem conduzir a um aumento progressivo desse grupo no capital da empresa. Mas não está nada definido. É previsível que aconteça. Se surgir a tal oportunidade no Brasil de investir 10 milhões para comprar uma empresa...


Não teme a deslocalização do centro de decisão da Coba para Angola?

Não.


Mas tem isso garantido?

Não. O que garantimos agora é que o actual conselho de administração passa todo para a nova empresa. E o regime de gestão da nova empresa vai ser diferente.


Haverá um conselho geral que incorporará os novos accionistas?

Exactamente. Hoje há um conselho de administração (CA) e uma assembleia geral. Há uns anos foi criada uma estrutura a que nós chamamos conselho executivo, que são cinco dos sete membros do conselho de administração, mas que não consta dos estatutos. E esses cinco executivos têm um presidente, que é o vice-presidente do CA, o doutor Vítor Carneiro. A partir de agora os sete membros do CA vão passar a estar no novo conselho geral e os cinco executivos manter-se-ão no conselho de administração executivo (CAE), como se irá chamar no modelo dualista.


Vai continuar a presidir à Coba?

Fui convidado para a presidência do conselho geral e de supervisão, que será composto por pessoas nomeadas por ambos os accionistas. Mas ainda não está definido quem vai liderar - ou serei eu, ou o engenheiro Manuel Vicente, ou haverá alternância. O presidente do futuro CAE será o doutor Vítor Carneiro, que manterá a sua equipa, acrescida de mais duas pessoas.


Quando é que espera efectivar o acordo?

A breve prazo, pois há timings a ser cumpridos. O pré-acordo foi assinado há cerca de dez dias, mas acho que o contrato final, com os acordos parassociais, poderá ser formalizado dentro de três meses.


Qual o potencial de crescimento de Angola nas áreas onde opera?

Enorme. O imobiliário é impressionante. A Luanda Sul é uma cidade de luxo, é espectacular. A 20 quilómetros a sul de Luanda, tem colégios, hospitais, tem todas as infra-estruturas. No centro de Luanda aparecem por todo o lado de prédios em construção. E estamos a trabalhar na construção de estradas, de redes de abastecimento de águas, de produção de energia hidroeléctrica, e de todas as outras formas de energia. Angola está carente de todas estas coisas. O plano de desenvolvimento de Angola entre 2011 e 2016 é muito ambicioso.


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