Chineses da Fosun já são o maior accionista do BCP

Grupo que controla a Fidelidade e Luz Saúde pagou 175 milhões por 16,7% do banco. Operação facilita devolução de ajuda do Estado.

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A Fosun é, agora, o maior accionista do banco liderado por Nuno Amado Reuters/RAFAEL MARCHANTE

O Banco Comercial Português (BCP) deu este fim-de-semana um primeiro passo no sentido de uma clarificação accionista, com o grupo chinês Fosun a anunciar que já comprou 16,7% da instituição liderada por Nuno Amado.

O acordo de entrada da Fosun (dona da Fidelidade e da Luz Saúde) no BCP ficou fechado na sexta-feira e foi formalizado no âmbito de um aumento de capital, reservado, de 175 milhões de euros, que teve lugar este fim-de-semana. Este valor, por sua vez, será importante para ajudar o banco a reembolsar os 750 milhões de euros que ainda deve ao Estado pelo apoio à recapitalização. Nos próximos três anos a Fosun não poderá vender as suas acções.

A operação, comunicada este domingo de manhã, abre caminho à estabilidade accionista, numa perspectiva de longo prazo, e foi articulada com a administração liderada por António Monteiro, onde estão sentados os restantes investidores de referência. O investimento chinês, aprovado por consenso, traduz-se ainda numa “aliança” financeira sino-angolana, com epicentro no segundo maior banco português (e o maior de capitais privados), onde a Sonangol detinha, até aqui, 17,84% do capital (o aumento de capital da Fosun fez diluir a posição). E que pretende aumentar para garantir maior equilíbrio na relação de forças internas, dado que a Fosun já manifestou intenção de assumir até 30% do BCP.

Foi, aliás, neste contexto que a presidente da petrolífera estatal angolana, Isabel dos Santos (que a título pessoal tem 21% do BPI e controla o banco BIC), requereu junto das autoridades de supervisão, nomeadamente do BCE, autorização para a Sonangol subir o investimento para mais de 20% do BCP. Um pedido ainda sem resposta.

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Só quando o BCE se pronunciar é que os accionistas do banco chefiado por Nuno Amado serão chamados a votar uma das condições exigidas pela Fosun para se manter em jogo: a subida da blindagem dos direitos de voto dos actuais 20% para 30%. E se esta parecia uma condição para entrar no capital do banco, agora só será clarificada quase no final do ano.

Para votar a subida do limite, o BCP vai adiar pela segunda vez a assembleia geral que ocorreu a 9 de Novembro. Primeiro, foi suspensa para continuar esta segunda-feira, e, agora, para acautelar as demoras do BCE, a reunião magna foi empurrada para19 de Dezembro.   

Recorde-se que a entrada da Fosun no BCP foi antecipada da aprovação pela administração do BCP da fusão das acções [75 acções em um título] o que teve como efeito a subida da cotação, que na passada sexta-feira fechou a 1,249 euros.

Antes do reagrupamento dos títulos, que só se tornou possível depois de, em Setembro, o governo de António Costa ter permitido alterar o Código do Mercado de Valores Mobiliários, cada acção do BCP transaccionava-se a um cêntimo, o que impede alguns investidores institucionais de investirem, e introduz maior volatilidade. 

A 30 de Junho de 2016, na lista dos maiores accionistas do BCP estavam, para além da Sonangol, o banco espanhol Sabadell (5,07%), a EDP (2,56%, controlada pela China Three Gorges), e a Interoceânico (2,05%, ligada a interesses angolanos). A maioria do capital está agora disperso por pequenos investidores. Mas se a Fosun e a Sonangol continuarem a investir, terão em conjunto mais de 50% da instituição.

Ao assumir-se como maior accionista do banco, a Fosun terá dois membros no conselho de administração e na comissão executiva, sendo um deles nomeado vice-presidente. Depois, ficou estabelecido que, quando o Fosun assegurar pelo menos 23% do BCP, contará com três administradores não executivos, um dos quais será designado vice-presidente do conselho de administração e outro proposto como membro do comité de remunerações.

Em comunicado enviado às redacções, a Fosun, que chegou a estar na corrida ao Novo Banco, diz que a entrada no capital do BCP é apenas o início “de uma jornada com vista a dotar o banco de condições que permitam tirar partido do seu enorme potencial”. Depois, salienta que este investimento é um “passo importante” para a consolidação da sua estratégia de internacionalização. Além disso, no comunicado que o BCP enviou ao regulador do mercado de capitais, afirma-se que o acordo entre as duas entidades prevê o estabelecimento “de acordos de longo prazo de distribuição de seguros fora de Portugal”. Com Luís Villalobos e Vítor Costa 

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