CGD: Vítor Martins diz não ter sentido pressões do Governo de Sócrates para sair do banco

O economista garantiu que Teixeira dos Santos não lhe forneceu qualquer informação sobre os motivos para a sua substituição.

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NUno Ferreira Santos

O antigo administrador-geral da Caixa Geral de Depósitos (CGD) Vítor Martins garantiu esta terça-feira que não sentiu pressão do Governo Sócrates para deixar o cargo e disse que ficou surpreendido quando Teixeira dos Santos lhe comunicou que ia ser substituído.

"Em nenhum momento eu fui abordado no sentido de ser exercida sobre mim uma pressão por parte do Governo. O meu diálogo com o Governo onde estava Campos e Cunha [como ministro das Finanças] foi sempre com ele. Em qualquer momento houve qualquer referência que eu pudesse intuir qualquer pressão sobre a CGD", afirmou o gestor.

Vítor Martins, que falava aos deputados no âmbito da sua audição na comissão parlamentar de inquérito à gestão do banco público, admitiu que "nesse período houve rumores e notícias" que davam nota de uma eventual intenção do Governo de alterar a administração da CGD.

"Não vou dizer que foi tema que nunca percebi. Mas nunca do Governo recebi, nem sinalizado, de forma indirecta, qualquer sinal nesse sentido", reforçou.

Há cerca de duas semanas, Campos e Cunha revelou no Parlamento ter sido pressionado pelo então primeiro-ministro José Sócrates para substituir a administração da CGD, tendo-se recusado a fazê-lo.

Na semana passada, o seu sucessor, Fernando Teixeira dos Santos, afastou a hipótese de ter sido pressionado pelo primeiro-ministro de então e assumiu a decisão de substituir a equipa de gestão do banco estatal.

"Eu e o professor Campos e Cunha não nos tratamos por tu. O único momento em que o professor Campos e Cunha comentou directamente comigo as pressões que terá tido para me afastar da CGD foi num telefonema em que me disse que a carta que tinha entregado com o pedido de demissão tinha referência às pressões que teria tido para alterar a gestão da CGD", afirmou Vítor Martins nesta terça-feira.

E acrescentou: "O processo de saída foi muito simples. O senhor ministro das Finanças chamou-me às Finanças, no dia 1 de Agosto de 2005. E essa reunião com Teixeira dos Santos dificilmente esqueço. Demorou uns minutos breves e foi-me anunciada a decisão do Governo de me demitir da administração da CGD".

Segundo o responsável, Teixeira dos Santos não lhe forneceu qualquer informação sobre os motivos que o levavam a substitui-lo, pelo que questionou o então ministro das Finanças sobre essas razões.

"A resposta que me foi dada foi vaga. E a única referência que guardo foi relativa à minha posição sobre o fundo de pensões [que tinha sido transferido para a Caixa Geral de Aposentações]. Essa reunião foi dos momentos mais difíceis que eu tive na minha vida e por isso a guardo no meu espírito", vincou.

De resto, Vítor Martins garantiu que não estava à espera de que o encontro com Teixeira dos Santos tivesse como propósito o seu afastamento da liderança do banco público.

"Fui para o Ministério das Finanças nessa manhã a 1 de Agosto absolutamente convicto que íamos falar sobre a situação da CGD. Até preparei um dossier, que nem cheguei a abrir. Foi esse dossier que passei ao Dr. Carlos Santos Ferreira na reunião que tivemos na CGD. O mesmo dossier que não entreguei ao ministro das Finanças, entreguei a Santos Ferreira [o seu sucessor na liderança da CGD]", revelou o economista.

Perante a insistência dos deputados, Vítor Martins voltou a dizer que nunca sentiu "falta de confiança do Governo [Sócrates] no Conselho de Administração da CGD".

"Sinceramente, não sei explicar [as razões para o afastamento da liderança da CGD]", rematou.

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