Carnes vermelhas e processadas

“Já não ligo ao que dizem”: os riscos da carne aos olhos dos consumidores.

Confusão. Esta palavra poderá definir o que os consumidores frequentemente sentem ao ouvir notícias sobre riscos alimentares. Exemplo é o recente alerta da Organização Mundial de Saúde associando o consumo de carne vermelha ao risco de cancro e colocando a carne processada na mesma categoria dos riscos de fumar. Fumar e carne? É naturalmente confuso.

Segundo a Agência Europeia de Segurança Alimentar comunicar riscos tem um objetivo: ajudar as pessoas a tomar decisões informadas [i]. A partir daqui pode pensar-se que o papel dos comunicadores termina quando divulgam informação. Estando os consumidores informados, comer ou não carne, é uma decisão sua, informada. Mas estarão os consumidores a ser “ajudados”? E se essa informação for vista como confusa, complexa e até contraditória? Pode suscitar argumentos como: "Num dia dizem que se pode comer, noutro já não. Qualquer dia não podemos comer nada. Já não ligo ao que dizem”.

Isto deixa os especialistas confusos. Porque perante um risco para a sua vida, os consumidores não mudam? E porque é que alguns nem sequer querem ouvir falar? Porque o simples facto de pensar nisso, causa desconforto. Se gosta de comer carne, porque haveria de querer ouvir notícias sobre o mal que a carne faz? Parece (i)lógico. De facto a investigação [ii] a este respeito, mostra que os que mais evitam ouvir ou ler recomendações semelhantes às da OMS, são os que na verdade têm atitudes mais favoráveis ao consumo de carne.

A solução? Conhecer melhor o consumidor: porque evita a informação, a vê como complexa, confusa ou contraditória. Adaptar os alertas à sua forma de pensar, à sua linguagem, para que a informação seja efetivamente compreendida [iii]. Mas também importa comunicar de uma forma clara: Fumar faz mal à saúde. Comer carnes processadas faz mal à saúde. Assuntos diferentes, a mesma conclusão: o excesso faz mal à saúde. Comer alimentos de forma variada e moderada, torna mais provável uma vida saudável. Moderada, implica comer no máximo 50gr de carne processada ou 100gr de carne vermelha por dia [iv]. E explicar quanto são 50 ou 100gr será certamente outro desafio de peso para os comunicadores.

ISPA - Instituto Universitário, William James Center for Research

 

[i] European Food Safety Authority (2012). When Food Is Cooking Up a Storm – Proven Recipes for Risk Communications. Parma, Italy: EFSA. Disponível em: www.efsa.europa.eu/en/corporate/pub/riskcommguidelines

[ii] Gaspar, R., Luís, S., Seibt, B., Lima, M.L., Marcu, A., Rutsaert, P., Fletcher, D., Verbeke, D. & Barnett, J. (2015). Consumers’ avoidance of information on red meat risks: effects on attitudes and perceived knowledge. Journal of Risk Research. doi: 10.1080/13669877.2014.1003318

[iii] Rutsaert, P., Barnett, J., Gaspar, R., Marcu, A., Pieniak, Z., Seibt, B., Lima, M.L., Fletcher, D. & Verbeke, W. (2015). Beyond information seeking: Consumers’ online deliberation about the risks and benefits of red meat. Food Quality and Preference, 39, 191-201. doi: 10.1016/j.foodqual.2014.07.011

[iv] www.who.int/features/qa/cancer-red-meat/en

Sugerir correcção
Ler 1 comentários