“Brexit” não tirou negócio à indústria metalúrgica portuguesa

Exportações para o Reino Unido aumentaram perto de 20% entre Janeiro e Outubro.

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Há 15 mil empresas do sector metalúrgico e metalomecânico em Portugal Daniel Rocha

A relevância das ilhas britânicas para o sector da metalurgia e da metalomecânica está a aumentar, sem que a anunciada saída do Reino Unido do mercado único europeu pareça, por enquanto, ter trazido algum tipo de impacto ao sector. “Às vezes parece que antes pelo contrário”, resumiu, ao PÚBLICO, Rafael Campos Pereira, Vice-Presidente da Associação dos Industriais Metalúrgicos Metalomecânicos e Afins de Portugal (AIMMAP).

As contas de 2016 ainda estão por fechar, mas depois de 2015 ter sido o melhor ano de sempre em termos de exportações (com o sector a ultrapassar os 14,5 mil milhões de euros, o que corresponde a 31% do valor total das exportações da indústria transformadora nacional), as perspectivas são animadoras. O mercado europeu continua a garantir os quatro principais destinos de exportação, sendo o Reino Unido o que ocupa o quarto lugar, com 8% das vendas do sector ao exterior, atrás de Espanha, Alemanha e França. As exportações para o Reino Unido ultrapassaram os 1,17 milhões de euros em 2015, e os dados que já existem de 2016, e que se referem aos meses de Janeiro a Outubro, mostram que a taxa de crescimento está perto dos 20%. Já para a Alemanha estão a descer (apesar de se manter como o mercado mais relevante). As exportações para França e Espanha continuam com taxas de crescimento, mas mais modestas: respectivamente, 9% e 6,6%.

Nas ilhas britânicas, onde a AIMMAP, organizou duas missões empresariais o ano passado, o sector tem trabalhado na área da construção de infra-estruturas e residencial e noutras áreas industriais, ligadas às energias renováveis e à engenharia de processos. Rafael Campos Pereira recorda a criação da marca “Metal Portugal” no início de 2015 como um importante contributo para a divulgação e promoção do metal português em Portugal e no estrangeiro.

O que começa a surgir como evidente é, porém, mais do que em Inglaterra ou outro país que compõe o Reino Unido, é na Irlanda que as apostas têm surtido maior resultado. Elísio Azevedo, presidente da Openplus, uma PME de Estarreja que participou numa dessas missões explica bem as diferenças: encontraram “mais abertura, mais disponibilidade, mais interesse”. “Apesar de ser um mercado potencial muito mais pequeno, a verdade é que tem sido muito mais interessante na Irlanda do que na Grã-Bretanha. Fizemos o mesmo tipo de abordagem aos dois mercados e os resultados tem sido muito diferentes”, admitiu ao PÚBLICO o empresário. As abordagens foram feitas tanto através do estabelecimento de parcerias locais como através de auscultação a clientes directos. “Os irlandeses mostram-se muito mais abertos, sem formalismos, têm muito boa imagem de Portugal e dos portugueses. A mesma abordagem noutras cidades britânicas não teve o mesmo resultado”, afirmou. 

A Openplus, que tem uma capacidade anual de produção instalada de 480 mil metros quadrados de painéis híbridos (fotovoltaicos e térmicos) por ano, e emprega 27 trabalhadores, fez o primeiro estudo ao mercado britânico em 2014, os primeiros contactos em 2015, e as primeiras vendas em 2016 - tanto com o fabrico de painéis captação de energia de marca própria produtos com a marca dos clientes. “O nosso objectivo é consolidar a presença em 2017 e ter uma perspectiva de crescimento anual da facturação de um milhão de euros nos próximos cinco anos”, adiantou. 

O sector metalúrgico e metalomecânico é composto por cerca de 15.000 empresas e 200.000 trabalhadores. De acordo com a AIMMAP há ainda duas empresas portuguesas em processo de análise de aquisição de empresas irlandesas na área da serralharia, “sobretudo para fazer face à participação em concursos públicos de infra-estruturas, uma prioridade recente para o governo irlandês”.

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