Ulrich: "Se alguma coisa que o BPI não tem neste momento é fragilidade"
Fernando Ulrich garante que está alinhado com o CaixaBank no que respeita à compra do Novo Banco.
Nos últimos nove meses o BPI revelou lucros de 182,9 milhões de euros, mais 21,2% face a idêntico período do ano passado, com as operações africanas, angolana e moçambicana a colaborarem com 125,4 milhões de euros.
“Se alguma coisa que o BPI não tem neste momento é uma fragilidade”, garantiu esta quarta-feira Fernando Ulrich durante a conferência de imprensa de divulgação das contas do terceiro trimestre. O CEO recusa “totalmente” a tese de que a instituição vai ficar mais frágil depois de vender à Unitel o domínio da gestão e do capital do Banco de Fomento de Angola (BFA), que contribuiu com 121,9 milhões para os resultados positivos do banco. A redução das provisões e imparidades para crédito totalizaram 53 milhões de euros, mais de metade das registadas nos primeiros nove meses de 2015.
O banqueiro confirmou que irá ser agendada uma assembleia-geral na segunda quinzena de Novembro para aprovar a alienação de 2% do BFA ao grupo Unitel, de Isabel dos Santos, a segunda maior accionista do BPI. A transacção resulta da necessidade de estabilizar o capital do banco português, que se manterá com 48% do BFA e direito a nomear dois administradores não executivos.
Para Ulrich, a resolução do diferendo à volta do BFA acaba por fortalecer o BPI, que passa a cumprir os requisitos do BCE, de redução da sua exposição a Angola. O banqueiro declinou falar da OPA do CaixaBank em curso por ser assunto que respeita ao oferente.
“Se há matéria em que estamos completamente de acordo com o CaixaBank [com 47% do BPI] é sobre o Novo Banco”, evidenciou o CEO, que classifica como uma “mentira” dizer que há desentendimentos. O protesto surge depois de a agência Bloomberg ter noticiado que responsáveis do CaixaBank, em Espanha, afiançaram aos analistas não haver interesse em adquirir o Novo Banco. Afirmações que seguem as transmitidas pelo CEO do grupo espanhol, Gonzalo Gortázar, em Julho, durante um pequeno-almoço com a comunicação social portuguesa em Barcelona. Desconhece-se se alguma das partes mudou, entretanto, de posição.
Sublinhe-se que apesar do concurso de venda do Novo Banco ter entrado, mais uma vez, na fase final, continua sem saber qual vai ser o modelo e as condições do negócio. Muitas incógnitas para os seleccionados pelo Fundo de Resolução (BPI, BCP, Apollo, Centerbridge, Lone Star e China Minsheng) avançarem. “Assinámos um acordo de confidencialidade”, mas “seguramente que não foi feita nada que merecesse ser divulgado ao mercado.” Ou seja: o BPI ainda não concretizou uma oferta firme.
Na conferência de imprensa, o banqueiro recusou ainda comentar a ida para a Caixa Geral de Depósitos do seu ex-vice-presidente António Domingues, sobre quem repetiu insistentemente ter “uma grande amizade” e apenas evidenciou que todos os seus rendimentos estão expressos nos relatórios do banco [isto é: os salários e prémios em numerário ou em títulos].
Chamado a tomar posição sobre outro assunto controverso, este relacionado com a intenção do Governo de criar um veículo para parquear o crédito malparado da banca, o banqueiro esclareceu: “Connosco ninguém falou” e “não faço a menor ideia”. O BPI está fora. E “não entendo qual é o problema, nem qual é a solução”. Interrogado se admite ser chamado a envolver-se na resolução da questão, comentou: “Não me passa pela cabeça que os bancos maus [com problemas de crédito mal parado] tenham de ser salvos pelos bancos bons.” “Já basta o que temos de contribuir para o Fundo de Resolução.”
E concluiu com um recado: "Devíamos ser menos saloios” a reagir a opiniões das autoridades internacionais” [Comissão Europeia e Fundo Monetário internacional], bem como “a estudos de não sei de onde, sabe-se lá feito como”. Isto, porque classificam o crédito malparado “como um dos grandes problemas da economia portuguesa”, mas ignoram o que se passa “em todos os países que têm sob a sua alçada porque há situações piores”.