Bons ventos do Canadá

A melhor notícia que o Governo liderado por António Costa recebeu nos últimos tempos veio do Canadá, com a decisão da agência de rating DBRS da passada sexta-feira.

Não foi o apoio declarado do Bloco de Esquerda ao Orçamento do Estado para 2017. Nem tão pouco a disponibilidade do PCP para discutir, ainda que de forma limitada, a aplicação no futuro da condição de recursos a prestações não contributivas.

Não. A melhor notícia que o Governo liderado por António Costa recebeu nos últimos tempos veio do Canadá, com a decisão da agência de rating DBRS da passada sexta-feira. 

Não só os analistas mantiveram a classificação da dívida portuguesa um degrau acima da classificação de ‘lixo’, como mantiveram a perspectiva dessa mesma classificação como estável. Notícias que, só por si, já garantem ao Estado português, pelo menos durante alguns meses, a possibilidade de continuar a beneficiar do programa de compra de activos do Banco Central Europeu que tem mantido sob anestesia os juros da dívida portuguesa.

Mas na comunicação que fizeram ao mercado, os responsáveis da DBRS foram mais longe que o habitual e chegam mesmo a elogiar Portugal. Há críticas, mas também há elogios. 

E o Governo vai agarrar-se a esses elogios quando tiver de discutir a proposta de Orçamento do Estado para 2017 no parlamento. Em especial para se defender das críticas que vierem da direita. 

A antiga ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, diz que a proposta de Orçamento lhe dá dores de cabeça. A líder do CDS garante que o Orçamento é mau e Passos Coelho critica a forma como a redução do défice está a ser feita.

Tudo argumentos que estávamos habituados ouvir por parte, por exemplo, das agências de rating. Mas a DBRS fala nos progressos feitos por Portugal para reduzir o défice e, mesmo, sobre a execução de 2016 diz que apesar dos riscos que ainda existem, os dados disponíveis até Setembro permitem dar confiança de que se atingirá um défice abaixo dos 3% do PIB, condição necessária, mas não suficiente para que Portugal possa sair do Procedimento por Défice Excessivo.

Pedro Passos Coelho diz que o Governo foi “desastroso a lidar com os problemas do sistema financeiro”. A DBRS elogia “as medidas proactivas que foram tomadas para fortalecer o sector bancário”.

A DBRS não abandona o tom de alerta em relação a Portugal, diz que seria desejável uma consolidação mais do lado da despesa e aponta os vários riscos que ainda subsistem para a economia nacional, especialmente se houver a tentação de algum laxismo, mas deixa ao Governo várias pontes para se defender dos ataques à direita. 

Não deixará, no entanto, de ser curioso o que fará a esquerda à esquerda do PS. Cada elogio da DBRS à política do Governo não deixa de ser uma crítica ao que defendem muitas vezes Bloco e PCP. 

Talvez por isso e por antecipar o que se avizinha, especialmente com as intenções do Governo para o sector bancário, a líder do Bloco, Catarina Martins, já veio dizer que no que à banca diz respeito, o sustendo do Governo está no PSD.

É uma evidência, mas é nesse jogo que António Costa tem sido exímio e as boas notícias do Canadá só vieram ajudar.

Sugerir correcção
Comentar