Bolsa de Lisboa "encolheu" 6,3 mil milhões de euros em 2010

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Foto: Miguel Madeira

Hoje, a bolsa de Lisboa ainda vai negociar durante meia sessão, mas não é expectável que possa alterar substancialmente o saldo negativo que acumulou durante um ano de sobressaltos e dificuldades.

O principal índice da bolsa portuguesa, o PSI 20, apresentava ontem, no final da sessão, uma desvalorização anual de 9,6 por cento. Em capitalização bolsista, ou em valor de mercado das 20 empresas do índice, registou-se uma redução de 6,3 mil milhões de euros.

O desempenho da bolsa nacional em 2010 contrasta com o ganho registado no final de 2009, que superou os 33 por cento. Apesar de negativo, o saldo final da praça portuguesa fica longe das quedas acumuladas pelas bolsas da Grécia, Espanha e Itália, países que tal como Portugal estiveram no centro do crise da dívida pública e dos défices elevados, que marcou o último ano.

O principal índice da bolsa grega, país que no início de Maio foi intervencionado pelo fundo de resgate criado pela União Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional (FMI), acumulava ontem uma perda de 35,2 por cento. O Ibex 35, o principal índice espanhol, perdia 17,4 por cento e o italiano FTSE MIB perdia 13,2 por cento.

No grupo dos países gravemente afectados pela crise da dívida está ainda a Irlanda, resgatada financeiramente em Novembro. Ainda assim, o seu principal índice bolsista, o ISEQ, apresentava ontem uma perda de apenas 3,2 por cento.

Na zona euro, apenas a bolsa de Paris também apresentava um saldo negativo, embora bem menor, já que se ficava pelos 2,2 por cento (CAC).

Apesar da turbulência que varreu, por várias vezes, todas as bolsas do Velho Continente, as bolsas de Londres e de Frankfurt terminam o ano com ganhos apreciáveis, respectivamente de 10,3 e 16,1 por cento. E registaram-se ganhos ainda maiores nas bolsas da Dinamarca (35,9 por cento) e ainda nas bolsas da Suécia (21 por cento) e da Finlândia e da Noruega (18 por cento).

As quedas bolsistas do Sul da Europa contrastam com os ganhos dos principais índices norte-americanos, liderados pelo Nasdaq 100, com uma valorização acumulada, a meio da tarde de ontem, de 19,65 por cento. O S&P 500 valorizava mais de 12 por cento, seguido do Doe Jones, a ganhar perto de 11 por cento.

A evolução dos dois principais índices asiáticos foi oposta, com o Hang Seng, de Hong kong, a apresentar com um saldo anual positivo superior a cinco por cento, e o Nikkei, principal índice da bolsa de Tóquio, a perder cerca de três por cento.

Perdas chegaram aos 20%

A queda anual próxima dos 10 por cento da bolsa de Lisboa acaba por ser um mal menor tendo em conta o valor que chegou a perder em Maio, altura em que o índice quebrou a barreira dos sete mil pontos, tocando o mínimo do ano nos 6566,04 pontos. Nessa altura, e face ao último valor de 2009, o PSI-20 chegou a perder 22,4 por cento.

Esta queda coincidiu com o resgate financeiro da Grécia, que não acalmou os mercados. Depois do apoio à Grécia, a pressão dos investidores acentuou-se face a Portugal, eleito como o próximo país a precisar de apoio financeiro, o que se reflectiu numa subida dos juros da dívida pública e numa fuga, quase em massa, de investidores institucionais, essencialmente estrangeiros, da bolsa portuguesa. As estatísticas da bolsa, até ao final da sessão de anteontem, revelam que o volume total de negócios da praça portuguesa totalizou 41,4 mil milhões de euros, mais 26 por cento que em 2009.

Pressionado pelos mercados, essencialmente pelos juros das Obrigações do Tesouro a 10 anos, que se aproximaram dos 6,5 por cento em Maio, o valor mais alto desde a entrada de Portugal no euro, por Bruxelas, e pelas agências de rating, o Governo português reforçou o primeiro PEC ainda em Maio, já com aumentos de impostos (IVA e IRC).

Portugal escapou ao resgate em 2010 e acabou por ser a Irlanda o segundo país a ser apoiado financeiramente, mas não escapou a novos cortes de rating por parte das agências internacionais e foi "obrigado" a apresentar, em finais de Setembro, um PEC III (com corte de salários), com medidas que o Banco de Portugal, o FMI e outros organismos internacionais defendem que vão arrastar a economia portuguesa para uma recessão em 2011.

E é por causa da perspectiva de recessão da economia portuguesa e do receio de que o país vai enfrentar dificuldades para se financiar que a hipótese de intervenção do FMI continua a pairar sobre o país. No final de 2010, apesar de alguma recuperação, estes factores continuaram a pesar sobre a evolução das cotações, afectando principalmente as sociedades que mais dependem do financiamento externo, como os bancos.

Nesta perspectiva, os prognósticos para a bolsa portuguesa, para 2011, são mais difíceis de fazer. Com perspectivas de recessão da economia portuguesa, agravada pelo menor poder de compra das famílias portugueses, e com o risco do país no nível elevado em que está, não se espera, no curto prazo, o regresso dos investidores estrangeiros.

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