Americanos com 4% da EDP Renováveis recusam vender na OPA

Gestora de activos MFS insta outros minoritários a rejeitarem os 6,75 euros por acção oferecidos pela EDP e defende metodologia que aponta para um mínimo de 11,73 euros.

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Os argumentos de João Manso Neto e António Mexia não convencem minoritários da EDP Renováveis Nuno Ferreira Santos

A gestora de activos norte-americana MFS Investment, que representa clientes com 35,5 milhões de acções da EDP Renováveis, ou 4% do capital e direitos de voto da empresa, já decidiu que “não tenciona vender” os títulos em carteira na Oferta Pública de Aquisição (OPA) que a EDP tem a correr até 3 de Agosto.

“Estamos muito desapontados com o preço de 6,75 euros oferecido pela EDP”, afirma a MFS na sua posição oficial sobre a OPA lançada no final de Março. Falando em metodologias de cálculo do preço que “beneficiam a EDP e penalizam os minoritários” da EDP Renováveis, a gestora norte-americana nota que o facto de a eléctrica ter “abandonado a métrica de avaliação que [anteriormente] aconselhou aos investidores, faz com que se questione com legitimidade o que mudou”. A metodologia defendida pelos americanos aponta para um valor mínimo de 11,73 euros.

A MFS recorda que, em Abril, já tinha destacado, numa carta enviada ao conselho de administração da EDP, que a contrapartida da oferta “não era um valor justo para os minoritários”, defendendo, por isso, que a empresa liderada por António Mexia deveria “rever a oferta”.

Mantendo-se o preço (que era de 6,80 euros, mas ajustou já ao dividendo de cinco cêntimos pago em Maio), mantém-se a opinião dos responsáveis da MFS Investment: a OPA “traz pouco valor aos accionistas da EDP Renováveis”, a MFS frisa que “não tenciona aceitar a oferta ao preço de 6,75 euros por acção nas presentes circunstâncias”.

E, como tal, a gestora norte-americana “apela aos outros accionistas minoritários” da EDP Renováveis que ao tomarem a sua própria decisão sobre se aceitam ou não vender os seus títulos na OPA, “analisem a carta aberta [enviada à administração da EDP]” em Abril (onde a entidade já apresentava uma série de fundamentos em defesa da subida do preço), além desta posição oficial de rejeição da oferta, em que mais uma vez esgrime argumentos a valorizar os títulos da empresa de energias limpas.

Diz a MFS que, considerando os activos da EDP Renováveis, esta deveria negociar num nível superior ao dobro dos 6,75 euros da oferta. Tendo em conta os cash flows, o nível teria de estar pelo menos 35% acima da contrapartida.

A gestora norte-americana destaca ainda que existem “vários problemas” com os termos finais da oferta que vêm descritos no prospecto da operação. Um deles são os detalhes sobre a retirada de bolsa da empresa de energias limpas sediada em Espanha e a fusão transfronteiriça que a motivará. “O prospecto parece omitir detalhes fundamentais” sobre a intenção de retirar a Renováveis de bolsa e proceder à fusão e “não explica claramente quais são os direitos dos minoritários numa operação deste tipo”. Os minoritários ficam sem “informação adequada” para avaliar os méritos da proposta, queixam-se os norte-americanos.

Por outro lado, recordam que na sua exposição de motivos a EDP destaca a falta de liquidez dos títulos da EDP Renováveis. Este tipo de argumento “não tem em conta alguns accionistas (como a MFS) que desejam manter o título no longo prazo”. Lembram os norte-americanos que, quando a acção “esteve sob pressão no quarto trimestre de 2016 devido às preocupações” com as políticas para as renováveis a seguir à eleição de Donald Trump, “houve milhões de acções” disponíveis que a MFS conseguiu comprar. Além disso, criticam o facto de a EDP estar a oferecer um preço inferior aos níveis em que a cotação andou antes de ser penalizada pela entrada em cena de Trump.

Depois, regressando ao preço, a MFS acusa a EDP de “parecer estar a abandonar, e a desacreditar, a sua própria metodologia de avaliação da empresa” com base na capacidade de produção instalada (o rácio valor da empresa por cada megawatt instalado). A MFS sublinha que ainda numa apresentação aos investidores em Março, a gestão da Renováveis (liderada por João Manso Neto) tinha usado esta métrica para demonstrar “o quão subvalorizado” o título estava.

Esta metodologia foi apresentada por Manso Neto como “a melhor forma de avaliar a empresa” na conferência com analistas em Fevereiro do ano passado, queixa-se a gestora americana, recordando que se fosse esse o critério seguido agora, o valor mínimo atribuído aos títulos da Renováveis seria 11,73 euros (e trata-se de um valor mínimo que não leva em linha de conta os projectos em carteira para o futuro, assinala).

Acusando a EDP de “nem identificar uma metodologia específica de avaliação”, nem usar uma “metodologia de avaliação adequada” para definir o preço da contrapartida, os gestores da MFS frisam que mesmo assim, a eléctrica opta por apresentar apenas o valor mais baixo, “omitindo a avaliação média mais relevante, que teria resultado num preço de 7,5 euros”, 11% acima do valor da oferta.

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