Alunos estrangeiros representam um terço dos inscritos nas escolas de negócios

Instituições apostam em contacto entre estudantes de diferentes países. Corpo docente internacional e presença em rankings ajudam a atrair candidatos. Aposta faz com que percentagem destes alunos seja três vezes superior à da generalidade do ensino superior

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De Angola chega o maior número de estudantes estrangeiros Andrew Winning / Reuters

A proporção de estudantes estrangeiros inscritos nas principais escolas de negócio é três vezes superior à dos inscritos na generalidade do ensino superior. A vocação internacional dos MBA’s e de outros programas de formação na área da gestão leva também a que, em média, cerca de um terço daqueles que os frequentam venham de fora do país. Para as instituições, a promoção externa não é apenas uma forma de atraírem mais candidatos, mas também uma estratégia para criar um ambiente de trabalho globalizado que, acreditam, terá impactos positivos na formação dos estudantes.

Nas três principais escolas de negócios nacionais (da Universidade Nova de Lisboa, da Universidade do Porto e da Universidade Católica) há neste momento cerca de 800 estudantes estrangeiros inscritos, que representam, em média, um terço do total das matrículas. Em termos absolutos, o maior número de alunos internacionais é o da Universidade Católica (com 375 estudantes, representando 23% do total), mas, em termos percentuais, é a Porto Business School quem assume um maior destaque, com 45% de inscritos nos seus programas de MBA. No caso da Nova School of Business and Economics, o total de estudantes internacionais representa cerca de 40% das matrículas.

A tendência que se observa nos dados fornecidos ao PÚBLICO pelas instituições é a de uma relativa estabilidade na percentagem de estrangeiros inscritos ao longo dos últimos três anos. Mas há programas específicos, como é o caso do The Lisbon MBA International – lançado em parceria pela Nova e a Católica – que tem 47% de alunos internacionais, um número que cresceu este ano em 12 pontos percentuais face ao ano anterior.

Os últimos dados disponibilizados pela Direcção-Geral das Estatísticas da Educação e Ciência mostram que há 34 mil alunos de nacionalidade estrangeira inscritos nas universidades e institutos politécnicos nacionais, o que representa um crescimento muito acentuado ao longo dos últimos cinco anos – mais 74%. Apesar deste aumento, o número de estrangeiros inscritos no ensino superior português representa menos de 10% do total de alunos matriculados (actualmente cerca de 350 mil).

Esta presença mais relevante de estrangeiros nas escolas de negócio em comparação com a generalidade do ensino superior pode explicar-se pelo facto de a captação de alunos internacionais ser considerada “estratégica” por estas instituições especializadas, como assume a directora associada (associate dean) da Porto Business School, Patrícia Teixeira Lopes.

A aposta no mercado externo acontece desde logo por uma questão de necessidade. “O mercado português é limitado e, como qualquer empresa, temos que exportar o que sabemos fazer, neste caso a formação”, explica aquela responsável.

Há, todavia, um outro lado menos utilitário – “e talvez mais importante”, assegura Patrícia Teixeira Lopes – que contribuiu para essa aposta. A convivência entre alunos de várias origens e o contacto com a multiculturalidade é “algo muito importante” para a formação de um executivo. Ter na sala de aulas alunos de diferentes países torna a experiência formativa muito mais rica para quem a vive.

Para potenciar este contacto entre alunos de diferentes origens, há disciplinas nos cursos da Nova School of Business and Economics onde é obrigatória a presença de estudantes de mais do que uma nacionalidade nos grupos de trabalho. “Isto abre-lhes a cabeça para formas de trabalhar diferentes”, ilustra a directora dos serviços de carreira daquela escola de negócios, Maria Nolasco.

Por exemplo, os alunos que vêm da Alemanha – a nacionalidade estrangeira com mais inscritos na Nova – chegam às formações de executivos com uma experiência profissional bastante maior do que a generalidade dos estudantes portugueses. “Aos 23 ou 24 anos, os alemães já fizeram dezenas de estágios em diferentes empresas, porque o sistema de educação deles assim o permite”, conta Nolasco. Essa circunstância dá-lhes um outro tipo de conhecimento sobre a realidade das empresas.

Essa diferença de experiência “coloca uma pressão positiva” sobre os alunos nacionais. Por causa da cultura empresarial dominante em Portugal, que dificulta o acesso a estágios temporários e não reconhece ainda a validade das licenciaturas feitas após o processo de Bolonha, os portugueses chegam aos mestrados de gestão da Nova School of Business and Economics tipicamente logo após o fim da formação inicial e, por isso, com muito menos conhecimento prático sobre o sector empresarial.

Nestas três escolas de negócios, cerca de um terço do corpo docente é constituído por estrangeiros o que permite estar permanentemente em contacto com as melhores práticas que são seguidas a nível mundial. “Professores, staff e alunos sentem-se num verdadeiro contexto internacional”, valoriza Patrícia Teixeira Lopes da Porto Business School.

A atracção de estudantes internacionais contribui para que as escolas de negócios tenham mais alunos e uma dimensão capaz de competir em termos globais pela sua atracção. Só as maiores instituições são reconhecidas nos rankings internacionais e a presença nestas listas é determinante para atrair mais estudantes estrangeiros. É um círculo virtuoso.

No ranking das melhoras formações europeias de gestão e negócios, elaborado anualmente pelo jornal Financial Times, estão presentes as escolas nacionais que cederam os seus dados ao PÚBLICO. Essa presença tem-se repetido ao longo do último ano, com a Católica Lisbon School of Business and Economics em 26º lugar, a Nova School of Business and Economics em 28º, ambas em Lisboa, e a Porto Business School em 62º.

Noutra das listas anuais do Financial Times, dedicada aos melhores MBA, há apenas um representante nacional, o Lisbon MBA, fruto de uma parceria entre a Nova e a Católica, em parceria com a Sloan School of Management do Massachusetts Institute of Technology (MIT), presente nesta tabela desde 2013 e que actualmente é o 40º melhor do mundo e o 15º colocado em termos europeus.

Além dos rankings, as instituições têm apostado em processos de acreditação internacional por organismos internacionais, que ajudam também a garantir um reconhecimento externo e a captar a atenção em diferentes países. Em Agosto, a ISCTE Business School foi reconhecida pela Association to Advance Collegiate Schools of Business (AACSB), uma instituição norte-americana fundada há 100 anos, que agrupa escolas de negócios e concede acreditação aos programas de maior qualidade. O ISCTE junta-se se assim à Católica-Lisbon SBE e à Nova School of Business and Economics, que já detinham a mesma acreditação – o que faz de Lisboa uma das cinco capitais em todo o mundo com mais de duas escolas de negócios acreditadas por aquele organismo.

Nova e Católica têm também o reconhecimento da associação de acreditação europeia Equis e da Association of MBAs (AMBA), garantindo uma tripla acreditação conhecida como “triple crown” (tripla coroa), sendo as únicas instituições nacionais nesta situação.

Um outro factor que também contribui para esta capacidade de atracção de estrangeiros é o facto de Portugal ter entrado nos “radares” internacionais como destino a ter em conta para estudar. Há dois anos, a maior base de dados mundial sobre experiências de estudantes internacionais, a STeXX.eu, colocou o país como o nono destino favorito dos seus mais de 7000 utilizadores, com uma nota média de 8,9 em 10 valores possíveis.

Estas escolas de negócios conseguem atrair alunos de cerca de meia centena de nacionalidades. Os principais países de origem dos seus inscritos são muito semelhantes ao que acontece na generalidade do ensino superior nacional, com os países de língua oficial portuguesa, em particular Angola e Moçambique, a assumirem destaque, bem como o Brasil. Entre os europeus, são os executivos de Espanha, Itália e Alemanha aqueles que mais procuram uma formação nesta área em Portugal. 

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