Ajuda financeira à Grécia ameaça abrir crise sem precedentes na União Europeia

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Barroso quer definição sobre mecanismos de ajuda à Grécia Philippe Lopez/AFP

Vários responsáveis europeus aumentaram ontem a pressão sobre a Alemanha para aceitar uma solução para a crise da dívida da Grécia, colocando a União Europeia (UE) à beira de uma grave crise a três dias de uma cimeira decisiva de lideres dos Vinte e Sete.

Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia, entrou mesmo em rota de colisão com Berlim ao defender ontem que os líderes deverão, na cimeira, chegar a "uma decisão para saber como gerir a Grécia", sem o que "a grande incerteza [actual] corre o risco de se prolongar por muito tempo", afirmou em entrevista ao jornal alemão Handelsblatt.

A posição do presidente da Comissão - apoiada pela França, Itália, Áustria e Espanha - reforça o apelo várias vezes repetido por George Papandreou, primeiro-ministro grego, de obter na cimeira uma clarificação sobre o mecanismo de ajuda, sob a forma de empréstimos bilaterais dos países do euro, que lhe foi prometido há uma semana pelos ministros das finanças dos Vinte e Sete.

Segundo Papandreou, uma decisão nesse sentido será suficiente para sossegar os mercados financeiros e convencê-los a baixar os prémios de risco exorbitantes que estão a exigir pelos títulos da dívida do seu país, o que o ameaça de falência. Sem esta clarificação, Papandreou avisou que pedirá ajuda ao Fundo Monetário Europeu (FMI).

Esta é a solução que parece ser privilegiada por Angela Merkel, chanceler alemã, que continua a resistir a uma ajuda europeia por razões políticas - resultantes da oposição do partido liberal membro da sua coligação governamental e de uma forte hostilidade da sua opinião pública - e constitucionais - ligados à recusa do Tribunal Constitucional de qualquer situação de instabilidade da moeda única.

Berlim alega que a Grécia ainda não pediu qualquer ajuda e não há, por isso, urgência em tomar uma decisão, embora deixando implícito que se a situação se colocar a solução poderá passar por um mecanismo misto entre a UE e o FMI.

Merkel recebeu ontem o apoio de Holanda e Finlândia, cujos ministros dos Negócios Estrangeiros consideraram a sua posição "muito compreensível", e de Jean-Claude Juncker, primeiro-ministro do Luxemburgo e presidente do eurogrupo (dos ministros das finanças da zona euro).

Juncker considerou que "não é absolutamente necessário" que uma decisão seja tomada esta semana e admitiu sem rodeios a possibilidade de um mecanismo conjunto com o Fundo Monetário Internacional: "Sou absolutamente contra uma solução em que apenas o FMI tente solucionar os problemas da Grécia", afirmou, prosseguindo: "Não posso ignorar o facto de que há razões para que o Fundo seja incluído na solução, mas isso deve ser feito com base nas regras europeias".

Trichet e a solução interna

Ao invés, Jean-Claude Trichet, presidente do Banco Central Europeu (BCE), assumiu a posição contrária, ao manifestar-se implicitamente a favor de uma solução interna. "Não há zona euro à la carte", os países europeus entraram na moeda única "para partilhar um destino comum".

Trichet deixou por outro lado claro que uma eventual ajuda europeia não se traduzirá em donativos a fundo perdido, mas em empréstimos ligados a condições muito estritas.

A situação das finanças públicas gregas e a falta de acordo para um modelo europeu de apoio ao Governo de Atenas tem continuado a degradar as condições de financiamento nos mercados internacionais.

Nos últimos dias, os juros que o Governo Papandreou paga pelas obrigações gregas aumentaram 50 pontos-base para os prazos mais curtos e 35 para os mais longos. Neste momento, a diferença para os juros que Berlim paga pela emissão de dívida é de mais de 430 pontos-base - cerca de 4,3 por cento.12,7%

O défice das contas públicas gregas foi de 12,7 por cento em 2009, mas em Bruxelas

há quem suspeite que foi superior

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