África do Sul quer saber se há lesados do Banif que fugiram ao fisco

Direcção da Alboa confirma contactos entre os governos sul-africanos e português e avisa: “A paciência das pessoas está-se a esgotar.

Foto
Associação já moveu acções contra BdP, CMVM, Governo e TVI PATRÍCIA MARTINS

Emigrantes madeirenses na África do Sul que perderam o dinheiro investido nas obrigações subordinadas do Banif poderão ter de pagar impostos e mesmo coimas, se o Estado sul-africano concluir que o capital investido em dívida do banco saiu desse país sem ter sido declarado junto do fisco.

O presidente da Associação dos Lesados do Banif (Alboa), Jacinto Silva, confirmou esta quarta-feira a existência de contactos entre o governo da África do Sul e Lisboa, em que Pretória terá solicitado a lista de investidores que têm residência naquele país, onde existe uma forte comunidade emigrante madeirense.

Jacinto Silva admitiu aos jornalistas, no final de um encontro com o presidente do governo regional da Madeira, que a Alboa “teve conhecimento” da situação que envolve as autoridades sul-africanas e que , mesmo não sendo essa a função da associação, prometeu acompanhar o processo.

“Vamos reunir na próxima semana com os nossos advogados e ver o que podemos fazer, de forma a evitar que estas pessoas fiquem ainda mais lesadas”, disse o responsável da Alboa, ressalvando que o objectivo primordial da associação é defender os interesses dos lesados do Banif perante a resolução do banco.

Nesse sentido, a Alboa está a ultimar acções judiciais contra o Banco de Portugal e a Comissão de Mercado de Valores Mobiliários, depois de ter feito o mesmo contra o Governo, por ter avançado para a venda do Banif, e contra o director de informação da TVI, por a estação ter avançado com a notícia de que o banco ia fechar. Jacinto Silva deixa um aviso: “A paciência das pessoas está-se a esgotar. Temos manifestações de desespero e quando as pessoas entram em desespero, [a situação] poderá fugir-nos do próprio controlo”.

Antes do encontro com Miguel Albuquerque, a Alboa reuniu com o presidente da Comissão de Inquérito ao Banif, que foi constituída no parlamento madeirense, onde manifestou “total disponibilidade” para colaborar com os trabalhos.

“Tudo isto que estávamos a fazer tem por único objectivo o apuramento da verdade e saber quem foram os responsáveis pela resolução do banco”, frisou Jacinto Silva, lembrando que os lesados são pessoas com baixo perfil de literacia, que viram as poupanças serem transformadas pelo banco em produtos que desconheciam e nem sabiam que estavam a subscrever. “Este processo tem implicações sociais na vida das pessoas afectadas, mas tem também impacto na economia madeirense.”

Preocupações partilhadas por Albuquerque. O líder do executivo madeirense lamentou a situação “grave” em que estão alguns dos clientes e accionistas do Banif, dizendo que alguns deles, depois de “trabalharem uma vida” perderam “todas as poupanças”, estando agora dependentes de apoios da Segurança Social madeirense.

Mesmo assim, o presidente do arquipélago acredita numa solução que salvaguarde os interesses dos detentores de obrigações subordinadas do Banif e os do Santander. “Acredito nessa aproximação”, admitiu, depois de Jacinto Silva ter pedido que o governo madeirense continue a exercer pressão junto de Lisboa e do Santander. “O governo [da Madeira] vai continuar a fazer a pressão necessária”, prometeu Albuquerque no final da reunião, que contou também com a presença do secretário regional das Finanças e Administração Pública, Rui Gonçalves.

A direcção da Alboa reuniu na semana passada com o executivo açoriano, e pretende agora expor as preocupações dos associados junto do governo da República. O encontro, disse Jacinto Silva, deverá acontecer ainda este mês.

Sugerir correcção
Ler 3 comentários