Administrador do Metro Mondego demite-se por “falta de respeito do Estado”

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Local da Baixa de Coimbra onde iria passar o metro Foto: Adriano Miranda

O administrador não executivo da Metro Mondego Carlos Ferreira apresentou a demissão. Diz que responsáveis pela destruição da mobilidade deveriam ser julgados, após 150 milhões de euros investidos para nada. E considera que a ausência dos representantes do Estado nas reuniões da Metro Mondego demonstram o desinteresse total. Para isso, não é preciso pagar salários a administradores, acrescenta.

Criada em 1996, com o objectivo de criar um sistema de metro no centenário Ramal da Lousã (substituindo as automotoras a diesel por veículos eléctricos mais ligeiros) e na área urbana de Coimbra, a Metro Mondego é uma empresa de capitais exclusivamente públicos, liderada pelo Estado e que tem como accionistas minoritários os municípios de Coimbra, Miranda do Corvo e Lousã.

Numa carta enviada ao secretário de Estado Sérgio Monteiro, Carlos Ferreira critica a ausência dos representantes do Estado na última assembleia-geral e na primeira reunião da comissão criada pelo Governo para recalendarizar as obras, iniciadas em Dezembro de 2009, mas que actualmente se encontram suspensas.

“Após a recente ausência dos representantes do Governo na comissão e perante a sistemática indecisão do representante do accionista Estado na assembleia geral da sociedade, sinto que a existência da mesma deixou de ter qualquer importância para o Governo, não sendo portanto necessário ao país continuar a gastar alguns dos seus escassos recursos com o pagamento a administradores”, lê-se na missiva, enviada a 1 de Junho.

Carlos Ferreira, actual presidente da Comissão Política Concelhia do PSD de Miranda do Corvo, considerou que a “contínua atitude dos sucessivos governantes em relação a este projecto contraria tudo aquilo que deveria ser a correcta governação de um país”.

“Acredito que só um Estado responsável, que seja reconhecido e considerado como ‘pessoa de bem’ pode ser respeitado pelo seu povo”, escreveu.

Mais de dois anos depois de o ramal da Lousã ter sido desactivado para obras, está apenas concluída parte das empreitadas entre Alto de São João (Coimbra) e Serpins (Lousã), correspondente à Linha Verde, primeira fase do projecto, que representa um investimento de cerca de 150 milhões de euros. O custo total seria de 447 milhões.

O administrador não executivo, que tinha sido indicado pela autarquia de Miranda do Corvo, frisou que “a população desta região, que com sacrifício paga os seus impostos, não consegue entender como é possível que políticos irresponsáveis lhe tenham destruído o seu sistema de mobilidade, para isso tenham gasto cerca de 150 milhões dos seus impostos, não o tenham reposto em funcionamento, e não sejam julgados por isso”.

“Continuo a acreditar que a sociedade Metro Mondego poderia ser útil para a concretização deste projecto, mas para isso é necessário que todos os intervenientes participem e ajudem a tomar decisões”, sublinhou.

Na carta enviada, Carlos Ferreira recordou que, em Janeiro, o secretário de Estado, Sérgio Monteiro, e o ministro da Economia, Álvaro Santos Pereira, se comprometeram a executar o projecto, embora de uma forma faseada, através de um sistema de transporte público sobre carris, “apesar dos constrangimentos financeiros do país”.

“Continuo a crer que vossas excelências são gente séria e responsável. Estou certo que honrarão os compromissos que, sendo vossos, também representam a honra do Estado perante estas populações”, escreveu o administrador demissionário.

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