Abrandamento no consumo compensado por investimento e exportações

Numa conjuntura de aceleração generalizada no investimento e nas exportações, os sinais positivos mais fortes são dados pelo turismo e pela construção.

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A construção está a dar sinais positivos de recuperação Paulo Pimenta

Exportações a crescerem mais do que as importações, principalmente nos serviços, e investimento finalmente a recuperar dos mínimos, principalmente na construção, foram as principais razões por trás da aceleração da economia nos primeiros três meses do ano. E chegaram para contrariar o efeito negativo do menor crescimento da compra de automóveis por parte dos portugueses.

Depois de, no início do mês passado, ter dado conta de uma subida da taxa de crescimento homóloga de 2% para 2,8% no primeiro trimestre do ano, o Instituto Nacional de Estatística confirmou esta quarta-feira esses números e apresentou pela primeira vez os dados referentes às diversas componentes do PIB, dando desde modo mais informações sobre o que pode ter justificado a surpreendente aceleração da economia.

E o que se destaca nestes números é o comportamento dos dois indicadores que, geralmente os desejados por quem pretende um padrão de crescimento para a economia.

Primeiro, as exportações. Durante os primeiros três meses do ano cresceram 3,1% face ao último trimestre de 2016, fazendo subir a taxa de variação homóloga de 6,6% para 9,7%. E muito importante: voltaram a crescer mais do que as importações (variação homóloga de 8%), o que permitiu que o contributo da procura externa líquida para a taxa de variação homóloga do PIB tivesse passado de 0,6 pontos negativos no quarto trimestre do ano passado para 0,5 pontos positivos no arranque deste ano.

Dentro das exportações, os dados do INE confirmam a ideia de que as receitas provenientes da entrada de turismo (que é contabilizado como exportação) estão a desempenhar um papel importante nos resultados. As exportações de serviços (que incluem o turismo) passaram de uma variação homóloga de 6,7% para 10,9%, as mais alta dos últimos 10 anos. De qualquer modo, as exportações de bens também mostram uma evolução muito positiva, com a variação a subir de 6,6% para 9,2%.

Depois, o investimento. Os resultados desapontantes obtidos na segunda metade de 2015 e primeira metade de 2016 parecem ter ficado para trás e a taxa de variação homóloga deste indicador (medido pela Formação Bruta de Capital) passou de 3,6% para 5,5%.

Este resultado foi fundamental para limitar a redução do contributo da procura interna para o crescimento homólogo do PIB, que ainda assim baixou de 2,6 pontos no quarto trimestre do ano passado, para 2,3 pontos no arranque de 2017.

O tipo de investimento que registou uma maior aceleração foi o investimento em construção, que no quarto trimestre de 2016 tinha crescido 1,5% e que nos primeiros três meses deste ano aumentou 8,5%. É necessário recuar 15 anos, até ao início de 2002, antes da entrada em crise profunda do sector, para encontrar uma variação tão elevada. Outro sinal positivo dado pela construção vem da variação do Valor Acrescentado Bruto do sector que foi o que mais subiu no primeiro trimestre deste ano.

Ainda assim, o crescimento do investimento em máquinas e em veículos automóveis, que no quarto trimestre do ano passado já tinha sido muito forte, manteve uma taxa de variação mais elevada, acima do 10% nos dois casos.

Em contraponto com aquilo que aconteceu nas exportações e o investimento, a variação homóloga no consumo privado reduziu-se. Apesar de durante este período se ter assistido a um fortalecimento marcado da confiança dos consumidores, o ritmo de crescimento passou de 3% no quarto trimestre de 2016 para 2,2% no primeiro trimestre de 2017.

A principal razão para este forte abrandamento está no facto de, em relação ao que estava a acontece no final do ano, os portugueses terem sido bastante mais comedidos na compra de veículos automóveis. A taxa de variação homóloga do consumo de bens duradouros caiu de 12,5% para 5,4%, confirmando a ideia, prevista por várias entidades incluindo o Governo, de que o contributo muito positivo dado pelo consumo privado em 2014, 2015 e, pontualmente, no final de 2016, poderá não ser sustentável.

No cenário de crescimento mais forte da PIB, destaca-se também o facto de o emprego continuar a crescer a um ritmo maior do que a economia. De acordo com os dados do INE, o número de empregos aumentou, em comparação com o período homólogo, 3,2%, o valor mais alto desde 1999, nas vésperas da criação da zona euro.

Isto acontece desde 2013 e significa que a produtividade (medida pelo nível do produto por trabalhador) continua a diminuir, invertendo a tendência registada no auge da crise em que o empregos caíram mais do que a própria economia.

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