A tecnologia do CEiiA faz andar a mobilidade eléctrica no Brasil

Centro de engenharia lança novo projecto-piloto de mobilidade, numa parceria com a Itaipu Binacional, que também passa pela criação de um carro eléctrico inteligente.

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O centro de investigação sedeado na Maia recebeu a visita do ministro do Ambiente e Energia em Abril Ricardo Castelo/nFactos

Imagine-se a conduzir pelas ruas da sua cidade. Passa ao lado de um cano rebentado e a partir do seu veículo inteligente descarrega na rede de mobilidade eléctrica a informação de que há congestionamento na rua X, tornando esse dado acessível a todos os utilizadores da rede. Ou suponha que aquilo que pretende saber são horários de transportes ou de espectáculos, ou que quer reservar um carro eléctrico para levá-lo do trabalho à consulta médica que já está marcada. Para isso bastará estar conectado à rede no seu smartphone. No fim do mês receberá a factura em casa, como se fosse a factura da água, da luz ou do gás.

É para este tipo de realidade que querem caminhar as cidades brasileiras que iniciaram projectos-piloto de mobilidade eléctrica inteligente: Campinas, Brasília, Curitiba e, a partir da próxima semana, Foz do Iguaçu. Em todos estes projectos há um denominador comum, que é a tecnologia portuguesa do CEiiA (Centro para a Excelência e Inovação da Indústria Automóvel). É o Mobi.me, o sistema de gestão de redes de mobilidade eléctrica do centro de engenharia e inovação sedeado na Maia, que está a servir de base aos quatro projectos de mobilidade em curso no Brasil.

Depois de Campinas (onde o CEiiA está em parceria com a eléctrica CPFL), o centro de engenharia português criou um Laboratório de Mobilidade Inteligente em aliança com a Itaipu Binacional (empresa do Brasil e do Paraguai, considerada líder mundial de energias renováveis), através do qual se lançaram, já no início de Junho, projectos-piloto em Curitiba e Brasília (com veículos eléctricos da marca Renault). O próximo, na cidade de Foz do Iguaçu e nas instalações da barragem de Itaipu (que ocupa 1300 quilómetros quadrados), será inaugurado na próxima quarta-feira, numa cerimónia onde estarão o Ministro e o secretário de Estado da Economia, António Pires de Lima e Leonardo Mathias, e o presidente da AICEP, Miguel Frasquilho, segundo disse ao PÚBLICO fonte oficial do CEiiA.

Sem querer adiantar os valores envolvidos nos projectos, a mesma fonte sublinhou que “o grande projecto em termos de inovação” é o Brasília Ecomóvel, no qual os Correios do Brasil testarão os veículos eléctricos ligados à rede na distribuição de cartas e encomendas no Distrito Federal. Este representa o primeiro teste do sistema numa frota empresarial e, “se correr bem, há a possibilidade de ser adoptado pelos Correios brasileiros numa escala alargada”, adiantou o porta-voz do CEiiA.

A prestação de informação aos turistas e o policiamento do Parque da Cidade são outros dos eixos desta primeira fase do Brasília Ecomóvel. Já no Ecoeléctrico Curitiba, os carros e miniautocarros eléctricos cedidos à prefeitura da cidade por dois anos, estarão ao serviço da Guarda Municipal, da Secretaria Municipal de Trânsito e do Instituto de Turismo.

Mobilidade de informação
Se numa primeira fase destes pilotos (calendarizados até 2020) serão monitorizados online e em tempo real indicadores relacionados com a mobilidade eléctrica – como consumos, redução de emissões poluentes, comportamento da rede eléctrica ou itinerários – o objectivo é ir acrescentando “de forma gradual” novos serviços para “combinar a mobilidade física com a mobilidade de informação”, criando-se uma rede em que os utilizadores deixam de ser “apenas receptores para se tornarem também produtores de informação”.

Itaipu irá acolher também um centro de operações a partir do qual “será possível monitorizar todos os projectos de mobilidade eléctrica existentes no Brasil”. A expectativa do CEiiA é que, até final do ano, “sejam implementados pilotos em mais duas cidades”. Um passo que parece lógico, num país em cujo sistema eléctrico existe uma forte componente de energias renováveis e onde urge garantir uma rede de transporte eficiente com o menor custo e menor impacto ambiental possíveis.

Um carro inteligente com ADN português
O protótipo BE, desenvolvido pela CEiiA, vai ser o ponto de partida de um novo veículo eléctrico inteligente que deverá começar a ser comercializado em 2018. É mais uma das vertentes da parceria estratégica desenvolvida pelo centro de engenharia português e a eléctrica Itaipu Binacional e está vocacionado para o Mercosul, o bloco económico fundado pelo Brasil, Paraguai, Argentina e Uruguai.

O CEiiA, que cedeu 50% dos direitos de propriedade intelectual industrial do seu protótipo à Itaipu, está neste momento a “desenvolver várias melhorias” no veículo a nível tecnológico e de design.

A construção ficará a cargo de um produtor brasileiro ou paraguaio, explicou ao PÚBLICO fonte oficial do CEiiA, notando que, no futuro, estes veículos serão utilizados nos projectos-piloto de mobilidade eléctrica que decorrem actualmente nas cidades brasileiras. Nos planos do centro de inovação português está ainda o desenvolvimento das bicicletas eléctricas que em 2015 também farão parte dos pilotos.

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