A poesia que há no vinho de Portugal e o vinho que há na poesia de Camões

Evento organizado pelo PÚBLICO na lista de acontecimentos com que Portugal assinala o 10 de Junho no Brasil. Presidente chega este sábado à noite a São Paulo.

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Sibila Lind
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“Quando se tem uma coisa assim na mão, não se fala de coisas técnicas. Isso é poesia, mesmo”. Dirceu Vianna Júnior, master of wine, tinha um Vintage na mão, da colheita de 1970, quando interpelou os presentes na prova especial sobre Grandes Produtores e Safras Históricas. Foi ele quem abriu o primeiro “Vinhos de Portugal” realizado em São Paulo, evento organizado pelo PÚBLICO, pelos jornais brasileiros Globo e Valor, em parceria com a ViniPortugal. São Paulo é também a primeira cidade brasileira que recebe este sábado a visita do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa para assinalar as comemorações do Dia de Portugal, de Camões e Das Comunidades.

Dirceu Vianna Junior, brasileiro, é o unico master of wine que fala em lingua portuguesa. Não foi, porém, o único a falar de poesia à volta do vinho e a falar das palavras – ou da falta delas – para se referir ao néctar dos deuses. E sendo Camões um dos simbolos de Portugal, e sendo Camões um dos seus maiores poetas, fez ainda mais sentido desafiar um camoniano e tentar encontrar o vinho na poesia de Camões.

Foi o que fez a cantora e autora Adriana Calcanhotto, em São Paulo na qualidade de embaixadora da Universidade de Coimbra, quando desafiou José Bernardes, director da Biblioteca de Coimbra, a perguntar porque é que Camões escolheu como inimigo o Baco, o Deus do Vinho. Bernardes surpreendeu-se com a pergunta, como se havia surpreendido com o convite, que surgiu há três meses, e o obrigou a ir procurar o vinho na poesia. Foi difícil encontrar o signo: “Comecei por fazer o mais básico, e fui ver em toda a obra camoniana quantas vezes aparecia a palabra vinho. E fiquei surpreendido porque eram muito poucas vezes. Meia dúzia". Foi empolgante encontrar-lhe o significado. Afinal, contou Bernardes, a parte mais importante dos Lusíadas passa-se na Ilha dos Amores.

“Vénus protegia os nautas portugueses, que entraram na ilha humanos e saíram de lá divinos”, começa a lembrar José Bernardes, respondendo a Adriana que era isso que Baco não queria, “que eles, os humanos, se transformassem em deuses”. E lembrou que ao enlace sexual de nautas e ninfas, e ao banquete em que se serviam “vinhos odoríferos”, de qualidade superior ao que era produzido “no itálico Falerno”, se seguiu a revelação, e os nautas portugueses foram convidados a conhecer o segredo do espaço e do tempo – afinal, a perceber o futuro. “Vénus queria transformar a raça. Os nautas portugueses entraram na ilha humanos e sairam de lá divinos”, concretizou.  O poder de transformação do vinho, a maneira como ele actua no coração dos homens, a sensação da felicidade que proporciona, a procura do futuro que é permanente. Os temas de Camões são actuais, no dia de hoje.

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