A Fitch é fixe

A Fitch é fixe para os seus empregados e para os do mesmo credo estipendiados governantes de colónias endividadas a sul. E está interessada nas eleições que fingem que a democracia existe e que a liberdade de votar sob ocupação é a mesma que votar sem ela. De lixo passámos a tendência positiva. Não, neste jogo, só a neutralidade técnica motiva o fitcheiro analista, pois claro, quem tem dúvidas? Quem duvida é herege e não respeita a dívida como se deve respeitar, como uma figuração de Deus entre nós, presente constantemente à velocidade da religião do lucro e vivendo lá longe mesmo estando aqui, nessas paragens sagradas em que os offshores activam o seu secreto fluxo financeiro — quem faz esta comparação é Agamben e fá-la bem. Não estará o dinheiro divinizado (nem se trata do fetichismo da mercadoria, é mesmo o fetichismo do equivalente geral) e não serão os mercados esses altares em que os sacerdotes, de todo o tipo e hierarquia, do capitalismo, fazem coisas que só a Deus pertencem, nem legítimas nem explicáveis? Este Deus é de facto senhor de cóleras semelhantes às dos deuses gregos, mas tem o poder do monopólio, do monoteísmo paramercados especulativos em exclusivo.

Não se pode senão ser um alinhado escravo que aplaude este mundo dos fluxos financeiros desregrados e descontrolada segunda natureza — quem controla terramotos? A heresia, incrivelmente plural e organizada, regressou como vimos no documento dos 74 — todos hereges, mesmo os mais fiéis de credos conhecidos.
Votar sob ocupação é como perguntar ao faminto se quer comer e para isso explicar-lhe que, para chegar à comida, tem de fazer como o elefante do zoo, tocar o sino. E que sino, senhores, o sino de uma suposta opção e identidade políticas. O eleitor passa a ser um zombie, vota sonâmbulo o que um sonho induzido, chipado — formas do medo banhadas em orações de consumo — lhe dita em guião.
A tal violência psicológica, o tal assédio, o tal bullying, na escala global não existem, só mesmo para terceiros de um tal terceiro mundo menos em voga — não seremos nós agora? —, nem determina comportamentos aos perfilados de medo — que falta faz a Natália Correia hoje —, é tudo transparente e democrático.

A que preço estarão estas análises e estes diagnósticos que oscilam entre fases quase terminais de cancro óbvio e curas milagrosas? Quanto receberão estes fitcheiros para fazer este serviço a quem lhes paga? O que ganham está com toda a certeza indexado ao aumento dos juros da dívida que em período eleitoral baixam, para em período pós-eleitoral voltarem a subir...

E tudo isto se faz de modo escancarado, porque há um poder devastador que funciona sempre como uma ameaça latente. Os mercados financeiros e as suas agências estão sempre prontos a lançar sobre os povos ocupados a sua catástrofe organizada, a sua bomba de neutrões financeira. Porta-te bem que a tortura será menos cruel, é o que parecem dizer botando o sorriso mediático do torturador informativo.

Encenador

 

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