A difícil história da consolidação do dólar

Ao pé da história das primeiras décadas do dólar, as crises a que se tem assistido nos primeiros 17 anos de existência do euro deixam de parecer tão impressionantes.

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PAULO PIMENTA / PUBLICO

Na sua análise comparativa entre as uniões monetárias nos Estados Unidos da América e na Europa, Jeffry Frieden mostra como a consolidação do dólar e das instituições que o sustentam foi um processo cheio de percalços, discussões acesas e muitos avanços e recuos.

Nos anos a seguir à declaração da independência e à união política dos Estados, o primeiro secretário do Tesouro do EUA, Alexander Hamilton, pôs em prática um plano que parecia resolver de uma vez por todas a enorme instabilidade financeira a que então se assistia. Nessa altura, apesar da forte oposição de fundadores como Thomas Jefferson,  o Estado Federal assumiu as enormes dívidas acumuladas pela Estados e criou-se um banco central, responsável pela definição de uma política monetária única. Os Estados Unidos passaram a conseguir obter o crédito externo de que precisavam e o dólar mostrou ser uma divisa estável.

Tudo resolvido? De forma alguma, este não foi mais do que um primeiro episódio de uma longa saga. Por trás da política prudente do banco central e da estabilidade obtida, crescia a insatisfação nas regiões mais dinâmica do país em relação a uma política monetária que limitava a expansão da banca e do crédito. E, em 1811, o congresso pôs fim ao primeiro banco central.

Pouco depois, perante a necessidade de financiar as guerras em que o país se envolveu, volta-se atrás nessa decisão e, em 1815, cria-se o segundo banco central. Mas, mais uma vez, diferentes regiões do país experimentavam divergências substanciais nas suas condições macroeconómicas, e o Presidente Andrew Jackson - uma referência para Donald Trump e os actuais opositores da Fed - acabou, em 1832, com o segundo banco. Entrou-se então numa era de mercado bancário livre, em que moeda chamava-se dólar em todo o lado, mas, na prática, esses dólares tinham valores bastante diferentes consoante quem os emitia.

Depois de um período de estagnação económica de cinco anos, os Estados em situação mais precária faliram e a união monetária voltou a ganhar terreno com a criação de um emissor único nacional de notas e de um tesouro independente. Ainda assim, a Reserva Federal apenas foi criada em 1913, tendo-se de esperar ainda mais duas décadas, para se começar a ver os primeiros sinais de uma política orçamental comum.

Tal como na ainda curta história da zona euro, nos Estados Unidos, os problemas na união monetária norte-americana centraram-se sempre na dificuldade de gerir interesses divergentes entre os Estados e no difícil equilíbrio entre a necessidade de uma partilha de riscos e o risco moral que isso gera. Nos Estados Unidos, o dólar conseguiu sobreviver aos tempos em que a união política ainda não estava totalmente consolidada. Na Europa, essa capacidade do euro ainda está por provar.

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