A autocrítica de Passos Coelho

Passos Coelho até pode ter razão e as actuais políticas podem ser totalmente erradas. Mas essa avaliação não pode ser feita já. Da forma como a fez, as críticas de Passos não são mais do que uma autocrítica.

O líder do PSD, Pedro Passos Coelho, está desiludido com o fraco crescimento da economia portuguesa. No encerramento do XXII congresso do PSD-Açores, Passos Coelho classificou como “medíocre” o desempenho da economia nacional em 2016. Um desempenho que se compara mal, não só com o crescimento deixado pelo Governo que liderou, mas também com o crescimento dos países que, tal como Portugal, estiveram resgatados.

Nas palavras de Passos Coelho há factos indesmentíveis. Portugal apenas deverá ter crescido ligeiramente acima de 1,2% em 2016, valor que se compara com um crescimento de 1,6% de 2015, quando Passos Coelho era primeiro-ministro. Se olharmos para o crescimento dos países que, tal como Portugal estiveram resgatados, os números são mais impressionantes. Espanha deverá ter crescido 3,2% em 2016 e a Irlanda 4,1%. Estes foram os países que Passos Coelho apontou como bons exemplos.

Passos Coelho pergunta-se depois do porquê desta situação e chega a uma conclusão. Esses países "ultrapassaram a suas crises, fizeram as suas reformas e caminharam em frente”, ou seja, "o que está errado não é nem a Comissão Europeia, nem a Europa, nem o contexto ou conjuntura externa, o que está errado são as políticas que temos seguido", argumentou o líder do PSD citado pela agência Lusa.

Não se percebe a que período específico Passos Coelho se refere quando diz que o problema está nas políticas que temos seguido, mas adivinha-se que seja desde que deixou de ser primeiro-ministro.

O que o líder do PSD não focou na sua intervenção foram outros números. Por exemplo, durante os anos em que Passos Coelho foi primeiro-ministro a economia portuguesa cresceu os já referidos 1,6% em 2015 e em 2014 já havia crescido 0,9%. Mas entre 2011 e 2013 a economia nacional recuou 7%. E em 2010, quando Passos ainda não era primeiro-ministro, a economia portuguesa havia crescido 1,9%. Já a Irlanda e Espanha, entre 2011 e 2013 registaram desempenhos bem diferentes: a economia irlandesa cresceu 4,2% e a espanhola Espanha apenas recuou 5,3%.

Usando o mesmo raciocínio de Passos Coelho, foram as políticas seguidas pelo seu Governo que justificaram tamanha diferença.

Passos Coelho sabe que não foi assim. O mal vinha de trás. Tal como de trás vem a desaceleração da economia portuguesa entre 2015 e 2016.

Passos Coelho até pode ter razão e as actuais políticas podem ser totalmente erradas. Mas essa avaliação não pode ser feita já. Da forma como a fez, as críticas de Passos não são mais do que uma autocrítica.

No essencial, no entanto, o líder do PSD está certo. O crescimento económico que temos é medíocre. Mas não é o de 2015 ou 2016. Entre 2001 e 2010, por exemplo, a economia portuguesa praticamente estagnou ao registar um crescimento de 0,7%. No mesmo período Espanha cresceu 2,2% e a Irlanda 3%.

Este foi, é e nada nos faz crer que deixará de ser um problema que nenhum Governo se mostrou capaz de resolver.

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