Empresa da Unicer aposta no aumento da produção de cevada em Portugal

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Cerca de 40% da cevada usada para produzir cerveja é nacional NFACTOS/JORGE MIGUEL GONCALVES

Maltibérica apresenta hoje em Beja programa de estímulo aos agricultores e plano de organização da fileira da cevada dística

A Maltibérica, empresa de produção de malte detida pela Unicer e pela francesa Malteurop, quer aumentar em 20 a 30% as encomendas aos produtores nacionais de cevada dística, matéria-prima essencial para a produção de malte e para o sector cervejeiro. No final deste ano, a Unicer - que detém a maioria do capital da empresa e absorve 80% do seu malte - deverá gastar 2,7 milhões de euros neste cereal e, para aumentar o investimento, preparou um pacote de incentivos para os agricultores que é hoje apresentado em Beja.

Tiago Brandão, administrador da Maltibérica, garante que este é "primeiro projecto de organização de uma fileira da cevada dística para malte em Portugal" e inclui um estímulo financeiro para os produtores, cujo valor será divulgado esta manhã num encontro que conta com a presença do secretário de Estado da Agricultura, José Diogo Albuquerque.

Os ensaios para desenvolver variedades de cevada dística para malte adaptada ao clima e solo nacionais começaram em 2000. Foram feitas parcerias com o Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária, o Instituto Politécnico de Beja e o Instituto Superior de Agronomia para promover novas práticas de gestão ambiental e económica e melhorar a qualidade do cereal. "Inclui um projecto de investigação e desenvolvimento em que, durante dois a três anos, se testaram novas variedades adaptadas à realidade do país e que estão hoje centralizadas em Portugal", explica Tiago Brandão.

Para incentivar a produção de cevada, a Maltibérica assina contratos plurianuais com os agricultores, garantindo escoamento da produção e apoio técnico. O preço segue os índices internacionais, mas inclui uma "componente significativa" que compensa os custos de exploração, cada vez mais elevados. A empresa trabalha actualmente com 120 produtores e está sempre em processo de recrutamento.

"Se no final da campanha o produtor verificar que os preços nos mercados internacionais estão altos fazemos um ajuste para garantir e estimular a próxima colheita", diz Tiago Brandão. Este ano, será dada uma "ajuda complementar".

Se a Maltibérica conseguir cumprir o objectivo e comprar mais cevada nacional, o seu maior cliente, a Unicer, passa a comprar em Portugal um total de 5,5 milhões de euros desta matéria-prima. "Podemos atingir os 20 a 30% de aumento de área contratada no próximo ano se tivermos condições que facilitem a contratação. Se o agricultor sentir que há capacidade, adere", diz o responsável.

Cerca de 40% da cevada usada na indústria cervejeira é nacional, mas as quebras na produção têm sido sucessivas desde 2008. De acordo com dados do INE, este ano as quebras atingem os 15% em comparação com 2011. Entre 2008 e 2012 a diminuição na produção foi de 82%. Neste cenário, as cervejeiras acabam por concorrer com os produtores de rações para animais que, face à quebras de produção, são obrigados a recorrer a cevada de maior qualidade.

Para se abastecer, a Maltibérica compra cerca de 50% da cevada a França e Espanha e fornece não só a Unicer, para a produção da Super Bock, como a Empresa de Cervejas da Madeira e a açoriana Melo Abreu. Entre 10 a 15% da produção é exportada, nomeadamente para "produtores de cerveja em África". Fora do sector, vende matéria-prima para a produção de bebidas de cereais da Nestlé.

Até Setembro, a empresa sedeada no Poceirão facturou 14,7 milhões de euros. A expectativa é superar os 15 milhões conseguidos em 2011.

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