O negócio das empresas com o Banco Alimentar Contra a Fome

"Quando oferecem comida, as empresas não estão só a dar", diz Isabel Jonet, presidente do Banco Alimentar Contra a Fome (BACF) de Lisboa e vice-presidente da Federação Portuguesa dos BACF, explicando o trabalho da instituição. "O que nós propomos às empresas é um negócio em parceria, com seguradoras, transportadoras ou produtoras. Propomos que o Banco Alimentar seja um parceiro na luta contra a fome, porque as empresas acabam por ter benefícios fiscais", lembra.Mas não só. Isabel Jonet mostra um folheto do banco, que é dirigido às empresas agro-alimentares, com uma mensagem clara: estas reduzem custos no transporte, na armazenagem e na destruição de produtos (excedentes, não comercializáveis ou com prazos de validade a terminar). Em termos de IRC (Imposto sobre os Rendimentos das Pessoas Colectivas), "os donativos são considerados custos ou perdas de exercício", lembra o banco. E também estão isentas de Imposto sobre o Valor Acrescentado as doações a instituições de solidariedade. Daí que, ao contrário do que possa pensar-se, o objectivo principal definido para o BACF seja "a luta contra o desperdício - excedentes de produção, fruta que seria enterrada - canalizando depois os alimentos para dar de comer a quem tem fome". O maior volume de comida recolhido pelos BACF tem origem na própria indústria agro-alimentar: em 2002 (os dados de 2003 estão a ser contabilizados), foram recolhidas, por este meio, 2012 toneladas de alimentos, correspondentes a uma percentagem de 32,45 (contra 12,6 por cento recolhidos nas campanhas de supermercados). Recolha em supermercadosDas outras origens de produtos, as campanhas de recolha de alimentos em supermercados são as mais conhecidas do público em geral. Mas são apenas uma parte do que o BACF recebe. Para se ter uma ideia, nas campanhas de Maio e Dezembro (que mobilizaram 10.700 voluntários), os 10 bancos portugueses recolheram 2014 toneladas (do total de 12.221 recebidas durante todo o ano) em 504 supermercados das zonas de Abrantes, Aveiro, Coimbra, Évora, Lisboa, Porto, Setúbal, S. Miguel, Cova da Beira e Leiria-Fátima. O que corresponde, no último ano, a 16,4 por cento do total de géneros recolhidos pelo banco. O trabalho do banco é quase todo feito por voluntários. Na sede do BACF de Lisboa, são 40 a 50, para-meia dúzia de funcionários. O movimento não pára, mas não há atropelos: a distribuição de alimentos é organizada segundo uma escala, em que cada instituição apoiada sabe a que dia e hora pode ir buscar os géneros alimentícios de que dispõe. E, quando chega a carrinha para carregar caixas e embalagens, já tudo está identificado à porta do armazém, pronto para ser transportado. Creches e jardins de infância, ateliers de tempos livres, grupos de voluntários, congregações religiosas - um total de 1056 instituições, dados de 2003 - vêm ali abastecer as despensas. Fazem depois chegar à mesa de quem é comprovadamente carenciado todo o tipo de géneros alimentares, num universo que, só à conta do BACF de Lisboa, atinge mais de 51 mil pessoas por dia - e 195 mil em todo o país. Helena André, da comissão de distribuição do banco lisboeta, diz que se tem conseguido manter a atribuição de produtos básicos como leite, conservas ou óleo. As ofertas para o dia-a-dia vêm da indústria, mas também do Mercado Abastecedor da Região de Lisboa. Ao fim do dia, os vendedores colocam numa zona cedida ao BACF os produtos que já não porão à venda e uma carrinha do banco passa a carregá-los. Depois, na sede do banco, em Alcântara (em espaços de armazém cedidos pelos caminhos-de-ferro), distribuem-se os congelados e frescos três vezes por semana (segundas, quartas e sextas) e os produtos básicos secos às terças e quintas. Em função das necessidades da instituição e das possibilidades do banco, um programa informático estabelece as quantidades que cada organização pode levar.

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