A grande desilusão

"Onde é que está o fogo?", foi a pergunta que mais se fez ouvir na Praça da Liberdade, anteontem à noite. Depois de um espectáculo de animação que soube a pouco, os portuenses que sairam à rua na última noite de 1999 foram surpreendidos com a falta do tradicional fogo-de-artifício. Um "problema técnico" terá estado na origem da situação, dizem os organizadores.

Já há muito que não se via um cenário assim na Baixa portuense: milhares de pessoas, com garrafas e copos de plástico, rumaram à Avenida dos Aliados, desafiando o frio que se fez sentir na última noite de 1999. Para aquecer davam-se uns pezinhos de dança, a alegria tornava-se contagiante e a festa prometida pela Culturporto, responsável pelo evento, destilava muitas expectativas. Contudo, alguns minutos depois das 00h00, que nem sequer teve direito às badaladas finais, a decepção desceu à Praça da Liberdade. A multidão esperava, de nariz espetado no ar, as luzes multicolores do fogo-de-artifício e nada. Os carros de bombeiros estacionados na Praça anunciavam o início dos festejos, mas o estrépito dos foguetes tardava. "Onde é que está o fogo?", gritavam.Cerca de meia-hora depois a debandada foi geral. Desiludidos com a falta do fogo-de-artíficio, os foliões abandonaram a Baixa. "Espero que o ano seja bem melhor do que a passagem!", dizia alguém. "É uma injustiça para o povo portuense", reclamava uma mulher em declarações à SIC, "e à beira do que eu vejo em Lisboa, o Porto acabou!" Outros, mais revoltados, insurgiram-se contra Nuno Cardoso, presidente da Câmara do Porto: "Que presidente é que nós temos aqui? Abaixo o presidente!". "Afinal sempre houve um grande "bug". Foi na Praça da Liberdade, no Porto", comentava-se mais adiante. Apesar de várias tentativas, o PÚBLICO não conseguiu obter qualquer comentário por parte de Nuno Cardoso.Mas, afinal, o que terá realmente provocado o "flop" da festa portuense? As respostas são ainda muito vagas, mas a primeira causa foi já atribuída a um "problema técnico" que terá surpreendido tudo e todos "à última hora". Pelo menos, foi esta a justificação dada ao PÚBLICO por um dos elementos da Culturporto, Júlio Moreira, também responsável pela concepção do espectáculo de animação que antecedeu a meia-noite. "O disparo eléctrico" que deveria accionar o sistema do fogo "não funcionou". Depois do "flop", resta apurar responsabilidades, pelo que está já prevista uma reunião com a empresa de pirotecnia, sediada em Vila Nova de Gaia.De resto, a organização dos festejos considera que "a animação correu muito bem, embora tivessem existido alguns excessos num dos lados do palco", afirma Júlio Moreira, referindo-se à alcoolizada euforia de um grupo de foliões que teimava em interferir no "show" de extraterrestres que encenaram uma aterragem na Praça da Liberdade. No entanto, esta impressão não foi consensual entre o público. Houve quem tivesse achado graça à ideia de colocar uns seres do outro mundo - com umas cabeças que faziam lembrar umas bolas de râguebi - a animar os foliões, mas a opinião unânime era a de que o espectáculo que fechava o ano de 1999 tinha um sabor algo insípido. A encenação da chegada destes visitantes durou cerca de 40 minutos e, com a excepção da cena da saída da nave, construída sobre a estátua de D. Pedro IV, o espectáculo foi pouco entusiasmante. Mais ou menos envolvidos com esta animação, a assistência mal se apercebeu da contagem final para as zero horas. As anunciadas badaladas para os segundos finais não se fizeram ouvir e não fossem a erupção das rolhas e os repuxos dos espumantes e os mais distraídos continuavam a atentar nos movimentos em cima do palco. A incontornável euforia aconteceu, e aos banhos de espumante saído das garrafas trazidas pelo público juntou-se mais espumante, desta vez pulverizado pelos extraterrestres, que carregavam às costas uma versão espacial das máquinas de sulfatar.

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