Vieira tem tido pouca oposição e desta vez não terá nenhuma

Sócios do Benfica vão dar nesta quinta-feira mais um mandato de quatro anos ao presidente há mais tempo em funções da história do clube.

Foto
Miguel Manso

Luís Filipe Vieira sucede a Luís Filipe Vieira. A cadeira de presidente do Benfica vai ter até 2020 o mesmo ocupante que já teve nos últimos 13 anos. Nesta quinta-feira, os sócios “encarnados” só vão ter um quadrado para meter a cruz e mais nenhum, já que, pela segunda vez, Vieira concorre sem oposição. Não que os candidatos de eleições anteriores tenham feito grande mossa. Vieira ganhou sempre por margens esmagadoras e foi sempre absorvendo os vestígios de oposição.

Tome-se como exemplo Rui Rangel, o rosto da oposição a Vieira nas eleições a 2012. “O Benfica tem um pensamento único, uma visão com resquícios salazarentos na sua estrutura interna, divorciou-se dos sócios, da democracia e da liberdade”, dizia o juiz desembargador em entrevista ao PÚBLICO, antes de um sufrágio em que teve apenas 13,83 por centos dos votos. Quatro anos depois, Rangel está do único lado que parece existir, o de Vieira, e integra a Comissão de Honra da candidatura. “Ele é o grande e incontestável líder do Benfica e estamos todos com ele”, declarou Rangel há poucos dias.

Nestes últimos 13 anos, Vieira, com ou sem oposição, teve sempre resultados de quase unanimidade. No primeiro sufrágio a que concorreu, em 2003 para suceder a Manuel Vilarinho, o presidente “encarnado” teve 90,5 por cento dos votos contra Jaime Antunes e Guerra Madaleno. Em 2006, sem concorrência, teve 95,6 por cento e, em 2009, 91,7 por cento num acto eleitoral em que teve a oposição de Bruno Carvalho. As eleições de 2012 foram mesmo as mais “apertadas” para Vieira.

Rui Rangel não foi o único a passar da oposição à situação. O nome de José Eduardo Moniz chegou a ser apontado como possível candidato nas eleições de 2009 e, na altura, chegou mesmo a regularizar 31 anos de quotas em atraso, mas o antigo jornalista nunca avançou e acabaria por integrar a direcção do clube “encarnado” em 2012, tal como Varandas Fernandes, que foi contestatário em 2009 e que também entrou na direcção em 2012 – Moniz e Fernandes são dois dos que continuam na direcção liderada por Vieira. A comissão de honra chega mesmo a incluir, por exemplo, José Manuel Capristano, que chegou a fazer parte da direcção de Vale e Azevedo, responsável, como diz o manifesto eleitoral, pelo “período mais negro da história do clube”.

PÚBLICO -
Aumentar

A lista candidata aos órgãos sociais do Benfica para os próximos quatro anos é, essencialmente, de continuidade, mas há uma mudança significativa, com o regresso de Fernando Tavares, que saíra em 2008 em colisão com Vieira e que, em 2012, foi apoiante de Rui Rangel. De saída está Rui Gomes da Silva, comentador televisivo e “vice” dos “encarnados”, que terá pedido a Vieira subir na hierarquia da direcção, pedido que não terá sido aceite. Ainda assim, o antigo ministro garante que nunca será oposição ao presidente do Benfica.

O próximo mandato

Durante o último mandato, Luís Filipe Ferreira Vieira, sócio n.º 3312, tornou-se no presidente há mais tempo em funções no clube “encarnado”, ultrapassando Bento Mântua, que dirigiu o Benfica entre 1917 e 1926. Às 23h desta quinta-feira, uma hora depois de conhecidos os resultados, a nova/antiga direcção toma posse e Vieira vai dar continuidade ao trabalho dos últimos 13 anos (ver textos nestas páginas) com o objectivo de, como está escrito no seu manifesto eleitoral, “continuar a afirmar o Benfica como maior potência desportiva nacional”.

O projecto desportivo do futebol, diz o programa de Vieira, vai continuar a depender muito do que se faz na academia do Seixal e por uma visão integrada de todos os escalões, seniores e equipa B incluídos, e, ao mesmo tempo, reforçar a presença de jogadores “encarnados” nas várias selecções nacionais. “Privilegiaremos o atleta jovem e português por oposição ao jogador em fim de carreira e oriundo do estrangeiro”, diz ainda o manifesto de Vieira sobre a política de recrutamento que se deve estender a todas as modalidades do clube.

A nível financeiro, Vieira promete reforçar a internacionalização da marca Benfica, sobretudo nos EUA, na China e em todo o mercado asiático, e manter a política de valorização de jovens talentos. O objectivo é a “redução sustentada” do passivo bancário – o passivo total é de 455 milhões de euros – para depender “cada vez menos da banca”, criando produtos de financeiros para os adeptos investirem, já que o financiamento através de empréstimos bancários é cada vez mais difícil.

Sugerir correcção
Comentar