Videoárbitro ajuda mas não acabará com as polémicas

O PÚBLICO falou com elementos do sector da arbitragem para perceber de que forma a nova tecnologia está a ser recebida entre os homens do apito.

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O videoárbitro não vai impedir a controvérsia em relação a muitos lances xx direitos reservados

Os comentadores dos acalorados programas televisivos de rescaldo das jornadas futebolísticas e os adeptos mais empolgados nas discussões sobre a arbitragem podem ficar descansados. A introdução do videoárbitro (VAR) não vai afastar a polémica em torno dos lances mais duvidosos, que deixam reservas mesmo quando observados frame a frame através das imagens televisivas. A nova tecnologia, que irá estrear-se nos relvados nacionais já este domingo, na final da Taça de Portugal, só se fará notar em jogadas capitais, mas que não ofereçam dúvidas aos operadores do sistema.

É até provável que a polémica venha a alargar-se aos novos videoárbitros designados para cada um dos jogos da próxima temporada – quando esta nova tecnologia começar a funcionar em pleno no campeonato nacional -, por decisões menos felizes, em muitos casos fruto da sua relativa inexperiência neste tipo de operações. Mas em outros casos, até podem passar desapercebidos, sem necessidade de intervir no decorrer de uma partida.

“Existe uma expectativa de que vão desaparecer os problemas em torno da arbitragem, mas eu não concordo. É apenas uma pequena ajuda e não, de forma nenhuma, a resolução dos problemas do futebol”, sintetizou Luciano Gonçalves, presidente da Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol (APAF): “Acredito que poderá reduzir a discussão em torno da arbitragem, mas quem não quiser que isso seja alterado vai continuar a arranjar problemas onde eles não existem.”

Uma opinião partilhada por Jorge Faustino, ex-árbitro e comentador do PÚBLICO. “Acho que a expectativa dos adeptos é demasiado elevada para aquilo que, de facto, vai acontecer. A maioria das pessoas está a pensar que os erros vão desaparecer, assim como a discussão e isso não é verdade. Há uma série de lances importantes e alguns capitais em que o VAR não vai intervir, por haver dúvida de interpretação ou de visão. Servirá apenas para um pequeno número de situações. A opinião pública e os adeptos pensam que irá haver muito mais intervenção e isso não vai acontecer. Os lances dúbios vão continuar a existir. A regra é intervir só em situações claras”, explicou.

A relativa inexperiência de muitos dos árbitros e ex-árbitros portugueses que serão nomeados para analisar as imagens dos lances polémicos é destacada por Jorge Faustino. “Temo que possam ocorrer alguns erros na próxima época. Muitos dos futuros VARs não tiveram ainda muita experiência com este mecanismo e será provável que ocorram avaliações menos correctas ou até demoras excessivas na tomada de decisões.”

Esta inexperiência não se aplicará à dupla de videoárbitros convocada para a final da Taça de Portugal, composta por Artur Soares Dias e Jorge Sousa, na opinião destes dois comentadores. “Vão estar a trabalhar neste jogo as duas pessoas mais credenciadas a nível mundial em videoarbitragem. Artur Soares Dias até está nomeado para a Taça das Confederações”, salientou o Luciano Gonçalves, que discorda das críticas lançadas pelo treinador do Benfica, Rui Vitória, que não concorda que o sistema seja introduzido oficialmente num jogo tão importante e decisivo. “Não concordo com Rui Vitória. Nesta final vão estar os dois árbitros mais habilitados e que mais testes fizeram a nível de UEFA e FIFA. São competentes para estar neste jogo”, defendeu igualmente Jorge Faustino.

Para já, a recepção do universo da arbitragem é quase unânime a aplaudir a introdução do VAR, conforme confirmou o responsável máximo da APAF: “A recepção é positiva, ainda que existam muitos árbitros que ainda não estão totalmente esclarecidos sobre esta tecnologia. Mas é por uma questão de formação e não recebi nenhuma mensagem de insatisfação, antes pelo contrário.”

Uma unanimidade que não é total, conforme comprovou o PÚBLICO com Jorge Coroado, um ex-árbitro que mais reservas tem colocado a esta nova tendência. “Em termos de autonomia, autoridade e assunção da responsabilidade por parte do árbitro, discordo em absoluto. Retira-lhe o arbítrio da decisão, contribui para a sua descaracterização e a sua desvalorização. Os árbitros passam a ser todos iguais e vão refugiar-se nesta solução para retirar de si a responsabilidade da decisão. Para mim a diferença entre os árbitros faz-se pela competência e pelo discernimento. Com esta tecnologia ficam todos iguais.”

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