Ventos fracos e frenesim em Portsmouth

O tetracampeão olímpico inglês Ben Ainslie dominou os adversários no primeiro dia de regatas da Louis Vuitton America’s Cup World Series, mas soma o mesmo número de pontos que o Groupama Team France.

 Land Rover Ben Ainslie Racing
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Land Rover Ben Ainslie Racing Ian Roman
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Ben Ainslie, skipper inglês vencedor do dia Shaun Roster
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A frota da Louis Vuitton America’s Cup World Series Shaun Roster
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O público em terra a acompanhar as regatas Ricardo Pinto
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A frota da Louis Vuitton America’s Cup World Series Ian Roman

Jogar em casa tem sempre as suas vantagens. Conhecer bem o comportamento dos ventos, marés e correntes no campo de regatas é uma mais valia importante no caso do desporto à vela de alta competição. Esta vantagem ficou patente novamente com a performance da equipa inglesa Land Rover Ben Ainslie Racing que garantiu duas vitórias nas 2.ª e 3.ª regatas oficiais disputadas neste sábado, além de duas outras vitórias nas regatas-treino de ontem e ainda da vitória na estreia do evento em Portsmouth, em 2015, quando a equipa apenas iniciava a sua ambiciosa caminhada para reconquistar a America’s Cup em 2017.

Mas nada foi assim tão fácil para Ainslie – que, a propósito, acabou de celebrar o nascimento da sua primeira filha há quatro dias - ou para o restante da frota por causa dos ventos fracos e instáveis de quadrante sul, das correntes e das áreas de calmaria no meio do campo de regatas.

Aliás, nas largadas das três regatas houve várias equipas, inclusive a inglesa, a cruzar a linha prematuramente sendo penalizadas de imediato pelo júri na água. Bastava um erro deste tipo – que até o Oracle Team USA, defensor do troféu, e o Emirates Team New Zealand, líder na classificação geral da temporada, cometeram – e a equipa (ou equipas) em questão ficava relegada para o último lugar num piscar de olhos.

A passagem pelas bóias de demarcação do percurso também colocaram desafios extras, especialmente com a instabilidade do vento, a velocidade da corrente e a necessidade de as equipas executarem manobras rápidas com a imensa vela code 0 e a complexa vela-asa. Este cenário provocou incidentes vários, quase colisões e muito frenesim entre a frota, pois também representava oportunidades de ultrapassar os adversários.

Para o trimmer da equipa inglesa Land Rover BAR a decisão do skipper Ainslie em separar-se da frota e navegar longe dos rivais - depois de ter registado um 5.º lugar na primeira regata vencida pelos franceses do Groupama Team France - provou ser a mais acertada e rendeu as duas vitórias do dia, especialmente na 2.ª regata, quando a equipa viu-se em 6.º lugar e conseguiu cruzar a meta em 1.º lugar.

A primeira regata foi uma dura luta para todas as equipas que ainda tentavam calibrar os seus ritmos de acordo com as correntes e os ventos fracos. Franck Cammas (recordista do Troféu Júlio Verne em 2010, bicampeão do mundo na Class A e vencedor da Volvo Ocean Race), líder da tripulação a bordo do Groupama Team France, mostrou o que vale sua extensa experiência em multicascos, conseguindo liderar a regata da largada até à meta, apoiado pela táctica do neozelandês Adam Minoprio.

Na largada da 2.ª regata, cinco dos seis catamarãs AC45 ultrapassaram a linha prematuramente e todas as equipas estavam a enfrentar problemas de timing. Depois de cumprir as respectivas penalizações a frota reagrupou-se para ver como o Land Rover BAR navegava de forma perfeita a partir da 2.ª etapa do percurso para assumir a liderança até ao final da prova, numa jogada táctica espectacular ao afastar-se dos adversários e fazer a sua própria regata.

“Queríamos apresentar uma boa performance em frente do público inglês que veio aos milhares assistir às regatas. E com a vitória na 2.ª prova pudemos mesmo ouvir os gritos de apoio da multidão nas margens e nos barcos espectadores. Isto deu-nos mais motivação ainda”, contou Ainslie que anda cheio de alegria com o recente nascimento da sua primeira filha.

“Foram regatas muito acirradas e os ventos fracos e difíceis exigiram muito de todos nós. Na primeira regata fomos engolidos por uma área de calmaria ao lado do SoftBank Team Japan e ambos tivemos que lutar muito para alcançar os 2.º e 3.º postos. Foi um bocado frustrante.”, continuou a dizer Ainslie.

“Foram vitórias difíceis nas regatas seguintes, pois a corrente estava a afastar-nos da linha de largada, mas penso que todas as demais equipas estavam tão desesperadas por arrancar numa boa posição que acabaram todas penalizadas e isto até nos beneficiou. Depois disto, os ventos eram muito instáveis o que permitiu mais oportunidades de ultrapassagem. Foi um dia em que tínhamos de manter os olhos bem abertos e continuar a lutar até ao final, pois nada estava garantido para ninguém”, concluiu Ainslie, lembrando que a equipa treina nestas águas seis dias por semana há já um ano.

Na 3.ª regata do dia a equipa francesa mostrou mais uma boa largada, enquanto o Oracle Team USA e o Softbank Team Japan eram penalizados, mas apesar disto o skipper da equipa japonesa, Dean Barker, ainda conseguiu ombrear com os franceses e os ingleses e ficar em 3.º lugar, com um défice de apenas alguns metros na linha de chegada.

Para a equipa francesa Groupama Team France, uma vitória hoje já foi uma grande alegria, especialmente porque os velejadores e os técnicos tiveram de trabalhar durante a noite para consertar os danos no barco, após o embate na doca ontem à tarde. “Tivemos de retirar o barco da água ontem à noite e os técnicos trabalharam madrugada afora. E hoje de manhãzinha tivemos de começar a faina cedo para colocar o barco na água”, ressaltou Minoprio.

O skipper australiano Jimmy Spithill, da equipa defensora do troféu Oracle Team USA, disse que foi um dia duro e que a equipa vai rever os erros cometidos hoje, especialmente as largadas prematuras. “Amanhã as regatas valerão pontuação a dobrar!”, lembrou ele que na 34.ª America’s Cup em São Francisco protagonizou a mais incrível recuperação na história desportiva – de uma pontuação - 2 no início da competição (devido a penalização) para 9-8 na regata final contra o Emirates Team New Zealand).

Já a equipa Emirates Team New Zealand, líder na classificação geral da série, não conseguiu destacar-se até porque o skipper Glenn Ashby assumiu o leme pela primeira vez na véspera nas regatas-treino, em substituição do velejador olímpico Peter Burling que, juntamente com Blair Tuke, está no Rio a preparar-se para os Jogos Olímpicos na classe 49er.

O mesmo se passou com a equipa sueca Artemis Racing, cujo skipper Nathan Outteridge também está no Rio a preparar-se para defender sua medalha de ouro na classe 49er. Em seu lugar o italiano Francesco Bruni, especialista em match racing, fez o que pôde para se habituar ao ritmo das regatas mas não pôde fazer frente aos skippers mais experientes da frota.

Louis Vuitton America's Cup World Series Portsmouth

Classificação após 3 regatas

1. Land Rover BAR -  26 pts

2. Groupama Team France – 26 pts

3. SoftBank Team Japan – 23 pts

4. Oracle Team USA– 23 pts

5. Emirates Team New Zealand – 20 pts

6. Artemis Racing – 17 pts

Louis Vuitton America’s Cup World Series

Classificação geral

  1. Emirates Team New Zealand – 315 pts
  2. Land Rover BAR – 331 pts
  3. Oracle Team USA – 308 pts
  4. Softbank Team Japan – 282 pts
  5. Artemis Racing – 279 pts
  6. Groupama Team France – 260 pts

 

 

 

 

 

 

 

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