Vencer o Euro 2016 não é objectivo exagerado, diz Fernando Santos

Seleccionador nacional reforça discurso ambicioso e acredita em Ronaldo “super-motivado”.

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Santos mantém abordagem ambiciosa ao Europeu Francisco Leong/AFP

O seleccionador Fernando Santos reafirmou que Portugal vai disputar o Euro 2016 com o objectivo de conquistar o título, algo inédito na história do futebol português, e negou que esteja a ser demasiado ambicioso. “Sempre que vamos a uma competição e chegamos a umas meias-finais ou final e não conseguimos ganhar, ficamos completamente decepcionados. No dia a seguir, todos os jornais, toda gente fala que é uma grande desilusão. Agora que digo que Portugal tem este objectivo, algumas pessoas dizem que estou a exagerar. É ser preso por ter cão e preso por não ter. Eu prefiro ser preso por ter”, afirmou Fernando Santos, em entrevista à agência Lusa.

Se, como aconteceu em todas as anteriores presenças em fases finais, Portugal ultrapassar a fase de grupos, as grandes dificuldades podem começar logo nos oitavos-de-final, pois o vencedor do Grupo F encontra o segundo classificado do Grupo E, no qual estão Itália ou Bélgica. Mas isso não assusta: “Para chegarmos à final, teremos sempre que disputar jogos com as selecções que também, tal como nós, estão na luta pela vitória ou que tem o objectivo de chegar à final. Se tiver que ser já nos oitavos-de-final, que seja”, referiu Fernando Santos, que voltou a apontar Alemanha, Espanha e França como os três principais favoritos.

O técnico, de 61 anos, alertou, porém, que é “ilusório” pensar que Portugal já está nos oitavos, pois considera que Islândia, Áustria e Hungria podem “complicar muito a vida” à selecção nacional no Grupo F. “Todas as equipas podem complicar a vida. É ilusório achar que é fácil. Não sei o que é um grupo fácil. Já participei em grupos fáceis e os resultados foram maus. Já participei em grupos difíceis e os resultados foram positivos”, disse.

No Grupo F, Portugal estreia-se a 14 de Junho frente à Islândia, que nunca competiu numa fase final, seguindo-se duelos com a Áustria, a 18, e a Hungria, a 22, duas selecções que já há algum tempo não passavam da fase de apuramento, mas que têm um “histórico muito grande”. “Se fosse um grupo com Holanda, Áustria e Hungria, a percepção das pessoas não seria igual. Quem eliminou a Holanda foi a Islândia. Colocou claramente fora a Holanda e ganhou o grupo de qualificação. Conheço os nossos adversários, já os vi muitas vezes, eu e os meus colaboradores. Todas são equipas fortes”, frisou Fernando Santos.

Para o seleccionador nacional, a Islândia é uma selecção “realista e com uma organização muito clara”, liderada pelo “experiente” sueco Lars Lagerbäck; a Áustria aparece “muito forte”, depois de apenas ter cedido um empate na qualificação; e a Hungria tem jogadores que estão “disposto a dar tudo” dentro de campo. “Portugal é o principal responsável a ganhar o grupo e tem que assumir a sua responsabilidade. Agora, se não mostrar em campo a capacidade que tem, vai ter muitas dificuldades”, alertou.

Com os quatro melhores terceiros classificados dos grupos a terem acesso aos oitavos-de-final, num Europeu que terá pela primeira vez 24 selecções, Fernando Santos considera que este cenário motiva “ainda mais” as equipas menos favoritas e intensifica a luta “até à última jornada” dos agrupamentos.

Cristiano Ronaldo de “balão cheio”

Fernando Santos anuncia a 17 de Maio, seis dias antes do início do estágio, os 23 jogadores convocados para a fase final do Euro 2016, que vai decorrer em França, de 10 de Junho a 10 de Junho. E os problemas físicos que têm afectado Cristiano Ronaldo não preocupam o seleccionador, que quer ver o avançado a conquistar a Liga dos Campeões para chegar à selecção com o “balão ainda mais cheio”.

“Quando vi ele a queixar-se e depois a sair mais cedo do jogo, fiquei preocupado. Já nos informámos da situação e não é nada assim tão alarmante. Acho que as coisas vão correr bem”, afirmou Fernando Santos, explicando que, depois de uma longa temporada, é normal que jogadores como Ronaldo cheguem algo desgastados à selecção nacional. “Já vou ter, em qualquer circunstância, um Cristiano super-motivado, mas se ainda vier com a grande alegria de vencer a Liga dos Campeões, o ‘balão’ ainda vem mais cheio. Depois, é preciso saber gerir algum desgaste que ele possa ter e é para isso que estamos cá, para gerir todas as situações dele e dos outros”, referiu.

O avançado de 31 anos, que está a três jogos de se tornar o mais internacional de sempre (Luís Figo é único à sua frente, com 127 jogos), foi o melhor marcador de Portugal na fase de qualificação para o Europeu, com cinco golos, incluindo um hat-trick na Arménia (3-2). “Um jogador de faz 50, 60, 70 golos por época, obviamente que é determinante. É incrível a quantidade de golos que faz nunca tendo sido um ponta de lança. Já aos 18 anos era determinante no Sporting”, lembrou Fernando Santos, que foi seu treinador nos “leões”, por breves momentos, em 2003-04, quando Ronaldo rumou para o Manchester United ainda em plena pré-temporada, depois um particular frente aos ingleses, na inauguração do Estádio José Alvalade.

Fernando Santos admitiu que tem a convocatória para o Euro 2016 praticamente definida, embora esteja “refém” dos problemas físicos que os jogadores possam sofrer na parte final da temporada, como aconteceu recentemente com Danny e Fábio Coentrão, que vão falhar, por lesão, o torneio que vai decorrer em França. “Há jogadores que faziam parte de uma lista restrita para os 23 e já não estão nessa lista por não estarem clinicamente aptos. Há sempre incertezas até terminaram os campeonatos e as taças. Até lá, estamos sempre nestas incertezas. Se fosse hoje a convocatória, não teria muitas dúvidas”, afirmou.

Apesar de estar parado desde o final do ano passado, devido a fractura na tíbia direita, Tiago não está afastado das possíveis escolhas de Fernando Santos, assim como Renato Sanches, que recentemente se estreou na selecção principal, com apenas 18 anos, e foi recebido como um dos “favoritos” dos adeptos. “O Tiago foi um jogador importante e influente na fase de apuramento. Vamos ver. Temos que ter serenidade nestas decisões. Quanto ao Renato Sanches, o público tem a sua opinião, mas a decisões são feitas de acordo com aquilo que é o meu pensamento e no dia 17 de maio vou anunciá-las. Há uma lista alargada e ele faz parte dela, como muitos outros”, referiu.

Em jeito de balanço, Fernando Santos recordou ainda a sua chegada à selecção para substituir Paulo Bento. “Não faço, nem fiz, cortes com o passado. Era um seleccionador novo que pensa de acordo com as suas ideias. Foi-me dito pela federação que não havia jogadores impossibilitados de ser convocados, tirando o Tiago, que tinha mostrado que não queria estar. Nos últimos anos tinha dado sinais claros que queria voltar”, explicou o técnico, que logo na sua primeira convocatória operou uma pequena “revolução” e chamou Danny, Ricardo Carvalho e Tiago, jogadores que estavam ausentes da equipa nacional há um longo período, os dois primeiros em “choque” com o antigo seleccionador Paulo Bento.

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