Uma "Perestroika" vital para o futebol russo

Uma selecção que tem sido pouco feliz, nas últimas competições internacionais, procura reerguer-se, antes do Mundial que vai organizar.

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VASILY MAXIMOV/AFP

Em 1986, Mikhail Gorbatchev apostou na Perestroika, um plano ambicioso para reestruturar e recuperar o sistema económico soviético. Agora, em 2016, não é a economia russa, mas o futebol russo, a precisar de uma autêntica revolução e, de preferência, com maior sucesso do que a de há 30 anos.

A selecção russa de futebol está em crise profunda, mas o “seu” Mundial está aí à porta. Na nação do gigante euro-asiático, um fracasso, a jogar em casa, desiludirá cerca de 145 milhões de pessoas.

Neste século, apenas por uma vez (em 2010, com a África do Sul) o país organizador do Campeonato do Mundo não chegou, pelo menos, às meias-finais do “seu” Mundial. Em 2018, é a Rússia a organizar a maior competição futebolística do planeta. Nas últimas três competições de selecções em que participou (Mundial 2014, Euro 2012 e Euro 2016), a Rússia foi sempre eliminada na fase de grupos e a geração de Arshavin, Zyryanov, Semak ou Pavlyuchenko que, em 2008, com Gus Hiddink, chegou à meia-final do Europeu, já é uma miragem.

Depois da desilusão do Euro 2016 – ficou no último lugar do grupo B, com um empate e duas derrotas –, a Rússia procura fazer boa figura, perante o seu público, e limpar a imagem cinzenta deixada em França. Imagem que não foi apenas manchada pelos episódios de hooliganismo, dos seus adeptos, mas também pelo mau futebol praticado nos relvados franceses e pelas derrotas com selecções teoricamente mais fracas (País de Gales, que acabou por ser uma das surpresas do Euro, e Irlanda do Norte).

Um novo ciclo frente aos "amigos" turcos

A revolução, na selecção russa, começou pela mudança de seleccionador. Saiu Leonid Slutski e entrou Stanislas Cherchesov, antigo guarda-redes russo, que deixou o comando do Legia Varsóvia, clube que será adversário do Sporting na Liga dos Campeões.

A nova era no futebol russo começa com uma forte carga política. A selecção vai disputar dois jogos amigáveis: dia 6 de Setembro, em Moscovo, frente ao Gana, e, seis dias antes, em Antalya, frente à Turquia.

Um Turquia-Rússia, em futebol, será a representação simbólica de uma relação que, na política internacional, tem tido de altos e baixos e que adiciona uma dimensão extra a este frente-a-frente. E é importante, não tanto pelo resultado do jogo, mas, sobretudo, por ser o primeiro encontro da “Perestroika” do futebol russo.

Mistura de juventude e experiência

O novo seleccionador não perdeu tempo a começar a sua revolução. Para os dois particulares que a selecção russa vai disputar nos próximos dias, Cherchesov chamou apenas oito dos 23 jogadores que tão má imagem deixaram no Euro 2016 (Akinfeev, Vasily Berezutsky, Neustädter, Shishkin, Samedov, Shatov, Artem Dzyuba e Smolov).

Parte da reestruturação passou também por excluir Alexander Kokorin e Pavel Mamaev, dois jogadores que, após o desaire no Europeu, foram apanhados a “festejar”, com champanhe, numa festa de arromba, num bar do principado do Mónaco. Apesar do pedido de desculpas, ambos ficaram fora deste novo ciclo.

Com mudanças profundas em todos os sectores, Cherchesov chamou estreantes como o guarda-redes Soslan Dzhanayev (Rostov), o defesa Fedor Kudryashov (Rostov) ou o médio Yury Gazinsky (Krasnodar). Também Kritsyuk, antigo guarda-redes do Sporting de Braga, faz parte dos eleitos, como alternativa de recurso ao conceituado Akinfeev.

Já o lateral Mário Fernandes, nascido no Brasil, mas que já tem nacionalidade russa, será aposta do seleccionador, embora ainda não possa actuar nestes dois jogos de preparação.

Depois das críticas ao compromisso e motivação dos jogadores que estiveram em França, o novo seleccionador garantiu que o seu objectivo, neste novo ciclo da selecção russa, é “criar uma boa química, para que os jogadores se sintam honrados por representar a selecção nacional”.

Estamos a, aproximadamente, 21 meses do início do Mundial 2018, em território russo, e a armada de Moscovo está em contra-relógio. Terão de construir uma equipa capaz de honrar a extensa população do país e, acima de tudo, limpar a imagem pouco positiva deixada nas últimas competições internacionais.

Texto editado por Nuno Sousa

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