Um analgésico que durou uma hora

Pode ser difícil de aceitar que, perante um desaire por 4-0 com a consequente eliminação da Champions, se diga que o Benfica fez nesta quarta-feira, na Alemanha, uma exibição de maior qualidade do que aquela que rubricou na primeira mão, em Lisboa, e que lhe valeu um tímido triunfo. Mas foi o que se viu no Signal Iduna Park durante sensivelmente uma hora. Uma equipa equilibrada, que superou rapidamente uma letal falha de marcação numa bola parada logo nos minutos iniciais, e que ameaçava discutir a eliminatória taco a taco. Uma equipa que só durou, porém, 60 minutos e que se expôs a um resultado pesado quando procurou esticar-se à procura da sorte.

Era preciso um Benfica diametralmente diferente do do primeiro jogo para nivelar as contas na Alemanha e Rui Vitória respondeu com um sistema que foi mais um 4-3-3 do que o tradicional 4-4-2. A surpresa chamou-se André Almeida, especialmente porque pisou terrenos mais adiantados no triângulo invertido do meio-campo das “águias”, com a missão de pressionar a primeira fase de construção do Borussia e de impedir a ligação entre os sectores defensivo e médio dos alemães.

O plano resultou durante toda a primeira parte. Samaris, a actuar a solo na posição 6, juntava-se ao quarteto defensivo quando o Borussia ameaçava jogar na profundidade e dobrava os laterais quando necessário; Pizzi ajudava Almeida a alargar a pressão no meio-campo contrário; Cervi e Salvio procuravam, muitas vezes com diagonais interiores, criar superioridade numérica no miolo, até porque nalguns momentos o Benfica conseguiu recuperar a bola em terrenos adiantados.

Ao contrário do que sucedera no embate da Luz, o Borussia criava perigo de forma avulsa e quase sempre em contragolpe, fruto da boa organização defensiva “encarnada” e de uma reacção à perda muito mais eficaz. A forma como o campeão português impedia as ligações com Weigl e Gonzalo Castro, na saída a três (Piszczek, Sokratis e Bartra) do Dortmund, obrigava o adversário a procurar um futebol mais directo. A equação tornava-se mais difícil de resolver, contudo, quando os “encarnados” perdiam a bola em zonas mais altas, já que Dembélé surgia como o jóquer de serviço, a ligar meio-campo e ataque em velocidade e a transformar o 3-5-2 dos germânicos em organização defensiva num 3-4-3 no momento da elaboração ofensiva.

Foi dos pés do francês que nasceu o lance que agitou as águas depois de um arranque de segunda parte em que o Benfica prometia a mesma estabilidade. Os “encarnados” desorganizaram-se por momentos, deixaram de pressionar por instantes e o Borussia, com tempo para pensar e espaço para executar, chegou ao 2-0 e, logo de seguida, ao 3-0, numa variação do centro do jogo (marca identitária da equipa de Thomas Tuchel) completada integralmente ao primeiro toque.

Com pouco ou nada a perder, Rui Vitória repôs a matriz do 4-4-2 “encarnado” lançando Jonas e abdicando de um Salvio cada vez menos lúcido na tomada de decisão. Pizzi começou por derivar para o flanco direito para pouco depois, com a entrada de Zivkovic, se fixar novamente no centro com André Almeida já na posição 6. O Benfica, com o meio-campo mais exposto no miolo, e com o desgaste físico já a fazer-se notar em demasia, assumia maiores riscos.

A partir daí, a reacção do Borussia à perda da bola tornou-se mais autoritária — e a intensidade com que os alemães conseguem aplicar esse princípio também atesta uma capacidade notável —, condicionando um futebol mais associativo e obrigando o adversário a precipitar decisões. Voltava à vida o Benfica da primeira mão, desligado e incapaz de travar o futebol de régua e esquadro dos germânicos. E a eliminatória chegava, definitivamente, ao fim.     

Sugerir correcção
Comentar