Tripulações prontas para o desafio no rio Hudson

As seis equipas internacionais que lutam pela qualificação para a 35.ª America’s Cup entram neste sábado no campo de regatas no rio Hudson na estreia histórica de uma frota de catamarãs AC45 em Nova Iorque.

O Oracle Team USA no Rio Hudson
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O Oracle Team USA no Rio Hudson Ricardo Pinto
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Um membro da tripulação do Oracle Team USA Ricardo Pinto
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Os arqui-rivais Oracle Team USA e SoftBank Team Japan Ricardo Pinto
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A tripulação do SoftBank Team Japan Ricardo Pinto
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Tripulantes do Emirates Team New Zealand Ricardo Pinto

A partir das 14h (19h em Lisboa) os catamarãs AC45 com foils e as suas tripulações iniciam a disputa do segundo round de regatas da Louis Vuitton America’s Cup World Series 2016, as provas de qualificação para a 35.ª America’s Cup, a ser disputada nas Bermudas em 2017.

A equipa americana Oracle Team USA, defensora do troféu, é liderada pelo talentoso skipper australiano Jimmy Spithill – protagonista da mais espectacular recuperação desportiva na 34.ª America’s Cup quando registava um défice de 8-1 nos últimos dias de provas e recuperou a ponto de vencer o evento.

O seu companheiro neste feito histórico foi o também célebre velejador inglês Ben Ainslie – tetracampeão olímpico nas classes Laser e Finn – que agora é seu rival à frente do sindicato Land Rover Ben Ainslie Racing e está decidido a recuperar o troféu que foi apresentado pela primeira vez ao mundo em 1851 na Inglaterra, país que saiu derrotado pelos norte-americanos.

“É fantástico estar em Nova Iorque na qualidade de líder de um sindicato inglês desafiante da America’s Cup. Penso que a última vez que uma equipa inglesa marcou presença aqui foi em 1920 com sir Thomas Lipton a bordo do clássico veleiro J Class Shamrock IV. O nosso objectivo é muito claro – trazer a America’s Cup de volta para Inglaterra onde tudo começou em 1851, pois tem sido 165 anos de mágoa para os ingleses.”, declarou Ainslie, cuja equipa reúne 120 profissionais do mais alto nível nas áreas de design, construção naval, engenheiros, especialistas em tecnologia, equipas de terra etc.

Para Spithill ter o seu antigo táctico como rival é mais uma motivação do que uma ameaça. “Já era tempo de uma equipa inglesa voltar a participar na America’s Cup e o timing não poderia ser melhor para Ainslie, pois ele tem um palmarés admirável como velejador olímpico a solo e agora enfrenta o desafio de ser o skipper de uma tripulação altamente especializada.”, comentou Spithill.

Outro rival de peso para o Oracle Team USA é a equipa Emirates Team New Zealand que lidera a classificação geral da série, com um total de 192 pontos, tendo sempre figurado entre as três primeiras colocadas nos quatro eventos disputados desde 2015. O skipper Glenn Ashby e o timoneiro Peter Burling – dupla consagrada na classe olímpica 49er – estão ansiosos por navegar novamente no evento desde as regatas em Omã, em Fevereiro passado.

Os desafios no rio Hudson

“Será a primeira vez que navegaremos no rio Hudson e será muito interessante velejar sob ventos instáveis e com a agitação deixada na água pelos ferries, além das fortes correntes e das marés. Tudo pode acontecer nestas condições.”, disse o skipper neozelandês Ashby.

Spithill concorda com o rival. “Com as correntes com velocidade de até 4 nós e ventos perturbados pelos arranha-céus de Manhattan, as regatas serão no mínimo extremamente desafiantes. Mas veja que estamos na maior cidade do mundo e não há de certeza um estádio melhor do que o rio Hudson franqueado pelo perfil de Manhattan é há uma série de parques onde o público poderá entrar gratuitamente para assistir às regatas.”, acrescentou Spithill.

Para o esperado confronto náutico em Nova Iorque as equipas estarão equipadas à altura para enfrentar os riscos inerentes à navegação em altas velocidades (até 40 nós) a bordo destes catamarãs AC45 equipados com foils e velas-asa.

Capacetes, coletes salva-vidas high-tech, botijas de oxigénio e facas – para evitar ficarem presos debaixo do trampolim dos catamarãs, com aconteceu com o velejador olímpico inglês Andrew ‘Bart’ Simpson quando do capotamento do Artemis Racing em 2013 durante os treinos em São Francisco - os velejadores da America’s Cup parecem mais gladiadores prontos para entrar numa arena.

Deles é exigido não só a perícia no leme e a argúcia na táctica mas uma resistência física brutal para conseguir manobrar os molinetes que orientam a vela-asa e os patilhões de deriva (foils) e um equilíbrio de acrobata para movimentarem-se com rapidez sobre o instável trampolim que mantém unidos os dois cascos do catamarã AC45.

Como disse o veterano skipper neozelandês Dean Barker (hoje à frente do sindicato SoftBank Team Japan) – “às vezes você está ali a perguntar que diabo vai acontecer a seguir.” Barker quase capotou em São Francisco na America’s Cup 2013 a bordo do indomável catamarã AC72.

“A adrenalina é totalmente diferente do tipo de navegação que eu pratiquei desde jovem. O timoneiro tem agora o melhor sítio a bordo pois pode ver os demais tripulantes serem levados ao extremo do limite físico. Ao final dos 15 minutos de regata eles estão completamente exaustos e 10 minutos depois têm de iniciar a regata seguinte. O timoneiro tenta ajudá-los o melhor que pode durante as manobras, mas não há como negar que este tipo de embarcação é demasiado dura para com os tripulantes.”

Exemplo mais cabal disto foi o acidente que vitimou o skipper francês Franck Cammas em Dezembro passado durante os treinos em Lorient, França. O AC45 Groupama Team France capotou e Cammas foi atirado para fora do barco e teve sua perna esquerda atingida pelo leme, o que resultou numa fratura exposta que quase decepou um dos pés. Depois de uma cirurgia complicada e cinco meses de intensa reabilitação física, Cammas regressa ao posto de skipper e timoneiro a bordo trazendo uma ansiedade imensa por competir.

“Depois de seis meses sem um confronto com as demais equipas em competição, Nova Iorque será a minha rentrée, apropriadamente ao pé da estátua da Liberdade. Apesar do cenário grandioso é importante estar mesmo concentrado na afinação do AC45, pois os nossos concorrentes são todos peritos e a navegação no rio Hudson será desafiante. Estou um pouco apreensivo mas acredito que os meus reflexos de velejador já retornaram e pude treinar bastante com a equipa em Março e Abril”, contou Cammas (o skipper vencedor da Volvo Ocean Race 2011-2012).

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