Impensável “minuto Marega” arruina liderança leonina

V. Guimarães conseguiu recuperação fantástica de três golos, deixando o Sporting à beira de um ataque de nervos.

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Bas Dost em acção Miguel Riopa/AFP
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Markovic abraçado após o 0-1 Miguel Riopa/AFP
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Soares a festejar o 3-3 Miguel Riopa/AFP

Inacreditável é o único termo capaz de traduzir fielmente a narrativa de um jogo assombroso (3-3): inacreditável para o Sporting porque conseguiu desperdiçar uma confortável vantagem de três golos… quando faltavam apenas 20 minutos para o apito final de Artur Soares Dias, numa fase em que o V. Guimarães não evidenciava sinais de poder voltar à superfície. Para os minhotos, ainda mais inacreditável, porque a equipa tinha ido ao fundo e conseguia erguer-se de um sopro, graças ao “minuto Marega”, um mero goleador à deriva depois de ter desperdiçado uma oportunidade de sonho para abrir as hostilidades.

Jorge Jesus também não conseguia acreditar. Era dolorosamente inimaginável. Quando Marega bisou, o técnico levou as mãos à cara, esfregou os olhos e tentou afastar os pensamentos negativos. Mas a verdade chegaria de forma implacável, pela cabeça de Soares, no último fôlego de uma história a superar a ficção.

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O Sporting falhava estrondosamente a tentativa de superar o trauma do “berço”, tropeçando quando menos se esperava num V. Guimarães que encontrou forças e golos bem no fundo das masmorras de onde subitamente regressou para infernizar o “leão”.

Mas esta história teve um início, com Pedro Martins, que confiara ao defesa central Prince a tarefa de substituir Rafael Miranda, a explorar a entrada apática do adversário. O técnico aproveitava a hesitação leonina para se projectar no ataque, apostando na potência e na veia goleadora de Marega e na capacidade de choque e de provocar desgaste físico e psicológico de Soares.

Dupla que acabaria, como se sabe, apesar dos pecados iniciais, por inscrever o seu nome a ouro.
O V. Guimarães conseguia, nos primeiros 15 minutos, assustar o Sporting, criando situações de golo flagrante. Só que Marega não acertava, dando tempo ao “leão” para se recompor e repensar o jogo e a melhor forma de assumir o controlo.

Era a deixa para Gelson entrar em cena e oferecer uma perspectiva diferente, mais desafiadora e intratável, que foi ganhando contornos definitivos depois de Adrien ter testado a atenção de Douglas com um remate a anunciar o golo de Markovic (29’). Mais uma vez, com a inevitável assinatura de Gelson.

A recepção orientada, a rodar e a ganhar espaço para o disparo que Douglas defendeu a custo para a frente foi o ponto de viragem de um jogo que abria espaço ao debate, com a lesão de Adrien a provocar apreensão a uns e a devolver a esperança a outros.

Para amortecer o impacto de golpe tão inesperado, Jorge Jesus chamou Elias. Uma aposta feliz, com o brasileiro a simplificar os processos e a desempenhar um papel que até poderia ter sido determinante para dissipar todas as dúvidas.

Ainda antes do intervalo, o Sporting reforçava a candidatura à liderança do campeonato com um golo de Coates, a aproveitar uma saída incompleta de Douglas na sequência de um canto.

O Sporting dissipava as dúvidas e regressava ainda mais determinado para a segunda parte. A equipa dominava e as oportunidades de golo surgiam em catadupa, embora faltasse o instinto assassino capaz de aniquilar de uma vez por todas o opositor. Mera questão de tempo, admitia-se, quando Elias encheu o pé para acabar com a história e com o sofrimento vitoriano. Uma espécie de golpe de misericórdia que ninguém ousava questionar (0-3).

Mas o futebol já provou ser terreno fértil para cambalhotas e golpes de teatro. Artur Soares Dias tinha também uma palavra a dizer e Marega, depois de reclamar uma primeira falta na área, pedindo castigo máximo para a entrada de Rúben Semedo, acabou por ver o árbitro conceder-lhe o privilégio de reduzir de penálti. Nada que inquietasse o “leão”, pensou-se. Afinal, a vantagem era mais do que suficiente. Uma ideia inatacável, não fosse Marega ter voltado a bater Rui Patrício, num minuto que se revelaria fatal para as aspirações dos sportinguistas.

A sorte tinha virado e o Vitória estava intratável. Pedro Martins apostava em Raphinha e o “leão” tremia. Temor prontamente confirmado por Soares, a castigar, de cabeça, na sequência de um livre, o desperdício do adversário, revogando a liderança de um Sporting inconsolável, a pensar no que acabava de acontecer.

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