Nada está perdido, longe disso. Mas há pouco para discutir quanto à sensação de o Sporting ter desperdiçado uma óptima oportunidade, ao ficar-se pelo empate a zero frente ao Steaua Bucareste, na primeira mão do play-off de acesso à fase de grupos da Liga dos Campeões. Os “leões” começaram a partida a todo o gás mas não foram capazes de finalizar as situações que iam criando — e, à medida que o tempo se esgotava, a urgência era inversamente proporcional ao discernimento da equipa de Jorge Jesus, que até jogou os últimos dez minutos em superioridade numérica mas pouco fez para incomodar o guarda-redes romeno.

Foi mais uma noite longuíssima em Alvalade, daquelas em que os minutos têm muito mais do que 60 segundos e um quarto de hora parece um ano. A impaciência e o desalento transbordaram das bancadas, até porque poucos dias antes os adeptos tinham vivido o mesmo tormento. O Sporting tinha dominado o V. Setúbal mas só conseguira marcar nos derradeiros instantes, de penálti, e frente ao Steaua assistiu-se à mesma situação. O hino da Champions tocou (e foi assobiado, como vem sendo hábito nos últimos anos) em Alvalade e desde o pontapé inicial os “leões” controlaram, imprimindo um ritmo muito elevado à partida. Gelson Martins, o mais perigoso, foi uma dor de cabeça para os romenos, remetidos à defesa e cujo único recurso atacante eram as bolas longas para o possante Alibec, encarregado de lutar contra o mundo, lá na frente.

Jorge Jesus tinha reservado uma surpresa para a partida, com Fábio Coentrão a surgir no “onze” depois de ter sido descartado pelo técnico. O lateral esquerdo é o jogador do Sporting com mais experiência na Liga dos Campeões: cumpriu a 35.ª partida na principal competição europeia de clubes, seguido por Doumbia (28) e Mathieu (27). Piccini, Battaglia, Podence e Acuña fizeram a estreia absoluta na Champions, assim como Bruno Fernandes e Iuri Medeiros na segunda parte, como suplentes utilizados.

Apesar do bom início, o Sporting teve apenas uma situação flagrante de golo na primeira parte, quando Acuña recebeu a bola de Podence e disparou cruzado, fazendo-a roçar no poste esquerdo da baliza romena (23’). Rapidamente a criatividade passou a ser um bem escasso e, mesmo a fazer pressão muito intensa, os “leões” foram praticamente inofensivos.

Estar em Alvalade era como assistir a um filme sem som e sem legendas: sem distinguir heróis ou vilões, a audiência desesperava por lances de perigo junto das balizas. O nervosismo disparou na segunda parte, quando, aparentemente, ficou por assinalar uma grande penalidade sobre Gelson Martins (64’). E o desconforto dos adeptos “leoninos” foi evidente quando Alibec descobriu Enache isolado do outro lado do campo, e este, cara a cara com Rui Patrício, rematou cruzado mas ao lado (77’).

A dez minutos do fim, acendeu-se uma réstia de esperança em Alvalade, quando o Steaua ficou reduzido a dez: Pintilii viu o segundo amarelo por falta sobre Fábio Coentrão. Mas o coração toldava o raciocínio do Sporting, que não ameaçou a baliza de Florin Nita, com excepção feita a um remate de fora da área de Bruno Fernandes. E, após Battaglia errar um passe para Gelson Martins nos derradeiros segundos, ouviu-se um suspiro colectivo nas bancadas. De braços levantados em desalento, milhares de adeptos levantaram-se do lugar em simultâneo e começaram a encaminhar-se para a saída depois de uma noite tão longa.

A eliminatória decide-se dentro de uma semana, na Roménia, onde o Sporting nunca venceu nenhuma eliminatória da UEFA nem marcou qualquer golo. Pelo meio, o Sporting vai ter uma deslocação a Guimarães, na terceira jornada da I Liga. A jogar em casa, esta época, o Steaua tem uma vitória e quatro empates (sete golos marcados e seis sofridos). Não tinha ainda chegado ao fim de um jogo (e fez oito) sem sofrer um golo. Conseguiu-o ontem, para infortúnio do Sporting.