Sobram as dúvidas, mas no desporto todos se preparam para o pior

Foto

O voto favorável à saída do Reino Unido da União Europeia terá implicações no desporto, tanto para os atletas estrangeiros que representam equipas britânicas como para os britânicos que actuam em campeonatos de outros países. Os naturais do Reino Unido perdem o estatuto de cidadãos comunitários, passando a contar como estrangeiros para as respectivas equipas, e para os clubes a desvalorização da libra tornará as transferências mais caras. O regresso da necessidade de vistos de trabalho deverá ser outra implicação do voto no referendo.

Ainda não há certezas e sobram as dúvidas, mas no desporto toda a gente se prepara para mudanças mais ou menos radicais. “Não saberemos quão significativo será o impacto [do ‘Brexit’] até termos uma ideia clara dos termos em que o Reino Unido negoceie a sua relação com a União Europeia. Se o acordo incluir liberdade de circulação, como acontece com os membros do Espaço Económico Europeu, a posição actual no que diz respeito à circulação de atletas entre o continente e o Reino Unido provavelmente vai continuar”, sublinhou o advogado Paul Shapiro ao The Guardian. “Na realidade é muito improvável que os contratos em vigor sejam afectados de imediato, porque a saída da União Europeia ainda pode demorar dois anos”, corroborou Jake Cohen, especialista em direito do desporto, ao mesmo jornal.

“As consequências do ‘Brexit’ são, por ora, difíceis de prever. Mas, sejam quais forem, não deverão ser benéficas para os atletas profissionais, enquanto trabalhadores. E talvez também o não sejam para o próprio futebol do Reino Unido”, destacou João Leal Amado, professor da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, num depoimento ao PÚBLICO. Na temporada passada, havia um total de 432 futebolistas europeus nos 20 cubes da Premier League e a grande maioria não reunia as condições para receber a necessária autorização de trabalho, de acordo com os requerimentos instituídos pela federação inglesa para os jogadores estrangeiros: obrigatoriedade de ter disputado uma determinada percentagem dos jogos da respectiva selecção, em função do lugar no ranking da FIFA, num período de 24 meses.

O “Brexit” também foi tema entre as selecções que disputam o Euro 2016. O internacional inglês Harry Kane disse que a prioridade da equipa é o torneio: “Quando nos levantámos estivemos a ver as notícias. Falámos sobre isso, mas penso que a equipa não está muito concentrada nesse assunto, para ser honesto. A prioridade é o Europeu, queremos seguir em frente e fazer uma boa exibição”, disse.

“A notícia surpreendeu-nos pela manhã. Tínhamo-nos ido deitar com a convicção que o ‘Brexit’ não venceria, mas infelizmente não foi isso que aconteceu. A maior preocupação é o ‘efeito dominó’ que esta decisão poderia causar. [A votação] é uma decepção, um sinal negativo. É sintoma de um descontentamento geral, perceptível em toda a Europa”, sublinhou o defesa italiano Chiellini. O espanhol Nolito, apontado como possível reforço do Manchester City, mostrou estar menos informado. Questionado por uma rádio do seu país sobre o “Brexit”, disse: “Posso estar enganado, mas penso que é uma dança. Uma dança que fazem na NBA.”

Sugerir correcção
Comentar