Selecção feminina portuguesa a um passo de fazer história

Portugal estará pela primeira vez na fase final de um Europeu se vencer o play-off com a Roménia. Grande investimento no futebol feminino começa a dar frutos.

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Treino da selecção feminina de Portugal
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Mónica Jorge, directora para o futebol feminino da FPF Miguel Madeira
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Treino da selecção feminina de Portugal

Aproximam-se dois jogos cruciais para a história do futebol feminino português. A selecção nacional defronta nesta sexta-feira a Roménia, no Estádio do Restelo, em Lisboa, e dia 25 de Outubro vai a Cluj decidir o desfecho do play-off de acesso ao Campeonato da Europa, a realizar-se no Verão de 2017, na Holanda. Caso as portuguesas ultrapassem as romenas, será a primeira vez que a selecção "A" feminina marca presença na fase final da prova e de uma grande competição internacional, depois das selecções de sub-17 e sub-19 já o terem conseguido, em 2013 e 2012, respectivamente [a selecção feminina de sub-19 chegou mesmo às meias-finais do Europeu].

Para já, ninguém tira às portuguesas o facto de terem completado a melhor qualificação de sempre: segundo lugar no grupo 2, que também incluia Espanha, Finlândia, República da Irlanda e Montenegro, com 13 pontos, resultado de quatro vitórias e um empate.

De uma selecção sem pergaminhos, que falhava qualificação após qualificação, Portugal está, agora, a um passo do Europeu. Esse facto é sinónimo de que algo está a mudar e isso nota-se, principalmente, desde que a nova equipa da Federação Portuguesa de Futebol, liderada por Fernando Gomes, tomou posse há quase cinco anos. A nova FPF implementou de imediato um plano estratégico e investiu a sério no futebol feminino.

"Houve bastante investimento", confirmou Mónica Jorge, directora da FPF para o futebol feminino, em conversa com o PÚBLICO. "Investimento na qualidade dos treinadores, na qualidade da formação e em criar mais competições, não só nacionais mas também distritais, para que as atletas pudessem ter um nível competitivo mais elevado", explicou. Também o plano estratégico começa a dar frutos, por exemplo, ao nível do número de praticantes. "Pela primeira vez passámos a barreira dos três mil praticantes só no futebol, coisa que anteriomente nunca foi conseguido", disse, explicando também ter havido um aumento do número de equipas nos escalões júnior e sénior.

O futebol feminino já não passa despercebido em Portugal. Alguns jogos, tanto de clubes, como da selecção, são transmitidos na televisão, com o mediatismo que daí advém a ser considerado bem-vindo, mas, talvez mais importante que isso, foi o impulso dado ao campeonato nacional, que esta época passou a contar com clubes da I Liga, o principal campeonato masculino. "Havia uma necessidade forte de termos os clubes da Liga profissional junto, ou mais próximos, do futebol feminino. Houve um convite aos 18 clubes da ILiga e quatro aceitaram: o Sporting, o Sp. Braga, o Estoril e o Belenenses. O Boavista já estava presente no campeonato [ os"axadrezados" participam há muitos anos]. São clubes com nome do ponto de vista mediático, que têm uma estrutura que pode dar boas condições às atletas", disse Mónica Jorge, para quem o balanço está a ser positivo: "Acho que está a resultar muito bem. Já temos mais adeptos, mais gente a ouvir falar do futebol feminino e da Liga feminina. Os clubes que já existiam também vão crescer com este mediatismo e vão ficar mais fortes."

"Se há melhores condições, se há mais competitividade no campeonato, isso acaba por se reflectir nas atletas e elas acabam por trazer um bocadinho desse background para a selecção nacional", disse a directora da FPF, sem nunca esquecer o trabalho dos clubes: "O sucesso das selecções nacionais não se deve só a nós, federação, ou aos nosso treinadores. Deve-se também ao trabalho que é feito nos clubes. Se esse trabalho for bom em quantidade e em qualidade, reflecte-se obviamente nas atletas e nas selecções nacionais".

As dificuldades

Mónica Jorge diz, no entanto, que "ainda há muito trabalho para fazer". Por exemplo, em Portugal, as jovens ainda encontram dificuldades para conseguirem praticar a modalidade. "Algumas dificuldades que ainda existem são a falta de condições para a prática, ou a falta de equipas no seu distrito. Uma pessoa que quer meter uma menina a jogar futebol, pode fazê-lo em equipas mistas mas depois, a partir dos 12, 13 anos, se quiser saltar para uma equipa feminina, não há, não existem", admite.

As jovens que, actualmente, sonham ser jogadoras de futebol, ainda têm de ultrapassar preconceitos, embora essa situação já tenha sido muito pior. "Já se começa a entender que esta modalidade tanto pode ser jogada por meninas, como por rapazes. Esta nova geração de pais é fantástica", elogiou a directora da FPF.

As diferenças

Mónica Jorge foi seleccionadora nacional durante cerca de quatro anos e meio [de Agosto de 2007 ao início de 2012]. Do seu tempo para o actual observa várias diferenças. "O compromisso, a responsabilidade com a modalidade, o facto de levarem as coisas mais a sério e estarem mais resistentes emocionalmente para lidarem com as diferentes dificuldades. E depois, cada vez mais aparecem jogadoras muito jovens com muita qualidade. Temos jogadoras nas selecções de sub-17 com muita qualidade e muito bem preparadas do ponto de vista táctico, coisa que há cinco, seis ou sete anos não acontecia", afirmou.

Hoje, a selecção nacional "A" feminina, tendo como base as 30 atletas chamadas por Francisco Neto durante a qualificação, é composta por jogadoras de todas as idades. Inês Silva, com 19 anos, é a mais nova. Nasceu em 1997, ano da primeira internacionalização de Edite Fernandes, a mais velha [36 anos] e a mais internacional [132 jogos na selecção principal]. A esse nível, Cláudia Neto, que marcou o golo da vitória portuguesa na República da Irlanda [que apurou Portugal para o play-off], está perto de se tornar centenária [tem 95 jogos efectuados].

Desse grupo de 30 jogadoras, 19 actuam em Portugal e 11 no estrangeiro, em países como a Alemanha, Suíça, Finlândia, Suécia, Estados Unidos, Inglaterra, Brasil e Bélgica. A selecção tem ainda três jogadoras que não nasceram em Portugal: Vanessa Marques em França, Amanda da Costa nos Estados Unidos e Suzane Pires no Brasil.

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